Costa & Cia. Lda.


É mau sinal sempre que um primeiro-ministro restringe escolhas políticas a amigos ou grupos definidos, como está a suceder.


1) A moção de censura do CDS ao governo que o parlamento rejeitou não fortaleceu o executivo porque a fragilidade de António Costa não está nos corredores de S. Bento, mas na alma e na mágoa profunda da população, especialmente a do interior, depois da monumental demonstração de incompetência que foi a gestão dos fogos de verão, que causaram a perda de 109 vidas humanas.

É óbvio, porém, que à desconfiança no governo não vai corresponder uma transferência de avaliação positiva para qualquer partido de oposição ou da coligação (in)formal que o sustenta, porque o país está farto de demagogia. Tem valido aos portugueses, em termos de referência, o Presidente Marcelo, que finalmente foi capaz de dar um murro na mesa e teve a coragem de ir junto dos que mais sofrem no interior de um Portugal devastado e esquecido, abraçando e reconfortando. Foi esse Presidente de que todos precisávamos que Marcelo soube ser, esperando-se que agora mantenha maiores padrões de exigência e de controlo em relação ao governo. É fundamental que Marcelo não volte ao elogio imediato, como repetiu agora, logo após as decisões do conselho de ministros extraordinário. Mais valia esperar pela efetiva aplicação no terreno e pelo desenho concreto das medidas, e do que elas implicam em termos práticos de terreno e também no Orçamento do Estado (OE), uma vez que a proposta entregue na Assembleia da República ficou totalmente desatualizada. Aparentemente, vão ser acomodados no OE 300 milhões de euros para minorar as tragédias do verão. Trezentos milhões podem parecer muito, mas são certamente pouco para o que se precisa. E, sobretudo, não são nada quando comparados com os 6 mil milhões do BPN, os 5 mil milhões do BES (para primeiras impressões), os 3 mil milhões do Banif e os 2 mil milhões da Caixa.

O Portugal verdadeiro é mais o do seu interior pobre, sem meios, isolado e cheio de gente triste do que o do litoral e urbano, relativamente despreocupado, que felizmente os turistas procuram permitindo o crescimento atual, que não se pode perder, e onde se concentram a maioria das atividades económicas, embora aqui também existam bolsas de pobreza muitas vezes envergonhada.

As medidas extraordinárias que o governo adotou tardiamente poderão remediar qualquer coisa no futuro, mas não apagam o passado e sobretudo a incompetência que se acentuou depois de Pedrógão, sem que houvesse a intervenção efetiva de alguém capaz de evitar as tragédias que vivemos.

2) A remodelada equipa de Costa já não é propriamente um governo de Portugal no sentido institucional do termo. Parece mais um grupo de amigos ou uma companhia feita por familiares. Ora sucede que sempre que um primeiro-ministro entrou pela via das amizades para colmatar problemas políticos, as coisas tenderam a complicar-se quando apareceram divergências perante as quais a circunstância da amizade faz, às vezes, esquecer a relação institucional. É o nosso tradicional nacional-porreirismo. Um caso ou outro de proximidade política e pessoal admite-se, mas situações do tipo “jantar do Porto Ferreira” nunca dão certo.

António Costa, já se viu, é especialmente permeável às amizades políticas, aos fiéis seguidores (mesmo que o tenham sido também de Sócrates, por exemplo) ou a certas corporações instaladas, como se tem visto com a diplomacia e com gente que passou por Macau, restringindo a qualidade de recrutamento. A escolha afunilada está-lhe no ADN desde sempre e agora agravou-se. 

Aliás, em bom rigor, depois de tudo o que se passou e para objetivamente mostrar que tem força e apoios, António Costa deveria apresentar no parlamento uma moção de confiança para provar inequivocamente que o Bloco, PCP e Verdes sustentam de forma efetiva e permanente o governo, não se limitando a apoiar para retirar benefícios para as suas clientelas

No entanto, Costa não o fará porque sabe melhor do que ninguém que apresentar uma moção dessas seria mortal para a popularidade dos seus parceiros. Por isso, guarda essa arma para o dia em que eles esticarem demais a corda e ele quiser romper, confrontando-os com a pergunta se preferem o PS ou a direita.

3) No fim de semana saíram para as ruas algumas centenas de manifestantes em protesto contra o desleixo que permitiu chegar ao ponto de perdermos 109 vidas humanas, milhares de animais, milhares de hectares de floresta, centenas de casas, dezenas de indústrias e muitos postos de trabalho nos fogos de verão. Foi gente diferente da que habitualmente se manifesta que respondeu a uma convocatória feita pelas redes sociais. Tratou-se de um movimento inorgânico que dizia rejeitar os partidos tradicionais. O que vimos tanto pode ser um movimento cívico bem–intencionado e necessário como o embrião de um populismo perigoso à moda de André Ventura. 

Jornalista


Costa & Cia. Lda.


É mau sinal sempre que um primeiro-ministro restringe escolhas políticas a amigos ou grupos definidos, como está a suceder.


1) A moção de censura do CDS ao governo que o parlamento rejeitou não fortaleceu o executivo porque a fragilidade de António Costa não está nos corredores de S. Bento, mas na alma e na mágoa profunda da população, especialmente a do interior, depois da monumental demonstração de incompetência que foi a gestão dos fogos de verão, que causaram a perda de 109 vidas humanas.

É óbvio, porém, que à desconfiança no governo não vai corresponder uma transferência de avaliação positiva para qualquer partido de oposição ou da coligação (in)formal que o sustenta, porque o país está farto de demagogia. Tem valido aos portugueses, em termos de referência, o Presidente Marcelo, que finalmente foi capaz de dar um murro na mesa e teve a coragem de ir junto dos que mais sofrem no interior de um Portugal devastado e esquecido, abraçando e reconfortando. Foi esse Presidente de que todos precisávamos que Marcelo soube ser, esperando-se que agora mantenha maiores padrões de exigência e de controlo em relação ao governo. É fundamental que Marcelo não volte ao elogio imediato, como repetiu agora, logo após as decisões do conselho de ministros extraordinário. Mais valia esperar pela efetiva aplicação no terreno e pelo desenho concreto das medidas, e do que elas implicam em termos práticos de terreno e também no Orçamento do Estado (OE), uma vez que a proposta entregue na Assembleia da República ficou totalmente desatualizada. Aparentemente, vão ser acomodados no OE 300 milhões de euros para minorar as tragédias do verão. Trezentos milhões podem parecer muito, mas são certamente pouco para o que se precisa. E, sobretudo, não são nada quando comparados com os 6 mil milhões do BPN, os 5 mil milhões do BES (para primeiras impressões), os 3 mil milhões do Banif e os 2 mil milhões da Caixa.

O Portugal verdadeiro é mais o do seu interior pobre, sem meios, isolado e cheio de gente triste do que o do litoral e urbano, relativamente despreocupado, que felizmente os turistas procuram permitindo o crescimento atual, que não se pode perder, e onde se concentram a maioria das atividades económicas, embora aqui também existam bolsas de pobreza muitas vezes envergonhada.

As medidas extraordinárias que o governo adotou tardiamente poderão remediar qualquer coisa no futuro, mas não apagam o passado e sobretudo a incompetência que se acentuou depois de Pedrógão, sem que houvesse a intervenção efetiva de alguém capaz de evitar as tragédias que vivemos.

2) A remodelada equipa de Costa já não é propriamente um governo de Portugal no sentido institucional do termo. Parece mais um grupo de amigos ou uma companhia feita por familiares. Ora sucede que sempre que um primeiro-ministro entrou pela via das amizades para colmatar problemas políticos, as coisas tenderam a complicar-se quando apareceram divergências perante as quais a circunstância da amizade faz, às vezes, esquecer a relação institucional. É o nosso tradicional nacional-porreirismo. Um caso ou outro de proximidade política e pessoal admite-se, mas situações do tipo “jantar do Porto Ferreira” nunca dão certo.

António Costa, já se viu, é especialmente permeável às amizades políticas, aos fiéis seguidores (mesmo que o tenham sido também de Sócrates, por exemplo) ou a certas corporações instaladas, como se tem visto com a diplomacia e com gente que passou por Macau, restringindo a qualidade de recrutamento. A escolha afunilada está-lhe no ADN desde sempre e agora agravou-se. 

Aliás, em bom rigor, depois de tudo o que se passou e para objetivamente mostrar que tem força e apoios, António Costa deveria apresentar no parlamento uma moção de confiança para provar inequivocamente que o Bloco, PCP e Verdes sustentam de forma efetiva e permanente o governo, não se limitando a apoiar para retirar benefícios para as suas clientelas

No entanto, Costa não o fará porque sabe melhor do que ninguém que apresentar uma moção dessas seria mortal para a popularidade dos seus parceiros. Por isso, guarda essa arma para o dia em que eles esticarem demais a corda e ele quiser romper, confrontando-os com a pergunta se preferem o PS ou a direita.

3) No fim de semana saíram para as ruas algumas centenas de manifestantes em protesto contra o desleixo que permitiu chegar ao ponto de perdermos 109 vidas humanas, milhares de animais, milhares de hectares de floresta, centenas de casas, dezenas de indústrias e muitos postos de trabalho nos fogos de verão. Foi gente diferente da que habitualmente se manifesta que respondeu a uma convocatória feita pelas redes sociais. Tratou-se de um movimento inorgânico que dizia rejeitar os partidos tradicionais. O que vimos tanto pode ser um movimento cívico bem–intencionado e necessário como o embrião de um populismo perigoso à moda de André Ventura. 

Jornalista