Falta de capacidade financeira para aguentar com as despesas dos tratamentos, falta de informação adequada, falhas de recursos humanos nos serviços de saúde e o desequilíbrio geográfico e financeiro na oferta de cuidados de saúde são alguns dos fatores para que os portugueses portadores do vírus do VIH/sida não cumpram com os tratamentos recomendados pelos profissionais de saúde.
O estudo da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa (ENSP-Nova) identifica os principais constrangimentos nos cuidados prestados a doentes de VIH/sida.
Em Portugal, a ENSP apresentou ontem as conclusões de um estudo que teve como objetivo identificar as barreiras existentes na deteção, referenciação e retenção dos doentes VIH no Sistema de Saúde, assim como identificar, através da opinião de um grupo de peritos, uma série de propostas para melhorar o tratamento do doente de VIH e, consequentemente, potenciar o controlo da infeção em Portugal.
O estudo orientou-se pela chamada cascata do tratamento do VIH da Organização Mundial de Saúde (OMS) 90-90-90 – uma atividade de prevenção e tratamento criada pela OMS cujo objetivo é que, no ano de 2020, 90% das pessoas infetadas pela doença VIH/sida estejam diagnosticadas, 90% das pessoas diagnosticadas estejam sob tratamento e 90% das pessoas sob tratamento antirretroviral atinjam carga viral indetetável.
Em Portugal, os dados ainda não permitem que todas as fases desta cascata estejam completas. Os dados mais recentes indicam que 91,3% das pessoas infetadas foram diagnosticadas, o que significa que o primeiro 90 foi atingido, no entanto apenas 78.4% dos doentes tratados têm carga viral indetetável.
De acordo com Julian Perelman, coordenador do estudo da ENSP, Portugal só agora atingiu o primeiro 90, “o que evidencia a deficiente capacidade do sistema em dirigir para tratamento e supressão viral os doentes que estão já diagnosticados”.
Na sequência desta análise surgiram 37 propostas que visam eliminar as barreiras identificadas no percurso do doente e ainda potenciar a identifição das pessoas infetadas no sistema, destacando-se a criação de uma equipa multidisciplinar do hospital ou da comunidade que possa avaliar e gerir as necessidades clínicas e sociais dos pacientes.