Tem hoje início a primeira viagem do presidente Trump ao estrangeiro: Arábia Saudita, Israel, Vaticano, Bruxelas (NATO e UE) e Itália (G7).
A entourage de Trump adiou enquanto pôde a sua exposição ao mundo exterior. Pence, Mattis e Tillerson foram enviados em missões de damage control junto de parceiros e aliados ofendidos e perplexos com os dizeres de Trump. Mas o calendário não perdoa e a cimeira da NATO em Bruxelas, na próxima quinta-feira, seguida da reunião do G7 em Taormina, tinha de contar com a presença do presidente americano. Mais estranha é a escolha da Arábia Saudita como destino da primeira visita a um país estrangeiro. Os restantes países árabes temem um regresso do patrocínio americano aos “terroristas bons” alimentados pela Arábia Saudita. Já os pundits americanos questionam a possibilidade de a visita a Riade incluir uma agenda comercial privada para o maior bem de Trump.
O presidente chega muito fragilizado à cimeira da NATO por mais uma polémica envolvendo uma estranha proximidade com a Rússia e a divulgação, de forma amadorística, de informação sensível aos russos (e logo ao vivo e em directo a Lavrov e a Kislyac, o par mais profissional da diplomacia russa). A cínica oferta, por parte de Putin, de divulgação das minutas da reunião para validar a versão trumpiana dos factos cobriu de ridículo as tentativas de spin por parte da Casa Branca. Com este belo exemplo de kompromat, Trump passou a inspirar desconfiança também aos aliados do leste da Europa, o seu melhor público na NATO.
Face às capacidades histriónicas de Trump, há que ter pena dos profissionais da diplomacia, de um e do outro lado do Atlântico. A cimeira está a ser desenhada para que o presidente possa passar por entre as gotas da chuva de Bruxelas (que são muitas…). Não haverá declaração no final porque há medo da imprevisibilidade de Trump: poderia não gostar da declaração ou poderia querer lá escrever o indizível…Há medo do défice de atenção de Trump: foi pedido aos chefes de Estado e de governo para limitarem as intervenções a um máximo de dois a quatro minutos. Mesmo assim, e com 28 aliados à volta da mesa, a matemática joga contra as probabilidades de os diplomatas americanos conseguirem coreografar a presença do presidente, tanto mais que, também junto da NATO, a nova administração ainda não nomeou o seu embaixador.
Mas Trump talvez consiga sair da sua primeira reunião multilateral com duas vitórias. Uma no aumento claro da despesa militar por parte dos europeus e do Canadá (cujo governo divulgará, depois da cimeira, a nova Defense Review) em direcção à meta dos 2% do PIB (ainda que venha a haver ainda mais contabilidade criativa no cálculo de tal despesa). A segunda vitória, traduzida na aposta da NATO no combate ao terrorismo, será mais matizada e não passará ainda pela adesão formal da organização à aliança anti-Daesh. Não obstante todos os aliados participarem a título individual na aliança anti-Daesh, a Alemanha, com eleições à porta, não quer envolver a NATO em tal opção e muito menos comprometer-se com o envio de mais tropas para o Afeganistão.
A cimeira de Bruxelas será também o primeiro evento multilateral para Macron, e logo a NATO, uma organização mal-amada em França. Uma boa oportunidade para o presidente francês, em contraponto com Trump, ser a estrela da cimeira e lançar, pela enésima vez, o reforço do pilar europeu.
A cimeira decorre no novo quartel- -general da NATO, caro, com atrasos na construção e muito acima do orçamento previsto. O cenário ideal para Donald, the constructor, perorar.
Escreve à sexta-feira