Na mitologia política nacional, a expressão pertence a Aníbal Cavaco Siva quando, em 1991, atravessou o país a proclamar o ‘seu’ ‘Portugal de sucesso’. Foi o slogan que levou Cavaco a repetir a maioria absoluta: a economia crescia, havia mais dinheiro, Portugal tinha vencido o campeonato do mundo de futebol juvenil.
O PS entretanto recuperou a frase cavaquista. Em maio, os deputados socialistas promoveram umas jornadas parlamentares sob o lema «Portugal melhor – Portugal de sucesso».
E o que anda António Costa a fazer desde que na pré-campanha para as autárquicas foi para a estrada? A promover o dito ‘Portugal de sucesso’.
É verdade que Costa tem razões para isso – de resto, como Cavaco Silva tinha em 1991. À boa imagem do Governo revelada pelas sondagens e pela paz nas ruas, o PS tem muito para festejar e tentar transformar em votos autárquicos: a subida do rating de Portugal pela Standard & Poor’s, a descida da taxa de desemprego, as notícias ontem conhecidas do crescimento revisto em alta para 3% e da descida do défice para 1,9%, etc.. Tudo se está a conjugar para que o secretário-geral socialista passe por estas autárquicas abençoado pelos deuses responsáveis pelas áreas da economia, finanças e popularidade em geral. A possibilidade da tradução desses elementos em votos é elevada, já sabemos.
De resto, o que António Costa expressamente está a pôr a votos são as políticas de Governo. Estas autárquicas servem ao secretário-geral do PS e primeiro-ministro como legitimação acrescida, depois de ter ficado em segundo lugar, em votos e deputados, nas legislativas de outubro de 2015.
A mensagem é clara e tem sido repetida um pouco por todo o país. «É fundamental que no próximo dia 1 de outubro as portuguesas e os portugueses dêem força ao PS para darmos continuidade a esta política dos últimos anos», disse no dia 16 em Lamego.
Em Viseu, no dia seguinte, o tom autocongratulatório relativamente ao seu ‘Portugal de sucesso’ repetiu-se: «É fundamental darmos continuidade a esta política. Esta política tem combinado a preocupação central na melhoria das condições de vida das pessoas, mas que não deixa de dar atenção ao rigor na consolidação orçamental para que não voltemos a correr nenhum risco e tudo aquilo que ganhámos nestes dois anos seja de novo perdido e não haja de novo um retrocesso como aconteceria se a direita voltasse a ganhar as eleições». Quem vai decididamente a votos é o PS de Costa, por interpostos autarcas.
E qual será uma vitória para António Costa? Ultrapassar os 36,25% dos votos – total nacional – que António José Seguro conseguiu em 2013, naquela que foi na época já considerada uma vitória histórica do PS em autárquicas. Mais concretamente: ter mais do que os 1.812.029 votos conquistados por António José Seguro. Se isso acontecer, António Costa pode finalmente ultrapassar o trauma de ter perdido as eleições para Pedro Passos Coelho, ainda que tenha conseguido formar Governo com o apoio do PCP e do Bloco de Esquerda.
Na semana terrível de Fernando Medina – que culminou na sexta-feira da semana passada, com um comício na FIL – António Costa esteve presente. Medina é o homem que Costa escolheu para sucessor na Câmara de Lisboa – e fazê-lo, disse Costa nesse comício, «foi das melhores decisões» políticas que já tomou. «Hoje estamos num novo tempo, e esse tempo é o de Fernando Medina», afirmou o secretário-geral dos socialistas.
Mas se já seria difícil para Fernando Medina conseguir o resultado que António Costa atingiu em 2013 – maioria absoluta com 51 por cento dos votos – a polémica da compra do apartamento seguramente não ajudará. Obviamente que a fragilidade da direita torna a vitória do PS praticamente certa, apesar das dúvidas instaladas sobre o apartamento. Falta saber por quantos.
Ninguém põe em causa a vitória do PS em Lisboa, mas o surpreendente foi uma sondagem, a da Universidade Católica, ter vindo colocar a hipótese de uma vitória socialista no Porto.
Depois do dramalhão ocorrido quando Rui Moreira rejeitou o apoio do PS e do avanço inesperado de Manuel Pizarro, a sondagem vem colocar em cima da mesa a possibilidade de estar tudo em aberto. Pizarro é um homem conhecido no Porto, tem feito valer a sua obra, e o ‘Portugal de sucesso’, ao fim de contas, também vai a votos na capital do Norte.