Angela Merkel de costas voltadas para a indústria automóvel

Angela Merkel de costas voltadas para a indústria automóvel


O escândalo da manipulação de emissões pela Volkswagen e outras empresas deixou marcas profundas na “confiança dos consumidores”


Com o fim das férias começaram as promessas, os avisos e os ataques. Angela Merkel decidiu relançar a campanha para as eleições com um recado à indústria automóvel. No entender da chanceler alemã, os fabricantes abusaram da confiança dos consumidores e perderam-na. Para Angela Merkel, o futuro é só um: apoiar as tecnologias limpas.

“Grande parte da indústria automóvel esbanjou a extraordinária confiança dos consumidores. Quando as pessoas escondem coisas e exploram falhas no sistema de testes de emissões ao ponto de os tornarem irreconhecíveis, isso destrói a confiança”, atira Angela Merkel, relembrando que é necessário que sejam tomadas medidas de forma a defender os 800 mil empregos que há nesta área.

Este ponto defendido pela chanceler alemã surge depois da cimeira do Diesel, onde ficou definido um plano que obriga todas as empresas do setor a reduzir o impacto ambiental das viaturas a gasóleo no país. Para garantir que este objetivo é alcançado estão pensados incentivos à troca de carros por outros mais eficientes. Foi ainda criado um pacote de medidas para evitar a proibição de circulação de viaturas a diesel nos centros das grandes cidades.

As medidas surgem dois anos depois de ter rebentado o escândalo das emissões poluentes.

Fraude Volkswagen

Em 2015, a Volkswagen foi acusada de alterar o chip do sistema de emissão de gases poluentes. Ao serem confrontados com as vendas muito abaixo do previsto, engenheiros da empresa terão decidido enganar os reguladores e os clientes com motores fraudulentos. Foram instalados softwares para manipular dados de emissões poluentes em alguns motores a partir de 2008.

A polémica, que começou nos EUA, alastrou a todo o mundo, acabando por envolver outros gigantes do setor automóvel. No final de setembro do ano passado, também a Mercedes, a BMW e a Peugeot foram acusadas de distorcer dados. Um estudo – “Mind The Gap” –, publicado pela Transport & Environment, organização não governamental que trabalha diretamente com Bruxelas, alertava para a possibilidade de existirem mais casos. Recorde-se que na Europa, no ano passado, existiam cerca de 8,8 milhões de veículos afetados.

Multas pesadas No final de janeiro, a Comissão Europeia avançou com uma proposta que pretendia apertar as normas ambientais e de segurança no setor automóvel. Em causa estavam multas que podiam ir até aos 30 mil euros, por veículo, para as marcas que não cumpram os parâmetros legais e para os serviços que não detetem adulterações.

A ideia é haver uma inspeção de veículos que já foram certificados e estão no mercado, ficando assim nas mãos das autoridades, e de Bruxelas, a decisão de o fazer ou até de exigir a saída de determinado veículo que esteja no mercado. As novas regras representam ainda um entrave aos pagamentos feitos pelas produtoras de automóveis às entidades que realizam os testes de emissões.

Desemprego na mira alemã

Outro ponto-chave da campanha de Merkel é o desemprego. Para a chanceler, o objetivo é conseguir atingir o pleno emprego até 2025. “Estaremos no pleno emprego até 2025, ou seja, com uma taxa de desemprego de 3%, e creio que podemos lá chegar”, afirma. Para conseguir atingir este objetivo será reforçado o acompanhamento dos empregados de longa duração (no desemprego há mais de um ano).