Quanto vale o 5.º lugar de Frederico Morais?


“É inacreditável poder ser português e estar no World Tour (WCT). Ter um português no WCT novamente, e ser eu a representar o meu país ao mais alto nível no surf mundial, é incrível! Não tenho palavras.” As declarações são de Frederico Morais, à margem de mais uma vitória no seu caminho rumo ao 5.o…


Quanto vale este resultado desportivo? Comecemos por ele próprio. Acima de tudo, Frederico viveu e corporizou o “à terceira é de vez”. É o seu primeiro ano como residente na divisão de elite do surf mundial e, nas duas etapas antes de Bells Beach, observava-se mais capacidade do que feitos, mais compromisso do que longevidade em competição, grandes prestações e parcos resultados. Uma coisa era certa e fundamental: o nível de surf estava lá. Era apenas uma questão de continuar a trabalhar e esperar por um desfecho melhor. E foi em Bells Beach. Para Frederico, é apenas mais uma meta ultrapassada. Reforço o “apenas”. Isto porque, conhecendo a sua determinação, ele não quer mais, pensar assim seria emocional.

Racionalmente falando, sabe-se bem que ele vai trabalhar para muito mais. E vai conseguir. Para a vasta comunidade de portugueses que são fãs incondicionais de Frederico, o 5.o lugar valeu umas belas noites a dormir pouco e mal. Pouco, porque, por força da diferença horária para a Austrália, as transmissões começaram tarde e Frederico competiu muitas vezes pela madrugada fora. Mal, porque a mistura de inquietação e ansiedade por ver o nosso português a brilhar eram imensas.

E para Portugal? Mais um jackpot para a notoriedade do país enquanto destino de surf. Cada etapa da divisão de elite da World Surf League tem um retorno media de referência na ordem dos 30 milhões de euros, é seguida por cerca de 3 milhões de espetadores, os quais se espalham por uma mancha geográfica que abarca mais de 20 países. Por cada eliminatória que Frederico passou, a legitimidade de Portugal como nação de surf foi crescendo exponencialmente. A referência às nossas ondas, as inúmeras comparações com a qualidade portuguesa ou até mesmo a água fria foram tema.

Perante um campeonato inteiro onde Bells Beach esteve com ondas ao nível dos melhores sonhos, Frederico ajudou. E foi enorme. “It feels like home!” Quanto vale esta resposta, em direto, para o mundo inteiro? Tenho defendido nos mais variados fóruns que, mesmo com esforços concentrados em eventos, campanhas e variados tipos de agentes na promoção de Portugal, não devemos esquecer-nos do essencial: os surfistas portugueses. São eles os naturais embaixadores do nosso país. São eles que vendem os nossos valores, cultura, qualidades e capacidades por esse mundo fora. São eles que nos referenciam globalmente.

Frederico tem as suas raízes num país pequeno mas, ele mesmo, é um desportista sólido e grande. Voltando às palavras de Frederico, inacreditável é a sua capacidade de nos fazer dormir mal e pouco. Incrível é a sua tarefa com todo o país às costas. Nós também não temos palavras para a honra que foi acompanhar a sua prestação na mais antiga prova do surf mundial. E que honra! Venha a próxima. Boa sorte!