À pergunta “quem manda?” a sociedade internacional responde com as variantes do G: G7, G8, G20,… A multiplicação de formatos em torno do G para as reuniões dos mais ricos começou com o G7 (Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido, Estados Unidos) a que por vezes se junta a Rússia por respeito para com a outra superpotência nuclear (G8), ou o reconhecimento das grandes potências económicas emergentes (Brasil, China, Índia, México, África do Sul: G8+5), combinado com a grandeza da população de certos países (Índia, Indonésia, Turquia), a sua dimensão continental (Austrália) ou o papel dominante na produção de petróleo (Arábia Saudita), dando origem ao G20 (G8+Austrália, Argentina, Brasil, China, Índia, Indonésia, México, Arábia Saudita, África do Sul, Coreia do Sul, Turquia e a União Europeia).
Para os que não se satisfazem com os G’s existentes há também a proposta de pré-G’s, os “Next11:” Bangladesh, Egipto, Indonésia, Irão, México, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Turquia e Vietname. Em comum teriam o potencial para se juntarem às maiores economias mundiais ainda durante o século XXI.
A multiplicação de G’s traduz o envelhecimento das instituições onusinas e dos mecanismos de Breton Woods mas não implicou ainda a sua substituição. Mais mal do que bem, o sistema da ONU vai-se mantendo, combinando a aristocracia dos membros permanentes do Conselho de Segurança com a democracia sem poderes da Assembleia Geral. Menos bem funciona, como sabemos, o sistema do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. Em relação a Bretton Woods o reduzido papel da China face ao seu actual poderio económico explica a aposta de Pequim numa rede de acordos bilaterais e regionais que poderão, a prazo, substituir em certas geografias algumas das funções tradicionais do FMI e do BM.
Tal não significa que a China questione todos os regimes internacionais em cuja génese não participou. A deriva proteccionista de Trump permitiu a Xi Jinping ir a Davos fazer a apologia do comércio multilateral. E só há um Acordo de Paris sobre a mitigação e a adaptação às alterações climáticas porque Pequim apostou na modernização da sua economia e na redução da utilização e da dependência dos combustíveis fósseis (a promessa feita, em vésperas do Congresso do PCC, de permitir aos chineses “voltarem a ver o céu”).
Com os regimes internacionais “clássicos” em crise (ONU, FMI, BM, OMC), novos regimes internacionais emergentes (Acordo de Paris) a par de apostas claras quer por parte dos EUA, da China ou até, à sua escala, do Reino Unido no regresso ao bilateralismo, o que sobrou da recente reunião do G20 em Hamburgo?
No exercício do poder a cenografia conta e muito. O G20 mostrou um G19+EUA, um formato nunca visto. E para o cidadão comum a imagem que passou foi a do turismo da violência com os altermundialistas a queimarem carros do alemão comum, a incendiarem lojas e supermercados (e não já bancos e hotéis de luxo) e a agredirem centenas de polícias.
A consequência mais imediata da descoberta do ponto G em Hamburgo, cidade Estado governada pelo SPD, foi a colocação do tema da segurança na agenda da campanha para as eleições de Setembro. Nos termos da Lei Fundamental de Bona a segurança é uma competência dos Länder pelo que o caos de Hamburgo joga a favor do governo federal chefiado pela Srª Merkel. No rescaldo do G20 multiplicaram-se as propostas, a criação de uma base de dados com a identificação dos radicais de esquerda (já há uma para os radicais de direita e para os suspeitos de terrorismo). Ainda há quem escreva que a reunião do G20 não produziu resultados políticos…
Escreve à sexta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990