O mérito dos partidos políticos democráticos modernos redunda, fundamentalmente, na amplitude interpretativa que se faz da sua ideologia de base e na capacidade que possuem de não se deterem na pura significação das suas matrizes originárias. O recurso permanente a jargões de um tempo passado como caracterizadores de uma ação futura não só é pernicioso como descontextualiza e se abstrai da construção desta nova modernidade.
A democracia evoluiu e as necessidades das pessoas acompanharam essa evolução. A social-democracia de 76 não é a social-democracia do séc. xxi. A política moderna tem um horizonte de globalidade incontestável. Há um novo, alargado e ativista espaço público que reclama uma cobertura do Estado de direito, uma justiça global e cosmopolita, e que clama por uma explosão da política em novos modelos, mas sobretudo em novos métodos.
Há dias, Albert Rivera, líder dos Ciudadanos, dizia no Twitter: “Copiar a los populistas no es una buena ideia, como han demostrado los conservadores británicos.” Este é, sem dúvida, o maior desafio dos partidos de poder modernos. A capacidade de resistência à emergência do populismo só pode ser feita com uma definição clara de um rumo, ainda que não condizente com as expectativas imediatas das pessoas.
Isto interpela com evidência a questão titulada no início deste artigo. Independentemente da legitimidade nas ameaças ou na concretização das disputas de poder interno dos partidos, é preciso saber para que efeitos se pretende um novo PSD. Qual é a novidade que pode o PSD trazer neste contexto político presente, resultante de uma conjugação de interesses ainda por esclarecer, que seja em tudo diferente da ação que tem mantido?
Quer algum PSD rejuvenescer para legitimar em definitivo uma governação de António Costa substituindo-se à esquerda parlamentar, em nome de uma estabilidade que não sabemos bem qual é e que desfecho terá?
Quer algum PSD substituir-se à legitimidade popular democrática que foi conferida ao seu atual líder, exercendo uma lógica reinterpretativa da vontade de um povo sem que para isso tenha mandato?
Tem esse PSD um conjunto de ideias para voltarmos a ganhar a confiança dos portugueses nas eleições? Então porque não partilhou esse saber ao longo destes anos na condução dos destinos do país e não se disponibilizou para ajudar o partido nas eleições autárquicas, cujo resultado tanto os atormenta, preferindo o recato dos estúdios televisivos e as páginas dos jornais para o combater?
Talvez não seja despiciendo relembrar Durão Barroso que, na sua moção de estratégia ao congresso do PSD em Coimbra no ano de 1999, num capítulo intitulado, talvez por mera coincidência, “um novo PSD”, escrevia e com absoluta razão: “O PSD (…) não pode (…) ser confrontado com o facto de a principal oposição à sua política ou estratégia vir, afinal, a ser ele próprio. A autoridade interna no partido é necessária não como privilégio daqueles que, aos diversos níveis, exercem a liderança, mas como indispensável sinal de credibilidade para o exterior.”
Dizer-se que é preciso um novo PSD sem se explicar concretamente o que isso quer dizer ou de que forma se chega a esse patamar de novidade, e o que se quer fazer com ele, é como começar a contar uma história pelo seu fim. Uma prolepse que uma história de um tempo tão fundamental como o nosso é incapaz de precaver. Muito menos a política.
Vice-presidente do grupo parlamentar do PSD. Docente universitário
Escreve à segunda-feira