Chega de amadorismo e de jobs for the boys


Portugal é a desgraça que se sabe em termos de incêndios. Ano após ano registamos a maior área ardida da Europa e com mais danos.


Portugal é a desgraça que se sabe em termos de incêndios. Ano após ano registamos a maior área ardida da Europa e com mais danos. Nos últimos quatro meses morreram mais de 100 pessoas, o que agravou e muito o cenário já de si desolador. Enquanto os políticos, ao longo de décadas, foram discutindo nos corredores sobre o fenómeno, muitos técnicos foram dizendo que quase tudo estava mal. Mas como vivemos num país em que a cunha é uma instituição nacional, os sucessivos governos foram despejando nos ministérios os seus boys for the jobs. Com isto, nunca se olhou para o fenómeno com olhos de ver. Foi preciso morrerem mais de 100 pessoas para finalmente se chamar quem de direito para fazer o filme completo do que é preciso mudar para que não se repitam as tragédias. Nesta edição entrevistámos Emanuel Oliveira – analista de fogo que trabalha para empresas espanholas, procurando antecipar os problemas dos incêndios –, que faz um belo retrato das diferenças entre o país vizinho e Portugal. Espanha passou pelas mesmas condições climatéricas do passado fim de semana e lá só arderam 7 mil hectares, muito longe dos mais de 200 mil por cá.

Não é assim tão difícil ouvir o que personagens como Emanuel Oliveira ou Domingos Xavier Viegas, entre tantos outros, têm para dizer para se evitarem tragédias como a de Pedrógão ou as do passado fim de semana. 
Os políticos bem podem entreter-se a acusarem-se uns aos outros, mas chegou a hora de dizer basta e de os processos passarem a ser transparentes, acabando com os jobs for the boys e recrutando os profissionais. Já se percebeu que a atual estrutura está obsoleta e o profissionalismo tem de ser uma realidade. Que sentido faz, como diz Emanuel Oliveira, um bombeiro de cidade que anda durante nove meses do ano a transportar doentes para os hospitais ir nos outros três para a frente dos fogos?

P. S. Os portugueses “escaldados” com Pedrógão deixaram de dar dinheiro para as vítimas dos incêndios e preferem levar ajuda em mãos. Porque será?