Pais querem mais tempo para acompanhar filhos com cancro

Pais querem mais tempo para acompanhar filhos com cancro


Inquérito da Associação Acreditar revela que, depois do diagnóstico, as despesas mensais das famílias aumentam, em média, 254€


Os resultados do inquérito nacional sobre Direito das Famílias em Oncologia Pediátrica, realizado pela Associação Acreditar, vão ser apresentados esta terça-feira na Assembleia da República. O estudo reúne respostas de 419 famílias – pai, mãe e cuidador –, e revela preocupações com a segurança social, a escolaridade e a saúde. Com a chegada da doença, aumentam em muito as despesas das famílias, enquanto os rendimentos acabam por diminuir para os pais poderem acompanhar as crianças e jovens ao longo do tratamento.

Os resultados vão ser hoje divulgados  na íntegra numa sessão que acontecerá pelas 17h30 no Salão Nobre da Assembleia da República, mas a Acreditar – Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro – antecipou um conjunto de conclusões mais relevantes.

Entre as principais dificuldades das famílias está o impacto financeiro da doença: o inquérito revela que, depois do diagnóstico, os encargos mensais aumentam, em média, 254€ (3.048€ por ano). Entre as despesas que mais sobem estão a medicação e a alimentação.

Este acréscimo de despesas não é acompanhado por um aumento de receitas. Os rendimentos das família sofrem em média uma quebra mensal de de 285€ mensais (3.420€ por ano), devido a baixas ou mesmo desemprego. Há assim um diferencial negativo de 539 euros que as famílias têm de suportar.

O inquérito revelou também que, em matéria de escolaridade, 63,5% das crianças e jovens diagnosticados não beneficiaram de apoio individual e/ou ao domicílio. São assim mais de metade das crianças que não têm apoio especial para prosseguir os estudos. Mas um dos apelos vai mesmo no sentido de os pais e cuidadores terem mais tempo para acompanhar os filhos. De acordo com o inquérito, 89% das famílias consideram que o prazo para assistência deve poder ser superior a quatro anos, mediante declaração do médico oncologista.

A partir destes resultados, a Acreditar desenhou um conjunto de propostas que serão apresentadas na AR. Em comunicado, a Associação diz pretender uma “adequação das políticas nas respetivas áreas, de forma a criar melhores condições de adaptação às exigências do tratamento e da sobrevivência”.

O inquérito, inserido na campanha Setembro Dourado – mês da sensibilização para o cancro infantil – foi promovido entre 4 de agosto e 6 de setembro e partiu de uma reflexão inicial da associação com grupos de pais e técnicos, que apontaram as dificuldades mais sentidas. No comunicado salienta-se que “os resultados deste inquérito demonstram a necessidade de adequação das políticas sociais que protegem as famílias de crianças e jovens com cancro”.

No ano passado, a Acreditar disponibilizou 52.298,95€ para apoiar as famílias de crianças e jovens com cancro. Este ano, estima-se que os apoios aumentem para 64 mil euros. Todos os anos são diagnosticados em Portugal 400 casos de cancro infantil.

 

*artigo editado por Marta F. Reis