Dom* Dijsselbloem. O Unificador

Dom* Dijsselbloem. O Unificador


O socialista holandês conseguiu aquilo de que poucos se podem gabar: juntar um afinado coro de críticas da esquerda à direita


O Unificador. Este seria o cognome ideal para apelidar o súbdito holandês Jeroen Dijsselbloem, ao conseguir unir esquerda e direita no dividido parlamento português. Na base desta inusitada ‘aliança’ estão as palavras do ministro das Finanças holandês e ainda presidente do Eurogrupo numa entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung.

“Durante a crise do euro, os países do Norte mostraram solidariedade com os países afectados pela crise. Como social-democrata, atribuo uma importância extraordinária à solidariedade. Mas também deve haver obrigações: não se pode gastar todo o dinheiro em copos e mulheres e depois pedir ajuda”, disse o socialista Dijsselbloem.

Estavam criadas as condições para palavras de repúdio vindas de todas as bancadas que vão ser apreciadas e votadas em plenário da próxima sexta-feira. Uns pedem que o presidente do Eurogrupo emita um pedido de desculpas público e se retrate (PS e BE), outros que Dijsselbloem se demita ou seja demitido das funções que ocupa no grupo de países do euro.

No voto apresentado pelo PS, os socialistas condenam “com veemência as declarações inaceitáveis do atual presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, e exige ao próprio e ao governo a que ainda pertence a emissão de um pedido de desculpas público a todos os cidadãos visados”.

Já o texto dos bloquistas expressa “o seu mais veemente repúdio pelas declarações proferidas pelo atual Presidente do Eurogrupo Jeroen Dijsselbloem e exige a sua imediata retratação”.

O PSD, que tem entre os subscritores do voto o presidente do partido e ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho “repudia as declarações proferidas pelo atual Presidente do Eurogrupo e considera-as incompatíveis com a permanência de Jeroen Dijsselbloem no cargo que ocupa no seio do Eurogrupo”.

O CDS, antigo parceiro dos sociais-democratas no anterior governo, “expressa o seu mais veemente repúdio pelas declarações públicas produzidas pelo atual Presidente do Eurogrupo, reprova a disseminação de preconceitos de natureza cultural e civilizacional entre países do Norte e países do Sul, e insta à demissão imediata do Presidente do Eurogrupo”.

Por último o PCP “expressa o seu protesto e repúdio pelas afirmações insultuosas do presidente do Eurogrupo relativamente a Portugal e reclama o seu afastamento desse cargo”.

Perante este cenário de unanimismo na condenação das palavras do dirigente do partido Trabalhista holandês – parceiro do PS na Internacional Socialista e na Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu – e apesar de ser ainda desconhecido o sentido de voto de cada uma das bancadas relativamente aos votos das restantes, admite-se que todos os textos acabem por ser aprovados com maior ou menor número de votos e mais ou menos abstenções.

As palavras de Jeroen Dijsselbloem mereceram, a partir do momento que se tornaram conhecidas, as mais veementes críticas das autoridades de Lisboa. O primeiro a abrir as hostilidades contra o holandês foi o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva. A partir de Washington, logo na terça-feira, Santos Silva classificou as declarações como “muito infelizes e, do ponto de vista português, absolutamente inaceitáveis.”

“Hoje, no Parlamento Europeu, muita gente entende que o presidente do Eurogrupo não tem condições para permanecer à frente do Eurogrupo e o governo português partilha dessa opinião”, atirou.

Ontem logo de manhã, o primeiro-ministro, António Costa, considerou que “a Europa não se faz com Dijsselbloems”.

“Numa Europa a sério, o sr. Dijsselbloem já estava demitido. É inaceitável que uma pessoa que tem um comportamento como ele teve, uma visão xenófoba, racista e sexista sobre parte dos países da União Europeia possa exercer funções de presidência de um organismo como o Eurogrupo”, disse Costa.

Já o Presidente da República, que ontem esteve no Parlamento Europeu, lembrou que “não há Europa do Sul, do Leste, do Oeste, do Norte”. “Nós somos diferentes, mas unidos. Neste momento precisamos é de declarações que sublinhem a nossa união, não as nossas divisões”, rematou. Anteriormente, Marcelo já tinha assumido que subscrevia na íntegra as declarações, em nome do Estado português, proferidas por Augusto Santos Silva. com Margarida Davim

 

* Dom = estúpido, parvo, em holandês