A Alemanha vai a votos no dia 24 e a importância que em Portugal se atribui ao facto está ao nível da relevância que o PSD dá às autárquicas. Durante a crise do euro, muitos esperavam que o radicalismo invadisse a política alemã pondo fim ao reinado de Merkel e, dessa forma, à moeda única.
A expectativa assentava na AfD (Alternative für Deutschland), um partido de extrema-direita que se opõe ao apoio que a Alemanha tem, dentro do quadro da União, concedido aos países em dificuldades, entre os quais Portugal. Como por cá alguns partidos, como o PCP e boa parte do BE, defendem a saída de Portugal do euro, um bom resultado da AfD seria, depois do Brexit e do crescimento do extremismo na Holanda, Áustria e França, o derrube do último pilar seguro da moeda única.
Mas nada disto aconteceu.
A Alemanha vai a votos num ambiente tão pacífico que lembra Portugal nos anos 90.
O debate entre Merkel e Schulz mostrou à evidência o que os junta, e não o que os separa. Os dois estavam tão de acordo que o sonho europeu lá parece não ter sido esquecido.
A Alemanha hoje é a Europa onde podíamos viver, caso a maioria dos países tivesse encetado as reformas que os alemães levaram a cabo com o socialista Gerhard Schröder. Não deixa de ser interessante que, enquanto o radicalismo cresce em boa parte dos países europeus, seja na Alemanha, depois de tudo o que se disse do extremismo alemão, com tantos a acusá-los de nazismo, que a tão desejada paz perpétua de Kant se tenha propagado.
Advogado, Escreve à quinta-feira