Em apenas dois dias, dois grandes afogamentos na travessia marítima para o Iémen e mais de cem mortos. Traficantes empurraram esta quinta-feira cerca de 180 pessoas para a água assim que avistaram o que pensaram ser “figuras de autoridade”.
Morreram pelo menos 55 pessoas numa repetição do que já acontecera na quarta, dia em que uma outra embarcação empurrou dezenas de pessoas borda fora para evitar ser apanhada pelas autoridades. Morreram então cerca de 50 pessoas, mas o número real pode ser mais elevado.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) diz que pode estar a surgir uma nova prática de tráfico. “Os traficantes sabem que a situação é perigosa e que podem ser atingidos a tiro, por isso atiram as pessoas ao largo da costa”, contava esta quinta à Reuters uma porta-voz da organização.
“O desprezo absoluto que estes traficantes e outros por todo o mundo têm para com a vida humana é nada menos do que imoral”, afirma por sua vez o diretor do OIM, William Lacy Swing, que estima que a idade média de um passageiro em direção ao Iémen anda à volta dos 16 anos. “Quanto é que vale a vida de um adolescente? Nesta rota para os países do Golfo, pode ser tão pouco quanto 100 dólares.”
O Iémen atravessa uma prolongada guerra civil, um desastre humanitário e o maior surto de cólera alguma vez registado. Em todo o caso, o país continua a ser um dos principais pontos de passagem para imigrantes africanos que tentam chegar aos países ricos do Golfo.
A ONU calcula que mais de 10 milhões de cidadãos estejam em necessidade humanitária “aguda”, e que, da população de 27 milhões de pessoas, 18,8 milhões precisem de algum tipo de ajuda.
Mesmo antes da guerra, o Iémen tinha escassez de água potável e atravessava uma grave crise alimentar, mas a situação piorou desde que os huthis xiitas no norte do país se insurgiram contra o governo de Abdrabbuh Mansour Hadi.