Panteão. António Costa também “apadrinhou” jantar quando era presidente da câmara

Panteão. António Costa também “apadrinhou” jantar quando era presidente da câmara


Jantar de encerramento da Web Summit aconteceu no Panteão Nacional. A autorização foi dada, mas Costa garante que foi a última vez


O polémico jantar de encerramento da Web Summit no Panteão foi legal, referia um comunicado ontem enviado às redações, graças a um despacho proferido pelo anterior governo. Despacho esse que o primeiro-ministro prometeu alterar “para que situações semelhantes não voltem a repetir-se, violando a história, a memória coletiva e os símbolos nacionais”. António Costa não poupou nas críticas, e classificou o jantar no Panteão Nacional como uma utilização “absolutamente indigna do respeito devido à memória dos que aí honramos”. Porém, em 2013, o próprio António Costa terá estado envolvido num evento idêntico, quando o Turismo de Lisboa ofereceu um jantar precisamente no mesmo local, para promover o fado, avançou ontem a “CMTV”. Na altura, Costa, como presidente da Câmara de Lisboa era por inerência presidente também do organismo que promoveu a iniciativa. Mais: a data do evento – realizado a 11 de setembro de 2013 – é anterior à do despacho que o primeiro-ministro apontou como “culpado” pela utilização “absolutamente indigna” daquele espaço.

Desagrado e Contradição

“I have talked to the Minister, it’s the first ever dinner here”, garantia Paddy Cosgrave, fundador da Web Summit. Mas ninguém sabe quem é o ministro com quem Paddy falou.

O jantar “Founders Summit” encerrou o evento tecnológico que juntou em Lisboa milhares de pessoas e contou com um grupo restrito escolhido pela organização. Sem que tivesse sido divulgado, constava como item da lista de eventos dos convidados, e passou a ser conhecido de todos quando alguns dos participantes partilharam nas redes sociais fotografias e vídeos das mesas postas à luz de velas no mesmo edifício onde estão os túmulos de personalidades como Amália, Eusébio, Humberto Delgado ou Sophia de Mello Breyner Andresen. Miguel Sousa Tavares, filho da escritora, foi uma das primeiras vozes críticas, ao considerar a escolha do local como “de muito mau gosto”. 

A partir daí, o desagrado foi demonstrado por diversas personalidades, políticas e não só, obrigando António Costa a tomar uma posição – que entra em clara contradição, segundo a CMTV, com a sua própria participação num evento em tudo semelhante.

Festa autorizada

De facto, o aluguer de monumentos geridos pela Direção-Geral do Património Cultural é permitido. O despacho 8356/2014, promulgado pelo então secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, prevê que o Panteão, tal como outros monumentos, possa ser alugado para eventos.

No caso do Panteão, a lista de eventos autorizados inclui banquetes, receções e atos solenes, e a verdade é que já lá aconteceram concertos, exposições, espetáculos e lançamentos de livros. Mesmo jantares, bem entendido – ao contrário do que disse o fundador da Web Summit. Também em 2013, o Panteão acolheu um jantar da empresa Dynamic & Partners e, mais recentemente, em 2016, foi palco de um jantar de gala para os trabalhadores da NAV.

O aluguer do corpo central do panteão – local onde foi servido o jantar – custa 3 mil euros, a que podem acrescer custos com o aluguer de outras salas ou com o alargamento da hora de utilização. O jantar da NAV, por exemplo, custou 6500 euros, avança o “Público”.

Desculpas e autorizações

Depois de tanta polémica, Paddy Cosgrave veio a público pedir desculpa por usar o Panteão para um jantar da Web Summit. “Pedimos desculpa por qualquer ofensa causada. Este foi um jantar organizado segundo as regras do Panteão Nacional e conduzido com respeito”, explicou. O fundador do evento tecnológico referiu ainda que na cultura irlandesa é comum celebrar–se a morte e lembrou que “o jantar mais importante da Founders realizou-se na Catedral Christ Church, em Dublin”.

Apesar da utilização de museus, palácios e monumentos nacionais, com objetivos promocionais, de divulgação cultural, filmagens e outros, estar sujeita a um regulamento aprovado em 2014, prevê-se a salvaguarda “da dignidade” destes locais e o aluguer está sujeito ao parecer da DGPC.

A autorização para a realização do evento foi dada, garante a diretora do Panteão Nacional, Isabel Melo, que ao “Público” afirma não ir demitir-se e explica que aquilo que aconteceu na sexta “foi um jantar entre outros”, e que sempre que há algum evento no corpo central, as salas onde estão os túmulos são fechadas.

Com Sebastião Bugalho