E não é que vivemos todos dentro do facebook


Nos dias que correm um tipo sai à rua e parece que consegue cheirar o suave odor a prosperidade. Há quem diga que é por causa da gerigonça do António Costa, outros afirmam que se deve à chegada do tempo quente que faz parecer com que tudo se leve com maior facilidade.


Pode ser que sim mas eu cá acho que as coisas melhoraram bastante desde que passámos todos a viver dentro do facebook.

Para já uma pessoa poupa imenso em rendas, contas de água, luz e gás. Pode-se estar à grande dentro do facebook e aquela rapaziada não cobra nada pela nossa estadia lá dentro. A meu ver só falta mesmo uma máquina de tirar cafés para aquilo ser perfeito, de resto, tem tudo.

Tenho para mim que o senhor Zuckerberg só mandou fazer o facebook porque na altura ainda vivia em casa dos pais e toda a gente sabe que as rendas na América estão pela hora da morte. E não é só na América convenhamos, que Portugal desde que está na moda, para se poder alugar um quartinho com um bidé tem de se vender um rim para custear as rendas que se praticam nos dias que correm. Que isto está bom sim senhor mas é para a malta que vem de fora, em busca de pastéis nata, das casas de charme e dos restaurantes gourmet que a geringonça do Costa mandou instalar para o turista se sentir mesmo à maneira. Já o lusitano só se safa no facebook.

Antigamente só a malta mais jovem é que habitava o facebook, mas agora está lá toda a gente. Mesmo toda a gente… os nossos pais, tios, avós, sogros, até a dona Aurora que já era idosa quando eu era puto já está no facebook a viver, ela que ainda é do tempo da Primeira República, da sífilis e das cartas por pombo-correio.

O problema de meter pessoas de mais idade dentro do facebook é que elas não têm vergonha alguma e entram a varrer aquilo tudo com posts de receitas de tartes de amêndoa e ensopado de borrego, paisagens com flores, e o pior de tudo, fotos de quando éramos crianças e nos punham nus a correr na praia da Rocha numa manhã de verão. Quando dou por mim, lá está a minha pilinha a baloiçar no feed acompanhada de um ancinho e um balde de praia. E depois levas com os comentários dos amigos mais idosos sobre a tua pilinha imberbe nos idos de 1984. Está bem que era uma bela pilinha sim senhor mas ainda não mostrava todo o seu potencial.

Por falar em pilinha, as relações tornaram-se muito mais acessíveis desde que passámos todos a viver no mesmo espaço. É fácil não é? A pessoa olha a foto, analisa o potencial da coisa e em menos do nada já está a trocar mensagens pelo chat. Agora atenção, não se deixem levar pelas fotos assim sem mais nem quê porque na maior parte dos casos aquilo é gato por lebre. O que parece ser um Boeing 747 novinho em folha a duas dimensões, ao vivo é um Cessna movido a hélices de 1972 cheio de ferrugem nas dobradiças. Pelo sim pelo não, mais vale fazer amor pelo chat, assim sempre se evitam desilusões, poupa-se no gasóleo e finta-se uma ou outra doença sexualmente transmissível, daquelas que dão uma comichão do caraças.

Viajar e ter animais de estimação também sai muito mais em conta. Um gajo já não tem de se meter em aeroportos nem precisa de ir ao veterinário semana sim, semana não. Basta uma olhadela pelo mural e ficamos logo com a pança cheia de fotos daquele dia de praia na Comporta, onde se vê o mar, a areia e umas pernas estendidas na toalha, ou a viagem ao sul de Espanha onde se vê o mar, a areia e umas pernas estendidas nas toalha, e ainda a semana paradisíaca num resort na República Dominica onde se vê o mar, a areia e umas pernas estendidas na toalha. O que é que um tipo precisa mais para conhecer o mundo? Nadinha.

Quanto aos animais, bom,  só os vídeos de cães e gatos a fazerem habilidades já me enche o facebook de pêlo, seguido de um “owh, tão fofinho” e isto para mim é mais do que suficiente para ter um parceiro de quatro patas por companheiro. E o que se poupa em ração? Pois é, vocês sabem. A minha única tristeza é o Bruno de Carvalho ter abandonado o facebook há umas semanas porque de todos os animaizinhos queridos e fofos, ele era o que me divertia mais, sempre a fazer mariolices e judiarias. Um amor.

Mas pronto não se pode ter tudo e temos que saber viver com isso, agora vou voltar para dentro do facebook que isto cá fora está a ficar fresquinho.

Até já.

 

João Pedro Santos

Escritor e Humorista

 


E não é que vivemos todos dentro do facebook


Nos dias que correm um tipo sai à rua e parece que consegue cheirar o suave odor a prosperidade. Há quem diga que é por causa da gerigonça do António Costa, outros afirmam que se deve à chegada do tempo quente que faz parecer com que tudo se leve com maior facilidade.


Pode ser que sim mas eu cá acho que as coisas melhoraram bastante desde que passámos todos a viver dentro do facebook.

Para já uma pessoa poupa imenso em rendas, contas de água, luz e gás. Pode-se estar à grande dentro do facebook e aquela rapaziada não cobra nada pela nossa estadia lá dentro. A meu ver só falta mesmo uma máquina de tirar cafés para aquilo ser perfeito, de resto, tem tudo.

Tenho para mim que o senhor Zuckerberg só mandou fazer o facebook porque na altura ainda vivia em casa dos pais e toda a gente sabe que as rendas na América estão pela hora da morte. E não é só na América convenhamos, que Portugal desde que está na moda, para se poder alugar um quartinho com um bidé tem de se vender um rim para custear as rendas que se praticam nos dias que correm. Que isto está bom sim senhor mas é para a malta que vem de fora, em busca de pastéis nata, das casas de charme e dos restaurantes gourmet que a geringonça do Costa mandou instalar para o turista se sentir mesmo à maneira. Já o lusitano só se safa no facebook.

Antigamente só a malta mais jovem é que habitava o facebook, mas agora está lá toda a gente. Mesmo toda a gente… os nossos pais, tios, avós, sogros, até a dona Aurora que já era idosa quando eu era puto já está no facebook a viver, ela que ainda é do tempo da Primeira República, da sífilis e das cartas por pombo-correio.

O problema de meter pessoas de mais idade dentro do facebook é que elas não têm vergonha alguma e entram a varrer aquilo tudo com posts de receitas de tartes de amêndoa e ensopado de borrego, paisagens com flores, e o pior de tudo, fotos de quando éramos crianças e nos punham nus a correr na praia da Rocha numa manhã de verão. Quando dou por mim, lá está a minha pilinha a baloiçar no feed acompanhada de um ancinho e um balde de praia. E depois levas com os comentários dos amigos mais idosos sobre a tua pilinha imberbe nos idos de 1984. Está bem que era uma bela pilinha sim senhor mas ainda não mostrava todo o seu potencial.

Por falar em pilinha, as relações tornaram-se muito mais acessíveis desde que passámos todos a viver no mesmo espaço. É fácil não é? A pessoa olha a foto, analisa o potencial da coisa e em menos do nada já está a trocar mensagens pelo chat. Agora atenção, não se deixem levar pelas fotos assim sem mais nem quê porque na maior parte dos casos aquilo é gato por lebre. O que parece ser um Boeing 747 novinho em folha a duas dimensões, ao vivo é um Cessna movido a hélices de 1972 cheio de ferrugem nas dobradiças. Pelo sim pelo não, mais vale fazer amor pelo chat, assim sempre se evitam desilusões, poupa-se no gasóleo e finta-se uma ou outra doença sexualmente transmissível, daquelas que dão uma comichão do caraças.

Viajar e ter animais de estimação também sai muito mais em conta. Um gajo já não tem de se meter em aeroportos nem precisa de ir ao veterinário semana sim, semana não. Basta uma olhadela pelo mural e ficamos logo com a pança cheia de fotos daquele dia de praia na Comporta, onde se vê o mar, a areia e umas pernas estendidas na toalha, ou a viagem ao sul de Espanha onde se vê o mar, a areia e umas pernas estendidas nas toalha, e ainda a semana paradisíaca num resort na República Dominica onde se vê o mar, a areia e umas pernas estendidas na toalha. O que é que um tipo precisa mais para conhecer o mundo? Nadinha.

Quanto aos animais, bom,  só os vídeos de cães e gatos a fazerem habilidades já me enche o facebook de pêlo, seguido de um “owh, tão fofinho” e isto para mim é mais do que suficiente para ter um parceiro de quatro patas por companheiro. E o que se poupa em ração? Pois é, vocês sabem. A minha única tristeza é o Bruno de Carvalho ter abandonado o facebook há umas semanas porque de todos os animaizinhos queridos e fofos, ele era o que me divertia mais, sempre a fazer mariolices e judiarias. Um amor.

Mas pronto não se pode ter tudo e temos que saber viver com isso, agora vou voltar para dentro do facebook que isto cá fora está a ficar fresquinho.

Até já.

 

João Pedro Santos

Escritor e Humorista