Já pensou no que pode fazer atualmente com o seu telemóvel? Se tem um telefone dito inteligente (designado por smartphone), muito provavelmente não sabe quais são todas (mesmo todas) as possibilidades que tem, ou seja, tem tantas aplicações no telefone que nem tem conhecimento de todos os serviços que são disponibilizados. E, claro, se contabilizarmos todas as aplicações que estão disponíveis para serem descarregadas para o telemóvel, então a resposta é, certamente, algo do género “não faço a mínima ideia”. Pois é, esta situação vai piorar, por um lado, e melhorar, por outro.
Até agora, a evolução das redes de comunicações móveis tem-se baseado no aumento da velocidade de transmissão de dados, mas esta evolução está a sofrer uma mudança de direção. Quando conseguirmos descarregar a informação “instantaneamente”, ou seja, a uma velocidade tão grande que a grande maioria da informação (desde os portais da internet até vídeos de alguns minutos) se descarrega em menos de cerca de 100 milissegundos, temos a perceção de instantaneidade. Isso significa que, a partir daí, não é necessário continuar a aumentar a velocidade de transmissão de dados com o mesmo ritmo de desenvolvimento.
O próximo passo é mesmo o do atraso na transmissão de informação, ou seja, independentemente da velocidade de transmissão de dados, o tempo que a informação demora a ser transmitida e a reação a essa informação ser transmitida de volta para nós. Os exemplos neste caso vão, para o utilizador comum como nós, de jogos interativos através da internet até carros sem condutor (guiados autonomamente), passando por aplicações específicas para profissionais que podem ser cirurgia remota (um cirurgião operando através de um robô num hospital a muitos quilómetros de distância). Nestes casos, o atraso na transmissão de informação tem de ser inferior a 1 milissegundo. Os sistemas de comunicações móveis atuais ainda não permitem atingir valores tão baixos quanto este, mas é esse o objetivo que se pretende atingir no desenvolvimento da nova geração, designada por 5G (5.a geração), que se espera estar concluído até 2020.
A conjunção de velocidades de transmissão de dados muito elevadas e de atrasos na transmissão de informação muito baixos vai permitir a transmissão de informação e a reação a esta de modo “instantâneo”, ou seja, o ser humano deixa de ter a perceção de atraso, e isso vai abrir um mundo totalmente novo nos serviços e aplicações que nos vão ser disponibilizados. As aplicações de realidade aumentada (adicionar automaticamente informação a algo que está relacionada com essa visualização) e realidade virtual (adicionar também automaticamente informação a algo, mas que não necessita de estar relacionada), que consistem em ver informação adicional quando se “aponta” o telemóvel para algo, abrem portas que vão para além da nossa imaginação. No primeiro caso, temos os exemplos do turismo, em que podemos ver toda a informação sobre um monumento, ou de supermercados, em que podemos ver toda a informação sobre um produto, enquanto no segundo se enquadram os jogos interativos como, por exemplo, adolescentes matando extraterrestres numa qualquer rua de uma cidade (um passo mesmo bastante à frente do Pokémon Go).
Em paralelo, as redes de telecomunicações têm de ser preparadas para transportar e armazenar quantidades crescentes de informação, fazendo-o de modo eficiente e com custos baixos. Mas, adicionalmente, os telemóveis têm de evoluir para que os utilizadores possam interagir com eles de modo natural (como se estivessem a falar com uma pessoa), para que o conhecimento de quantas e quais aplicações temos no telemóvel deixe mesmo de ser importante, desde que funcionem quando o desejamos, bastando para tal que possamos ativá-las com um simples comando de voz. Basta-nos esperar pelo 5G.
Professor de Comunicações Móveis no Instituto Superior Técnico