Porque votamos?


Deixem-me contar-vos uma história. Deixem-me contar-vos uma história de amor e crença. Deixem-me contar-vos uma história de entrega e devoção. Deixem-me contar-vos uma história. Caminho pela rua e os cartazes anunciam-me a realidade em chavões feitos de frases encomendadas a um qualquer livro de auto-ajuda. A cada quatro anos é a mesma lengalenga, o mesmo…


Deixem-me contar-vos uma história. Deixem-me contar-vos uma história de amor e crença. Deixem-me contar-vos uma história de entrega e devoção. Deixem-me contar-vos uma história.

Caminho pela rua e os cartazes anunciam-me a realidade em chavões feitos de frases encomendadas a um qualquer livro de auto-ajuda. A cada quatro anos é a mesma lengalenga, o mesmo faz de conta, o mesmo teatro de intenções por cumprir. E engole-se tudo sem se fazer perguntas de maior, ouve-se sem se escutar, olha-se sem se ver, respira-se o ar com o suave odor da mentira por aí.

Deixem-me contar-vos uma história.

Vou começar com um proverbial “era uma vez” para ganhar uma certa distância de afectos e responsabilidades acerca do que vou escrever.

Aqui vai.

Era uma vez a Márcia. A Márcia vivia numa cidade à beira-mar plantada assim à moda do país, uma cidade pequena como tantas outras por essa costa que nos define enquanto terra, enquanto gente. A Márcia tinha este hábito chato de fazer perguntas sobre o que a rodeava, sobre o que achava que não corria de feição, sobre o que poderia melhorar. A Márcia deu um passo em frente e tomou uma posição, um vinco de querer e de agir. A Márcia não sabia o que ia acontecer mas possuía aquele formigueiro refrescante da alma de olhar o túnel e encurtar distâncias para a luz lá ao fundo.

Deixem-me contar-vos uma história.

A Márcia não vive no passado, num conto de carochinhas, fadas e piratas com tesouros para esconder. A Márcia vive no aqui e agora, e esta história conta-se no presente.

Deixem-me contar-vos uma história.

A Márcia é. A Márcia resiste a ser algo igual aos demais. A Márcia tem em si o indomável sentido da resistência. A Márcia carrega o peso de bater de frente contra o que teima em mudar mesmo que para isso hipoteque a carreira de uma vida.

Há uma campanha nas ruas, uma não, tantas, dezenas, centenas. Pessoas a prometerem o Céu para os quatro anos vindouros. Cartazes, outdoors, comícios, jantares, concertos, altifalantes aos berros a gritar ao vento um futuro melhor.

A Márcia também está em campanha, candidatou-se na independência cívica e tantas vezes solitária para a Câmara Municipal desta cidade à beira mar plantada. A Márcia é o David a gladiar o Golias. A Márcia é o jogador amador que acabou de chegar à primeira divisão, ao mundo do espectáculo da retórica e das jogatanas de bastidores, ao faz de conta que está tudo bem.

A Márcia agarra na bola e coloca-a no meio campo para jogar o jogo pelo jogo porque a Márcia não tem medo, não tem medo, não tem medo. O Golias bem tenta amordaçar a vontade da Márcia para que ela volte para a grande sombra da multidão mas é inútil, já percebeu que há gente que não recua, que não desiste, que não diz sim só porque o sim é o cinzento consensual de um ciclo que se perpetua. A Márcia gosta de dizer não.

Deixem-me contar-vos uma história.

A Márcia vai a votos no dia 1 de Outubro. Ninguém a pode parar, ninguém.

Os carros estão na rua, as armas estão contadas e as vontades prontas a disparar. Para quê? Para construir um país mais justo e equilibrado. Cidade por cidade. A Márcia tinha de começar por algum lado não concordam?

Pensem um pouco, aí sentados no café ou em casa enquanto passam a vista por estas palavras. Há um medo que nos rodeia, uma falsa sensação de esperança um mais do mesmo que se prolonga no tempo. Ano após ano.

Diz-me, qual a primeira coisa que te vem à cabeça quando pensas num profissional das lides políticas. Que é uma pessoa honrada, justa e honesta? Pois… Eu também não. E a Márcia tão pouco.

O bom da coisa é que ainda há tantas Márcias por aí, dispostas a fazer a diferença, dispostas arriscar uma jogada de amor, dispostas a acreditar, e fazer por isso, e estar, e pensar, e agir.

Deixem-me contar-vos uma história.

Já dizia Voltaire “Para saber quem te governa basta descobrires quem não te é permitido criticar”.

A Márcia já descobriu. E a Márcia vai a votos. Para mirar com a funda a cabeça do Golias.

Porque votamos? Foi isto que perguntei no início não foi? Não sei, eu falo por mim, voto para abanar a fundação do que está entranhado, voto porque acredito, voto porque não tenho medo de jogar com os profissionais.

E tu? Pensa nisso. A Márcia lidera a carga da brigada ligeira e o vento pode trazer o agradável sabor da vitória mesmo antes do apito final.

Sai do café e pensa nisso.

 

João Pedro Santos

Escritor e Humorista

 


Porque votamos?


Deixem-me contar-vos uma história. Deixem-me contar-vos uma história de amor e crença. Deixem-me contar-vos uma história de entrega e devoção. Deixem-me contar-vos uma história. Caminho pela rua e os cartazes anunciam-me a realidade em chavões feitos de frases encomendadas a um qualquer livro de auto-ajuda. A cada quatro anos é a mesma lengalenga, o mesmo…


Deixem-me contar-vos uma história. Deixem-me contar-vos uma história de amor e crença. Deixem-me contar-vos uma história de entrega e devoção. Deixem-me contar-vos uma história.

Caminho pela rua e os cartazes anunciam-me a realidade em chavões feitos de frases encomendadas a um qualquer livro de auto-ajuda. A cada quatro anos é a mesma lengalenga, o mesmo faz de conta, o mesmo teatro de intenções por cumprir. E engole-se tudo sem se fazer perguntas de maior, ouve-se sem se escutar, olha-se sem se ver, respira-se o ar com o suave odor da mentira por aí.

Deixem-me contar-vos uma história.

Vou começar com um proverbial “era uma vez” para ganhar uma certa distância de afectos e responsabilidades acerca do que vou escrever.

Aqui vai.

Era uma vez a Márcia. A Márcia vivia numa cidade à beira-mar plantada assim à moda do país, uma cidade pequena como tantas outras por essa costa que nos define enquanto terra, enquanto gente. A Márcia tinha este hábito chato de fazer perguntas sobre o que a rodeava, sobre o que achava que não corria de feição, sobre o que poderia melhorar. A Márcia deu um passo em frente e tomou uma posição, um vinco de querer e de agir. A Márcia não sabia o que ia acontecer mas possuía aquele formigueiro refrescante da alma de olhar o túnel e encurtar distâncias para a luz lá ao fundo.

Deixem-me contar-vos uma história.

A Márcia não vive no passado, num conto de carochinhas, fadas e piratas com tesouros para esconder. A Márcia vive no aqui e agora, e esta história conta-se no presente.

Deixem-me contar-vos uma história.

A Márcia é. A Márcia resiste a ser algo igual aos demais. A Márcia tem em si o indomável sentido da resistência. A Márcia carrega o peso de bater de frente contra o que teima em mudar mesmo que para isso hipoteque a carreira de uma vida.

Há uma campanha nas ruas, uma não, tantas, dezenas, centenas. Pessoas a prometerem o Céu para os quatro anos vindouros. Cartazes, outdoors, comícios, jantares, concertos, altifalantes aos berros a gritar ao vento um futuro melhor.

A Márcia também está em campanha, candidatou-se na independência cívica e tantas vezes solitária para a Câmara Municipal desta cidade à beira mar plantada. A Márcia é o David a gladiar o Golias. A Márcia é o jogador amador que acabou de chegar à primeira divisão, ao mundo do espectáculo da retórica e das jogatanas de bastidores, ao faz de conta que está tudo bem.

A Márcia agarra na bola e coloca-a no meio campo para jogar o jogo pelo jogo porque a Márcia não tem medo, não tem medo, não tem medo. O Golias bem tenta amordaçar a vontade da Márcia para que ela volte para a grande sombra da multidão mas é inútil, já percebeu que há gente que não recua, que não desiste, que não diz sim só porque o sim é o cinzento consensual de um ciclo que se perpetua. A Márcia gosta de dizer não.

Deixem-me contar-vos uma história.

A Márcia vai a votos no dia 1 de Outubro. Ninguém a pode parar, ninguém.

Os carros estão na rua, as armas estão contadas e as vontades prontas a disparar. Para quê? Para construir um país mais justo e equilibrado. Cidade por cidade. A Márcia tinha de começar por algum lado não concordam?

Pensem um pouco, aí sentados no café ou em casa enquanto passam a vista por estas palavras. Há um medo que nos rodeia, uma falsa sensação de esperança um mais do mesmo que se prolonga no tempo. Ano após ano.

Diz-me, qual a primeira coisa que te vem à cabeça quando pensas num profissional das lides políticas. Que é uma pessoa honrada, justa e honesta? Pois… Eu também não. E a Márcia tão pouco.

O bom da coisa é que ainda há tantas Márcias por aí, dispostas a fazer a diferença, dispostas arriscar uma jogada de amor, dispostas a acreditar, e fazer por isso, e estar, e pensar, e agir.

Deixem-me contar-vos uma história.

Já dizia Voltaire “Para saber quem te governa basta descobrires quem não te é permitido criticar”.

A Márcia já descobriu. E a Márcia vai a votos. Para mirar com a funda a cabeça do Golias.

Porque votamos? Foi isto que perguntei no início não foi? Não sei, eu falo por mim, voto para abanar a fundação do que está entranhado, voto porque acredito, voto porque não tenho medo de jogar com os profissionais.

E tu? Pensa nisso. A Márcia lidera a carga da brigada ligeira e o vento pode trazer o agradável sabor da vitória mesmo antes do apito final.

Sai do café e pensa nisso.

 

João Pedro Santos

Escritor e Humorista