A oferta de um dólar australiano por ação da Billabong Int’l considerava um prémio superior a 28% face ao valor de mercado à data de 1 de dezembro, o qual já fora reduzido a menos de 10% com a incorporação da proposta no valor de mercado durante esta última semana. Sem qualquer informação privilegiada e apenas com base em dados públicos, analisemos esta operação em maior detalhe.
As marcas. A transação em si incide obviamente sobre as empresas e primariamente sobre os seus activos. Aqui inclui-se o cluster de marcas que estão tanto directa como indirectamente envolvidos. No caso das primeiras, falamos não só da Billabong como também da Element, RVCA, Von Zipper, entre outras. No plano indirecto, mais propriamente naquelas que poderão vir a ser irmãs, está a Quiksilver, Roxy e DC. Representantes e/ou agentes, trabalhadores, surfistas patrocinados, retalhistas, contrapartes e/ou parceiros de negócios em curso e simpatizantes de ambos os conglomerados, com toda a certeza, são stakeholders que irão estar atentos.
O Private Equity. A Oaktree Capital Management LP é o private equity americano que actualmente detém 19% da Billabong Int’l e 90% da Boardriders Inc. Começando por esta última, observe-se que a Oaktree foi o principal agente na promoção da solução financeira quando a Quiksilver americana (mais tarde renomeada Boardriders Inc) preencheu o ‘chapter 11’ em Setembro de 2015. Daqui saiu um plano de turnaround com horizonte temporal de 3 a 5 anos que, em primeira instância, resultou numa redução drástica da dívida mas, em segundas núpcias, considerava a fusão com a Billabong Int’l. Ora, relembre-se que esta última também passou por fases atribuladas, designadamente em Novembro de 2013, quando a estrutura de financiamento passou também a integrar a Oaktree numa operação de 571 milhões de dólares australianos (366 milhões de Euros) entre ‘equity’ e dívida, a qual tem maturidades a vencer em 2019. Temos então, de um lado um plano de reestruturação, do outro dívida a expirar, e tudo debaixo do mesmo chapéu!
Os fundamentais da indústria. É certo que a marca Billabong é forte na Austrália e fraca nos Estados Unidos. Por sua vez, é também reportado que a marca Quiksilver é mais vencedora no sentido inverno, ie, maior performance de mercado nos Estados Unidos em detrimento da Austrália. Ambas as marcas partilharam um processo de expansão mundial assente em dívida e targets financeiros por via da sua listagem em bolsas de valores com gestão para os dividendos, e onde as vendas em massa passaram a ser obrigatórias e o incremento das quotas de mercado uma visão primária de negócio. Isto tudo longe das suas bases essenciais: os valores de autenticidade, a legitimidade da cultura e lifestyle de nicho, a relevância para os seus consumidores core ou, em suma, o ‘cool’ de ser surfista. A subjugação à volatilidade dos mercados e consumo passou assim a ser uma realidade bem presente. Conhecido o enquadramento do problema em algumas vertentes, poderá estimar-se que existe também uma boa oportunidade. No mundo agora mais globalizado em termos de tipo de clientes e comportamento do comprador, a necessidade de dimensão é um imperativo de sobrevivência. Sejam concorrentes não endémicos, sejam marcas também endémicas mas com suporte empresarial generalista, a Quiksilver e Billabong, enquanto marcas líder dos conglomerados, podem ganhar força na hipótese de concretização da fusão. O cluster empresarial, após sinergias, poupanças e demais benefícios, dará lugar a uma força dominante no mercado dos desportos de acção. Uma coisa é certa, o due diligence sobre a Billabong Int’l já está em curso pelas mãos da Goldman Sachs. Outra certeza é que os 50 anos da Quiksilver a celebrar em 2019 poderão ser bem diferentes doutros momentos. Aguardemos expectantes!