Cova da Moura. Oficial da PSP não vai ser julgada por agressões

Cova da Moura. Oficial da PSP não vai ser julgada por agressões


Tribunal de Sintra decidiu ontem que não existem indícios suficientes para levar a julgamento um dos 18 elementos da polícia que estão acusados de agressões a jovens do Bairro da Cova da Moura


O Tribunal Judicial de Sintra decidiu ontem que a oficial da PSP Ana Hipólito não vai a julgamento no âmbito do processo em que vários agentes estão acusados por agressões e ofensas a jovens da Cova da Moura, em fevereiro de 2015. A juíza Ana Paula Costa considerou não ter ficado provado que a arguida presenciou as agressões ou terá tentado ocultar provas.

O Ministério Público tinha acusado 18 elementos da PSP de Alfragide, mas só Ana Carolina Hipólito decidiu pedir abertura de instrução. Na acusação do MP era referido que a oficial tinha presenciado agressões e que, “com o intuito de ocultar os vestígios de sangue que ali [na esquadra] se encontravam, em consequência das agressões cometidas sobre os ofendidos, fazendo uso de uma esfregona, limpou o chão”. Ana Hipólito estava acusada dos crimes de omissão de denúncia, da coautoria de seis crimes de sequestro agravado e de um crime de tortura ou outros tratamentos cruéis.

A oficial da PSP requereu a abertura de instrução por considerar que não podia ir a julgamento por omissão de denúncia, uma vez que nenhum dos alegados agressores era seu subordinado – pressuposto em que assenta este crime – e por não haver provas de que tivesse sido coautora dos restantes crimes nem que tão-pouco estivesse na esquadra. A juíza de instrução criminal considerou que, de facto, não existem indícios fortes de que a pessoa que limpou o chão tenha sido Ana Hipólito, ou que esta tenha sequer presenciado qualquer agressão, uma vez que alguns ofendidos referiram que se tratava da empregada da limpeza, e outros da oficial da PSP.

“As circunstâncias em que alguns dos ofendidos (…) se encontravam – manietados e deitados no chão em decúbito ventral – dificultou a observação dos seus agressores e, consequentemente, a sua perceção sensorial.” Refere ainda a magistrada que os depoimentos podem também ter sido influenciados por indicações feitas por um advogado, que não foi ouvido em tribunal.

A concluir o despacho, é referido que “a decisão em nada afeta os demais arguidos”, que se conformaram com a acusação.

Ontem, a defesa das vítimas reagiu à decisão, afirmando que “o que pretendem neste processo é a obtenção de justiça efetiva para os profissionais da PSP que não souberam honrar a sua farda e estatuto, abusaram do seu poder, motivados pelos mais básicos sentimentos de discriminação étnica e racial”. Num comunicado enviado às redações, a defesa diz mesmo que “não é objetivo das vítimas qualquer caça às bruxas, mas apurar exatamente quem praticou os atos de que vêm acusados”.

Em entrevista ao i publicada esta segunda-feira, Paulo Rodrigues, da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia, falou sobre o caso. “No caso de Alfragide, [havia] um elemento que nem estava lá – estava de folga – e [foi] constituída arguida. Porquê? Porque se enganaram na lista”, disse o dirigente. “Esses erros não são admissíveis. Depois vêm dizer que fazia parte da esquadra… Todos fazem parte da esquadra! Até a senhora da limpeza faz parte da esquadra! Como era uma mulher que foi limpar o sangue, e como a comandante da esquadra era uma mulher também, confundiram–nas e constituíram a comandante arguida, quando ela não andava de vassoura na mão nem estava na esquadra. Quando há erros destes, alguma coisa está mal.”