O PSD está profundamente irritado pelo facto de ter havido uma solução que autoriza o Estado a outorgar um melhor desempenho operacional da empresa sem perder voz na decisão estratégica para a companhia de bandeira. Mas também está irritado pelo facto de Miguel Frasquilho ter aceitado presidir ao conselho de administração, homologando, por esta via, a solução global que foi seguida. O atual PSD fica irritado quando vê personalidades de competência reconhecida, como Paulo Macedo, aceitarem convites do governo do PS. Para eles, o governo atual sofre de ilegitimidade genética e, portanto, deveria ser ostracizado por todos. Tudo esperado.
Já sentimos estranheza com a reação do Bloco de Esquerda. O BE vai, um dia, morrer com o seu próprio veneno. Utiliza a conversa de turno para aspergir moralidade, faz comentários sem sentido. Teria sido interessante ver o BE considerar que Francisco Louçã não deveria ter aceitado o convite para o Banco de Portugal, porque há uma incompatibilidade genesíaca, há uma repulsa natural, quase uma reação cutânea às coisas difíceis da decisão. Mas vamos ao que interessa.
Diogo Lacerda Machado (DLM) é um ilustre jurista e reconhecido gestor. A sua experiência não deixa qualquer dúvida. Ao lado de José Luís Arnaud ou de Miguel Relvas, ninguém tem dúvidas. Mas não queremos meter tudo no mesmo saco. Porque entre a água de colónia Old Spice e uma qualquer fragrância da Penhaligon’s não há comparação.
DLM é uma enciclopédia nas coisas da aviação e aeronáutica. Se havia dúvidas para alguém, elas perderam-se na audição parlamentar realizada há alguns meses. Não houve uma só questão, mesmo as que se referiam a rotas, horários e companhias, que tivesse ficado por esclarecer. É por isso que negamos razões a quem quer que seja para tratar a competência de DLM como uma “pouca-vergonha”.
DLM assessorou o governo na reversão de uma parte do capital ao Estado. Foi cumprido um objetivo político do governo e foram salvaguardados os interesses soberanos de Portugal. Ninguém, até hoje, pôs em causa o sucesso do acordo. Bem, claro que houve quem colocasse, os juristas e lobistas que assessoraram os negócios anteriores. Temos uma excelente solução para o país e ela deve-se ao ministro Pedro Marques e a DLM.
DLM, sendo muito competente e tendo aconselhado uma negociação que foi (e é) boa para o Estado, devia estar impedido de ser administrador da TAP? E ser administrador nomeado pelo próprio Estado? A resposta só pode ser uma: há toda a vantagem e a salvaguarda do interesse público assim o obrigaria. Convidar DLM para um dos lugares no universo de decisão estratégica da companhia é acertado.
Tudo isto vem a público porque DLM é amigo de António Costa. Pois, os amigos do atual primeiro-ministro nunca poderiam ser competentes e ocupar qualquer lugar de prestigio, só poderiam ser homiziados. É esse o primado da política portuguesa: só pode ocupar qualquer lugar quem caminhar na sombra, quem não se revelar em qualquer universo de interesse ou profissão, quem não tiver opinião sobre nada, quem se vergar perante a futilidade. Estamos a reduzir a nossa capacidade de escolhermos os melhores e os mais independentes, e isso vai pôr em causa, de forma irreversível, os serviços e as empresas em que o Estado deve estar presente. Não admira que o PSD queira exatamente isso, porque a privatização de tudo é o seu caminho. Mas incomoda-me a arrogância do Bloco de Esquerda e o facto de não estar a ver o filme.
Ascenso Simões, Deputado do PS