Aconteceu por estes dias, na Praia do Guincho em Cascais, a 5.ª edição do evento que combina etapas do mundial de elite no feminino e do mundial de qualificação no masculino. A meio de Outubro, Peniche receberá a 9.ª edição da etapa portuguesa do mundial de elite masculino. A lista de eventos de primeira linha do surf mundial inclui ainda destinos como Nazaré, Açores, Caparica, Torres Vedras e Espinho, entre provas do circuito mundial das ondas grandes, de qualificação ou dedicadas aos mais novos (até 18 anos). Já tivemos até a etapa final e decisiva do mundial júnior na Ericeira, por duas vezes. Ou caminhando um pouco mais para trás, relembrem-se as festas do surf na Figueira da Foz ou em Sintra. São tudo provas debaixo da tutela da World Surf League e podemos orgulhar-nos de sermos um dos principais países do mundo – em rigor somos o terceiro – ao nível de importância no calendário do surf mundial.
É fundamental debater o crescimento desenfreado de provas mundiais em número e espaço no calendário desportivo nacional. Mas isso fica para outra ocasião, porque com tanto anos decorridos de organização de provas internacionais, vale a pena olhar para alguns factos desportivos de grande relevância para o surf português.
Mundial de surf júnior. Tivemos duas edições (2014 & 2015) na Ericeira da prova que define o campeão do mundo dos mais novos. Se, por um lado, foi possível ter o maior contingente de sempre de portugueses em competição nesta prova, por outro, a experiência e conhecimento local de Ribeira D’Ilhas foram determinantes para os resultados alcançados. Teresa Bonvalot ainda muito nova termina em 5.º lugar, Tomás Fernandes em 3.º e Vasco Ribeiro sagra-se campeão do mundo júnior, um feito inédito para o surf português.
Mundiais de qualificação. Portugal conta com o espectro completo na divisão de qualificação. O foco deve estar nas provas que dão mais pontos e as etapas portuguesas contribuíram decisivamente para que o contingente nacional aumentasse para um máximo de 8 surfistas (em 2015) na oficiosamente considerada 2.ª divisão mundial, leia-se aqui, o top 100 do circuito de qualificação.
Mundial de elite. Peniche tem sido um campo de experiência e evolução para os vários surfistas portugueses que já gozaram da experiência de serem wildcards. 2015 terá sido certamente a edição mais interessante, já que Vasco Ribeiro e Frederico Morais formaram uma dupla dinâmica que impressionou o mundo. O primeiro terminou em 3.º lugar, o segundo em 5.º lugar. O mundo nunca mais se esqueceu de seus nomes. Ambos vão estar novamente lado a lado lá para Outubro.
Mundial de ondas grandes. Com apenas uma edição realizada na Nazaré no final de 2016, João Macedo e António Silva chegaram à final. O primeiro garantiu o seu lugar no circuito de 2017, sendo que o segundo foi posteriormente convidado, a quem também já se juntou Alex Botelho.
Podia continuar com outros exemplos, mas o facto importante a ressalvar é que, depois dos anos de conquistas solitárias de Tiago Pires, Portugal inscreveu-se definitivamente na história do surf mundial desde 2009. As páginas já escritas são algumas, mas outras mais virão, dando seguimento ao rumo sólido do surf português dos tempos recentes.
Uma coisa é certa. Os surfistas portugueses devem aclamar aqueles que empreenderam para que esta estrutura organizativa fosse possível. Se é verdade que os sucessos das suas carreiras nascem exclusivamente do seu esforço pessoal e planos de treinos intensivos, também devem aqui contabilizar que os palcos de excelência do panorama competitivo mundial à porta das suas casas trouxeram externalidades catalisadoras que muitas outras nações do surf gostariam de ter. Aguardemos por mais e melhores resultados. Em português, claro.