O que deve fazer o PSD


O PSD tem de privilegiar desde já uma parceria com o CDS e, eventualmente, com movimentos da sociedade civil para a obtenção de uma maioria absoluta de centro-direita


Na aparência, António Costa soma e segue em vitórias políticas. Depois da enorme vitória que teve nas autárquicas, acaba de conseguir a aprovação na generalidade do seu Orçamento do Estado, o que teoricamente lhe permitirá cumprir a legislatura. Mas a verdade é que o estado de graça do seu governo acabou. Os incêndios deixaram marcas profundas que afectaram até a habitual complacência de Marcelo em relação ao governo. O PCP compreendeu que o apoio que está a dar ao PS é mortal para a sua própria subsistência, pelo que reforçará as greves e acções de protesto. E tanto no país como no estrangeiro olha-se para este governo com cada vez mais desconfiança, achando-se que se preocupa mais com a satisfação das suas clientelas do que em colocar o país no rumo certo.

António Costa teve uma oportunidade excelente para dar um novo fôlego ao seu governo, fazendo uma profunda remodelação, com rostos novos e credíveis. Como teve de fazer a remodelação à pressa, pressionado pelo discurso de Marcelo que demitiu a sua ministra da Administração Interna em directo, a remodelação acabou por ser um flop, feita apenas com recurso ao seu círculo de amigos mais próximo. Isto independentemente de Eduardo Cabrita ser muito melhor ministro da Administração Interna do que Constança Urbano de Sousa, o que também não seria difícil.

Perante esta situação, o centro-direita tem de arranjar rapidamente uma alternativa de governo o que, reconheça-se, até agora ainda não existiu. Durante imenso tempo, o PSD continuou a insistir na ilegitimidade da geringonça, o que paralisou a sua acção política, deixando espaço livre para a afirmação do CDS. Por isso, o PSD tem de arranjar rapidamente uma alternativa de governo. E, nesse âmbito, há que reconhecer-se que o melhor candidato é Rui Rio, sabendo-se bem que a maior parte dos portugueses não tem boas recordações da experiência governativa de Santana Lopes. Aliás, também não tem boas recordações do governo de Passos Coelho, cujos apoiantes estão em peso com Santana Lopes. Por isso, essa alternativa de governo tem de ser muito diferente das experiências governativas anteriores.

Essa alternativa de governo tem de passar necessariamente pela obtenção de uma maioria no parlamento. Que não haja ilusões. O que a experiência da geringonça demonstrou é que nunca mais um partido de centro-direita minoritário voltará a ser governo em Portugal, uma vez que toda a esquerda se unirá para o derrubar. Aqueles que no PSD sonham com o bloco central, ou mesmo com acordos com o PS, assistirão espantados a que o PS volte a cair nos braços da extrema-esquerda. Por isso, o PSD tem de privilegiar desde já uma parceria com o CDS e, eventualmente, com movimentos da sociedade civil para a obtenção de uma maioria absoluta de centro-direita, colocando a fasquia da vitória nesse resultado. Logo que as eleições internas estejam resolvidas, o PSD e o CDS devem, por isso, negociar uma coligação e um programa de governo conjunto, apresentando-se ao eleitorado em listas conjuntas. Foi isso que fizeram Sá Carneiro e Freitas do Amaral em 1979, sendo este o momento ideal para repetir a experiência.

 

Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Escreve à terça-feira, sem adopção

das regras do acordo ortográfico de 1990