O s resultados apresentados pelos principais bancos a operar em Portugal mostram que, no geral, a redução dos custos operacionais e das imparidades contribuíram para melhorar resultados. Mas há mais pontos em comum na estratégia adotada pelas instituições bancárias para rentabilizar o negócio. Na linha da frente estão principalmente as comissões que são cobradas aos clientes e que permitem aos bancos encaixar milhões.
No caso do Montepio, por exemplo, as comissões subiram 19,5% para 55,2 milhões nos primeiros seis meses do ano, beneficiando do «impacto favorável da adequação do preçário e da maior dinâmica de negócio».
Já o Novo Banco reduziu as perdas em 20% para 290,3 milhões de euros e, neste caso, também se verificou um aumento de 10,5% nas comissões líquidas, que totalizaram 156,3 milhões, ainda que esta subida tenha sido anulada por uma queda de 2,2% dos proveitos bancários, devido sobretudo à descida de 2,2% verificada na margem financeira.
A importância das comissões como forma de tentar aumentar a rentabilidade das instituições bancárias também se fez sentir nas contas apresentadas pela Caixa Geral de Depósitos. Apesar de Paulo Macedo garantir que a instituição financeira pública cobra menos comissões que os restantes bancos, nos primeiros seis meses do ano, a Caixa Geral de Depósitos apresentou resultados de serviços e comissões de 225 milhões de euros, comparativamente aos 224 milhões do período homólogo.
«A Caixa cobra entre um terço a metade ou 75% das comissões dos outros bancos», revelou o presidente do banco que, na apresentação de resultados, destacou a evolução dos resultados de exploração ‘core’ (margem financeira mais os resultados de serviços e comissões e menos os custos de estrutura recorrentes), que foi de 303 milhões de euros nos primeiros seis meses do ano (acima dos 173 milhões de euros do primeiro semestre de 2016).
O banco público anunciou ainda que milhares de clientes deixarão de estar isentos de taxas já a partir de setembro e as comissões são para manter: «O banco estabiliza as suas comissões em 2017».
A estratégia de usar as comissões bancárias como forma de rentabilizar o negócio também foi usada pelo Santander. O banco espanhol fechou os primeiros seis meses do ano com lucros de 228,9 milhões de euros, o que representa um aumento de 16,7% face a igual período do ano passado. De acordo com as contas apresentadas, o banco liderado por António Vieira Monteiro ganhou mais 5% em comissões – 166,5 milhões de euros –, «fruto da maior vinculação e transacionalidade dos clientes».
No caso do Millennium BCP, que passou dos prejuízos aos lucros, as comissões bancárias subiram 1,1%, para 265,9 milhões.
Isenções na gaveta
Em janeiro do ano passado foi criado um grupo de trabalho que tinha como principal responsabilidade discutir as comissões que são cobradas pelos bancos. No entanto, a verdade é que está sem atividade desde abril de 2016.
De acordo com deputado Carlos Silva, coordenador deste grupo de trabalho, as discussões deverão começar já em setembro e em cima da mesa estará o projeto-lei apresentado pelo Bloco de Esquerda. Um dos principais objetivos é obrigar todas as instituições bancárias a disponibilizar contas base, a fim de impedir que sejam feitas cobranças de comissões.
O tema das comissões já tinha feito correr muita tinta em maio, quando uma análise aos preçários praticados pelos bancos mostrava ser imperativo colocar um travão aos valores que os bancos podem cobrar até pelas operações mais simples.
No top 10 das comissões analisadas estava, por exemplo, o valor cobrado a quem tivesse de pedir um novo código PIN para o cartão de crédito ou de débito: o custo médio rondava os 7,21 euros, mas chegava aos 12,48 euros no Ativo Bank.
O levantamento de dinheiro ao balcão ou o pedido para alterar a titularidade também pode implicar a cobrança de comissões. No primeiro caso, o custo ronda os 5,06 euros, ainda que existam exemplos, como o Novo Banco, onde o valor atinge os 12,48 euros.
Banca emagrece estrutura
O sistema bancário português continua a ser palco de muita instabilidade e muitas são as tentativas de minimizar o impacto da crise. Além da tentativa de usar as comissões bancárias como forma de melhorar resultados, os bancos têm também controlado os custos através de cortes na estrutura dos recursos humanos. Prova disso é a perda de postos de trabalho registada no setor ao longo dos últimos anos e a previsão de mais cortes nos próximos anos.
Só este ano, a Caixa Económica Montepio, por exemplo, reduziu os custos em 25,35%, para 137,2 milhões, refletindo o fim do processo de reestruturação que, no ano passado, levou à saída de trabalhadores e ao fecho de balcões. O banco fechou o primeiro semestre do ano com 3592 colaboradores e com 325 balcões no mercado nacional. E isso é visível com os gastos com pessoal, que estão fixados agora em 84,7 milhões de euros, quando em igual período do ano passado atingiam quase os 125 milhões de euros.
Mas os exemplos sucedem-se. Os custos operacionais do Novo Banco, por exemplo, recuaram 12,8%, para 265,2 milhões, a beneficiar da redução de trabalhadores verificados nos últimos meses.
De acordo com os dados que o Banco Central Europeu (BCE) divulgou em julho do ano passado, o número de trabalhadores bancários em Portugal não tem parado de diminuir. Só entre 2014 e 2015 – um período que ficou também marcado pelo fecho de mais de 300 agências –, reduziu-se em 1392. A verdade é que esta tendência é transversal, tem afetado toda a Europa e deverá manter-se.