O príncipe herdeiro do trono saudita, Mohammed bin Salman, acusou hoje o Irão de ter praticado um ato de "agressão militar direta" por ter fornecido mísseis aos rebeldes iemenitas, que combatem a intervenção militar saudita no Iémen.
No sábado, um míssil balístico foi intercetado sob o espaço aéreo da capital saudita, Ríade. A imprensa saudita relatou que as defesas anti-míssil sauditas conseguiram intercetar o míssil em pleno voo, mas que alguns bocados do armamento caíram dentro da zona do aeroporto. Não foram relatadas quaisquer vítimas.
"Foi um míssil iraniano, lançado pelo Hezbollah em território ocupado pelos Houthis no Iémen", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros saudita, Adel al-Jubeir, ao canal televisivo norte-americano CNN. O ministro acrescentou ainda que o míssil lançado era similar a um outro míssil abatido em julho, também ele fornecido pelo Irão.
O Irão, pela voz do ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Javad Zarif, negou ter fornecido armamento ao movimento Houthi, que combate os sauditas no Iémen, e afirmou que as "guerras de agressão" e de "bullying regional" da Arábia Saudita estão a ameaçar o Médio Oriente.
Em resposta ao recente ataque balístico, a coligação internacional anunciou o encerramento "temporário" de todas as entradas marítimas, terrestes e aéreas do Iémen, permitindo, ainda assim, a entrada de assistência humanitária, mesmo que sob estrita vigilância.
Rivalidade regional
A Arábia Saudita e o Irão há muito que são potências regionais rivais no Médio Oriente, em que a religião tem uma forte palavra a dizer. Ríade defende o Islão sunita e o Irão o xiita, para além do primeiro ser um dos principais aliados dos Estados Unidos na região e o segundo um forte opositor.
Em 2014, o Iémen, que possui uma localização estratégica no sul da Península Arábica, foi confrontado com a sublevação dos houthis, que são xiitas. Entraram na capital iemenita, Sanaá, colocando em causa o regime. A partir desse momento, a Arábia Saudita formou, em março de 2015, uma coligação internacional por si liderada para combater os houthis, o que, por sua vez, levou o Irão a apoiá-los. Este conflito é mais uma disputa pela hegemonia regional, ao mesmo tempo que tem contornos regiliosos.
Desde o início dos confrontos armados que mais de oito mil pessoas já morreram, das quais 60% eram civis, enquanto cerca de 50 mil pessoas ficaram feridas na sequências dos bombardeamentos e dos combates no solo. O conflito também deixou cerca de 27 milhões de pessoas a precisarem de assistência humanitária, criando a maior emergência alimentar do mundo e um surto de cólera que se acredita ter já afetado mais de 900 mil pessoas e causado 2191 mortes.