Há mais vozes que nozes. Sónia Tavares e Nuno Gonçalves dizem que não fazem música para se “internacionalizar”, fazem–na por gozo, mas claro que se orgulham quando o seu trabalho está nos tops das rádios universitárias um pouco por todo o mundo. Querem ser surpreendidos pelo que fazem. Veem este novo disco, “Altar”, como um largo processo de aprendizagem com um homem que admiram: Brian Eno.
Nuno, conheceu o Brian Eno numa favela onde se trabalhava a música como instrumento de empoderamento das pessoas. Como foi o encontro nesse contexto?
Nuno Gonçalves – Eu estava a fazer uma recolha sobre a nova cultura do Rio de Janeiro. E nesse trabalho interessei-me por um grupo chamado Afroreggae que faz exatamente isso [o empoderamento das pessoas] através da música.
E de onde surgiu, creio, um documentário.
NG – Isso foi um trabalho com um outro grupo específico do afroreggae, que é o Afro Lata, que tem várias áreas: dança, circo, música e teatro. Um dos seus quartéis-generais é na favela de Vigário Geral e estávamos a fazer uma visita guiada, com música e gente da indústria musical, e o Brian também estava. E foi aí que o conheci. Criámos alguma empatia e começámos a falar.
Li num texto sobre vocês que ele não quis ser produtor do vosso trabalho.
Sónia Tavares – Nada disso.
O que eu li é que ele não estava interessado em produzir, mas em trabalhar com vocês, e disse que seria algo divertido.
ST – Ah, posto dessa maneira é diferente.
NG – O que aconteceu é que um ano e meio depois, já nós éramos amigos e ele já tinha até vindo ver os Gift ao vivo, a Sónia achou por bem, e ainda bem, perguntar-lhe, já que tínhamos um novo disco em mente, se ele queria produzir o disco.
ST – E ele disse que já não produzia discos.
NG – Disse que já tinha passado essa fase, já não gostava de estar no estúdio a pôr microfones, “gosto de ser um bocadinho mais do que isso, e acho que nós vamos divertir-nos muito se vocês estiverem de acordo com isso”. E nós dissemos, claro, trabalhar com o Brian Eno seria sempre uma experiência fantástica.
ST – Não queria assumir o estatuto de produtor, queria participar no projeto desde a raiz, construindo as canções e as letras, e percebeu que tinha espaço para isso, que nós lhe íamos dar espaço para isso, independentemente de haver egos e pessoas diferentes.
A certa altura, o Brian Eno até diz que não sentiu nesse processo de criação, nomeadamente em estúdio, a existência desses egos.
ST – Não, porque nós estávamos na presença do Brian Eno, e supostamente ele teria de ter a cabeça mais bem estruturadas que as nossas, só porque é “o” Brian Eno. Nós não estávamos habituados a trabalhar com produtores, normalmente não trabalhamos, apenas o fizemos uma vez com Howie B. , onde ele assumiu as misturas sobretudo, não tanto a parte da produção, e com o Ken Nelson, para o “Explode”, mais ou menos nas mesmas condições. Produzir, produzir: colar, cortar e pôr, era uma coisa que nós sempre tínhamos dado ao Nuno. Neste caso, não íamos limitar o Brian Eno, até porque achávamos que as ideias dele eram sempre bem–vindas, e eram sempre excelentes ideias. Foi isso que aconteceu, foi construir um disco quase desde a raiz, a partir das maquetes que o Nuno já tinha e das ideias com que nós partíamos para esse trabalho. Não tínhamos todos os detalhes, mas um esquisso com as melodias principais. Tudo o resto foi construído com o Brian Eno.
O que acham que o Brian Eno viu em vocês?
NG – Na minha ótica, uma grande voz, e melhor dizendo, uma voz única. Nós tivemos o prazer, num dos momentos que tivemos com o Brian Eno em casa dele… ele tem a mania de todas as terças-feiras reunir uma série de amigos para cantar gospel, e nós fomos a uma dessas reuniões, onde inclusive estava a Anne Clark, a vocalista dos St. Vincent, e quando ouviram a Sónia cantar ficaram todos parados a ouvi-la. E o Brian, que já a tinha ouvido, riu-se e disse: “Eu sabia que vocês iam reagir assim.” Na minha ótica, foi sobretudo isso. E depois, ao longo do trabalho, foi percebendo que éramos uma banda, que até pela longevidade da nossa carreira não tínhamos medo de arriscar. Essa experiência da banda também foi uma coisa muito apelativa para ele. Não éramos nenhuns putos a fazer as coisas pela primeira vez, éramos uma banda formada, com experiência de palcos pequenos e grandes. Com um trajeto de vitórias e derrotas, e tudo isso confluiu para o Brian ter confiado em nós e nós termos confiado nele.
Começamos a conversa com uma visita a uma favela e o papel e função que a música lá tinha. Para vocês, a vossa música pode ter alguma função?
NG – Nós fazemos discos, em parte, para mudar a vida das pessoas. É também essa missão que eu exijo como consumidor de música: quando eu oiço um disco dos Radiohead pela primeira vez, não lhes peço menos: durante alguns minutos, eles têm de me mudar a vida um bocadinho, e para melhor. Acho que a música pop é isso. Vamos pensar nos anos 90: os Pulp não conseguiam fazer um refrão melhor que o “Razzmatazz”, e nos discos seguintes conseguiam dar essa luz à nossa vida. Acho que, enquanto músico, o que quero é isso: é que as pessoas se emocionem com as nossas músicas e os Gift façam parte da vida delas.
ST – Eu quero fazer boas músicas. Se tiver público, melhor. O meu sentido na vida e de fazer música na vida é fazê-la como se fosse música que eu própria quisesse consumir. Eu sou aquela pessoa que pouco se importa com o resto: se há público, se não há público, se há boa crítica ou se não há. Eu faço música porque me preenche, porque tenho orgulho em fazê-la e em ouvi-la. Tenho orgulho em ouvir, no carro, este “Altar” de uma ponta à outra. Dá–me um prazer imenso ouvir este disco e fico mesmo feliz por tê-lo feito.
Diz que só faz música que gosta de ouvir, mas não há nada que vocês se arrependam de ter feito, coisas que não repetiriam? Voltariam a fazer igual um projeto como o “Amália Hoje”?
ST – Sim, faria da mesma maneira, certamente com a mesma vontade e honestidade com que o fizemos.
Permitiu-vos atingir outras pessoas?
ST – O que é engraçado é que nós não tínhamos nada na cabeça e não tínhamos objetivos nenhuns predeterminados nesse trabalho. Foi uma coisa encomendada e de que nós tirámos um prazer imenso. Não tínhamos objetivos de vender discos e fazer concertos. Não era nosso. Era feito por nós, mas os frutos não seriam nossos. Levámos aquilo de uma forma desportiva, mas com muita honestidade. Acho ainda hoje que os arranjos são muito bons, e se o voltássemos a fazer não fazíamos nada de diferente. Tu fazias [voltando-se para o Nuno Gonçalves]?
NG – Não, acho que até nesse disco estão algumas das melhores versões, depois da Amália, de algumas canções.
ST – Ahahah.
NG – Acho que o “Medo” nunca foi tão bem cantado como desta vez, que a “Formiga Bossa Nova” nunca teve um arranjo tão arrojado como nesse disco. O “Nome da Rua” também não – temos máquinas sincopadas a 5 por 4 numa grande parte da canção. Acho que há um lado técnico desse disco que nunca foi levado a sério porque, geralmente, as audiências acabam por abafar um bocadinho o núcleo. E acho que isso pode dar um grande chavão: penso que até na carreira da Amália há um antes e um depois dos “Amália Hoje”. (risos)
Não pode ser acusado de modéstia. (risos)
NG – Já não me acusam, depois de 40 anos já não me importa isso. Acho mesmo que despertámos uma geração que estava divorciada de Amália Rodrigues…
ST – Não acho que tenhamos chegado às pessoas por o projeto ser popularucho, acho que chegou por ter qualidade. As pessoas querem qualidade se lha derem. Se as rádios passarem boa música, se os jornais falarem dela, as pessoas vão ter qualidade e gostam dessa qualidade.
Falando do vosso novo trabalho, uma das coisas que me parece visível no trabalho do Brian Eno convosco é que ele, de alguma forma, depurou a vossa sonoridade, que tem muita coisa, permitindo que as coisas melhores fossem mais visíveis, respirassem mais.
NG – Precisamente. Acho que há um pacote e uma embalagem à volta dos Gift, maioritariamente na cabeça das pessoas, que é forrada de violinos, vozes de diva, arranjos épicos, tudo a tentar combater umas com as outras em termos de volume. É uma palete de interpretação do nosso trabalho que corresponde a alguns temas com um lado radiofónico e cheio, mas o último disco dos Gift antes deste chama–se “Primavera”, e é um disco com as teclas brancas e pretas do piano mais a voz da Sónia. Mais leveza do que isso é difícil de encontrar. Se existe uma carga dramática na voz da Sónia de que nós gostamos imenso e que o Brian apurou melhor, ainda bem que o fez.
Não acha que ele também apurou o seu trabalho, que houve um diálogo que permitiu isso?
NG – Sem dúvida, eu considero-me um felizardo por poder ter trabalhado com ele diariamente e por ele levar a sério o trabalho que nós fazemos.
ST – Isso que tu disseste é precisamente o que nós apregoamos com o “Altar”. Quando as pessoas perguntam, “o que é que o Brian fez com vocês?”, nós respondemos: “Enaltecer os nossos pontos fortes e cortar os fracos.” Foi o que aconteceu nestes anos de trabalho.
Na vossa sonoridade, mesmo neste trabalho, há uma mistura de um lado “dark” e de uma sonoridade grandiloquente semelhante a quando o festival tinha orquestras e bons maestros, de uma certa tradição portuguesa.
NG – Está a falar dos festivais, mas pode–se falar do Burt Bacharach ou do easy listening [nome inglês para o estilo de música orquestrada que surgiu na década de 50], que não é uma coisa de que eu goste particularmente, e que trago eventualmente para os Gift num ou outro arranjo, mas não é geral. Nós somos iluminados pela pop, e a pop tem um lado, se quiser chamar-lhe, de festival, luminoso, que é o oposto do sombrio. Se ouve um refrão dos Pulp, dos Suede, até dos Radiohead, há um lado que te faz respirar melhor, como o refrão do “There Is a Light That Never Goes Out”, dos Smith. Faz-te querer dançar de braços abertos, faz-te querer ser o DiCaprio de braços abertos em frente ao Titanic. E a pop tem esse lado em crescendo de que eu gosto e que nós usamos muitas vezes no Gift.
E também tem um lado sombrio.
NG – Sempre. Nós também vimos do lado negro da música.
ST – O Brian apelidou-me de little reign of darkness (risos).
NG – Completamente, nunca uma alcunha te assentou tão bem. Da mesma forma que os Cure têm “Friday I’m In Love”, também têm um “Pictures of You” e um “Homesickness”. Da mesma forma que os Depeche Mode têm um “I Just Can’t Get Enough”, também têm “Home” ou outras canções que nos levam para um sítio mais dark. A nossa história e a música que ouvimos está cheia de contrastes. E, na nossa história como músicos, mais facilmente fazemos canções quando não estamos felizes com a vida do que quando estamos contentes com ela. Porque nessa altura queremos é dançar e sair com os amigos.
Diz-se normalmente que a dor de corno dá melhores músicas que a felicidade.
NG – (Risos) Ou a tristeza, a dor de corno cada um tem a sua. Nós é mais o lado melancólico que nos atrai, sem dúvida nenhuma. Mas se calhar é também por influência direta das bandas que ouvimos.
ST – Claro, eu tenho a britpop toda na minha lista, mas aquilo que depois me atrai é sobretudo muito negro. É curioso que temos gostos muito diferentes na banda, o Nuno gosta muito dos Coldplay, eu, nem por isso. Reconheço que são fantásticos e excelentes. Mas não é a música que gosto de ouvir no carro. Reconheço que também fiquei um bocado parada nos 90, mas continuo com aquele lado mais sombrio, que é como dizia o Flood [músico que fez as misturas do “Altar”], é o deep, algumas bandas têm e outras não. E os Coldplay não têm, e os Editors já têm. É desta negritude que eu gosto, e ao Nuno já não o encanta tanto. Por isso é que fazemos músicas tão diferentes.
É uma junção de diferenças.
NG – Claro, e se fores ver os outros elementos da banda, o John é muito mais moderno, e o Nick Cave…
ST – Não é Nick Cave, é Miguel.
NG – (Risos) É verdade, mas para mim o Miguel continua a ser o Nick Cave da banda. Mas voltando à tua pergunta de há pouco, na minha opinião, uma das características que apaixonou o Brian foi ele olhar para a sala e ver o Mário Barreiros, que fazia ritmos de 7 por 3, de jazz complicadíssimo, e ele adorava isso; o Paulo Praça, com toda a sabedoria da sabedoria pop que tem dos milhões de projetos que faz; o Israel Costa Pereira, que é músico clássico, que toca guitarra clássica como ninguém; e depois nós, que crescemos numa garagem e que não somos propriamente músicos evoluídos, mas se ele nos diz, “toca esse baixo ou bateria como o rapaz dos Joy Division tocava baixo”, nós conseguimos fazer e explicar o que queremos. É também essa bagagem pop que é interessante, para nós, nos dias de hoje.
Tem algum sentido dizer que vocês são uma banda de Alcobaça, para além de terem nascido lá?
NG – Acho que se fôssemos de Lisboa não soaríamos da mesma forma. Nunca vamos conseguir provar isso.
O que acham que Alcobaça vos dá?
ST – Aquele mamarracho gigante, como dizia o Brian. “Já percebi porque é que vocês pensam sempre em grande, por causa desta coisa nesse estilo supergótico que é o mosteiro, eu percebo que as vossas vidas, vivências e crescimento na juventude tenham sido sempre com essa coisa diferente e magnífica”, que era a forma divertida de ele explicar porque gostávamos tanto destas coisas “epopeicas”. Mas é o que o Nuno diz, se tivéssemos nascido em Lisboa soaríamos diferente, e o mais provável era nem sequer nos conhecermos.
NG – Há um lado de mundo que, felizmente, temos podido usar nas nossas vidas, poder viajar e ter conhecido outras coisas. O facto de, na altura em que fizemos este disco, o John vivia no Rio de Janeiro, eu em Madrid, a Sónia em Sintra e o Miguel em Lisboa…
Sintra é visivelmente mais longe por causa do IC 19.
ST – (Risos) Para mim era o fim do mundo.
NG – Só para te explicar que o John ia ver uma banda no Rio de Janeiro, eu, outra em Madrid, o Miguel e a Sónia na Zé dos Bois, e falarmos todos os dias dava-nos um mundo, mas sempre com um lado comum que é Alcobaça.
Vocês, quando começaram, concorreram a um concurso local, uma espécie de concurso da música moderna do Rock Rendez-Vous [mítica casa de música ao vivo em Lisboa que fechou nos inícios dos anos 90], e ficaram em segundo. Lembram-se da banda que venceu?
ST – Foi uma banda chamada Paranoia, que era uma banda de metal qualquer coisa.
NG – Creio que de speed metal, que tinha a particularidade de ter uma baterista que, infelizmente, morreu uns anos depois.
Engraçado, porque há uma espécie de diferentes “escolas” da pop e do rock português: há bandas de Almada, do Porto, Lisboa, até Cascais, e Leiria e Alcobaça. Há alguma razão para a zona Centro ter este tipo de tradição?
NG – O facto de não existir muita coisa em Leiria e Alcobaça fazia com que tudo o que nós víamos e ouvíamos era feito de uma forma muito atenta. Recordo-me que falávamos do filme que passava em Alcobaça ao domingo durante cinco dias. Tudo era visto e ouvido com muita atenção porque tínhamos pouco.
ST – E estávamos lá todos ao domingo.
NG – Isso. Há esse lado deprimente, de carência, mas que depois nos dava um sentido crítico forte, e de perceber porque gostávamos das coisas. É a única justificação que eu encontro em relação a Alcobaça, porque eu não ia a Leiria. E depois havia esse concurso de que falaste, do Bar Ben, que era um motor para quem faz música. Eu não sei como era o Rock Rendez-Vous, porque era muito novo e não vinha a Lisboa, mas o que o Bar Ben fazia era, entre junho e dezembro, exibir três bandas à sexta e três bandas ao sábado, e não eram bandas de couverts, era desde rock industrial a punk, heavy metal, pop. E aquilo, para miúdos de 14-15 anos, acaba por influenciar, porque, depois de veres dezenas de bandas, tu queres é fazer música.
Devia ser um bocadinho contraditório. Tenho a ideia de que Alcobaça era uma sociedade relativamente conservadora e fechada.
ST – Acho que temos ali um oásis. É uma cidade pequena, mas há um certo snobismo cultural. Lembro-me, quando começou o Big Brother, de que as pessoas que protagonizavam o programa foram em tournée a todo o lado, e estavam na esplanada e toda a gente se estava a borrifar para eles. É nesse sentido que eu uso a ideia de snobismo: não vão em qualquer cantiga. Mas não considero uma sociedade conservadora. Percebo o que queres dizer. É mais um pequeno Twin Peaks, com as coisas estranhas que lá se passam, que uma sociedade conservadora.
No Twin Peaks há um contraste entre uma localidade fechada e normal onde acontecem coisas muito estranhas.
ST – Lembro-me que havia uma ala do mosteiro que era ocupada por um sanatório muito particular: com homens com perturbações, que saíam todos à rua à hora de almoço, que faziam a nossa infância. Eram os ceguinhos que andavam sempre os três atrás uns dos outros, com um único que via mais ou menos que os levava, era o “Bob Dylan”, um fulano que tinha uma lata e que tocava harmónica imaginária…
Só faltava o anão e o cavalo…
ST e NG – Precisamente.
NG – Só faltava a mulher do tronco.
ST – De resto, estava lá o ambiente todo. Havia também a Virgínia Salvador, que era a eterna noiva, a maluca que tinha sido abandonada no altar e que colhia flores às escondidas. Foi sempre uma cidade sui generis. Acho que nunca encontrei uma cidade desta dimensão que fosse tão particular. O Fernando [Ribeiro, dos Moon-spell], às vezes, diz-me, “isto faz-me lembrar Estremoz”, e depois diz, “esquece, não faz nada”. (risos) Não sei onde é que ele quer chegar.
Há algumas passagens do vosso disco que me fazem parecer citações e diálogos com outras bandas. Por exemplo, há temas como o “Big Fish” que me parece soar algo a Talking Heads.
NG – A única semelhança entre os Talking Heads e os Gift é o Brian Eno ter produzidos os primeiros e ter feito este disco connosco.
Sim, mas não há nada parecido com os Devo [também produzidos pelo Brian Eno]? (risos)
NG – É muito natural, pela forma como ele usou as vozes. Às vezes, elas apareciam como líderes, outras vezes como mais uma. Nesse caso, um blending das vozes todas.
ST – Eu, por exemplo, ao contrário dos meus colegas, nunca fui fã dos Talking Heads, por isso nunca os homenagearia. (risos)
NG – Mas eu percebo perfeitamente, o Brian Eno continua a ser a mesma pessoa. Há outros contributos de coisas de que o Brian gosta muito. Nós nunca tentámos trazer o funk para os Gift, e ele, muitas vezes, punha-nos a ver e ouvir músicas de funk.
ST – Cada vez que chegávamos a uma canção, tínhamos já feito muita pesquisa. Ele quis que nós ouvíssemos muito. Nós tínhamos aulas, literalmente, desde história da música a composição. E, nesse sentido, foi uma experiência única.
NG – Mas era nos dois sentidos. O que nós partilhamos com ele é um gosto por descobrir e ouvir música. Por exemplo, ele não conhecia Pigeonhed, uma banda de Seattle, e ficou maravilhado. “Como é que eu não conhecia isto?”, dizia ele. Foi este ambiente que nos permitiu chegar ao “Altar”.