O mal dos partidos políticos portugueses é não terem suficiente massa crítica que os impedisse de seguir uma estratégia completamente errada. Em Março de 2011, nas vésperas da chegada da troika, e quando era evidente o colapso a que se tinha conduzido o país, o PS reelegeu José Sócrates com 93,3% dos votos. Agora, no PSD, Passos Coelho consegue ver sufragada a sua estratégia para as autárquicas, quando é absolutamente evidente que a mesma vai conduzir o partido ao desastre.
Passos Coelho subestimou completamente a geringonça, convencido que esta se estamparia na primeira curva, e que rapidamente o chamariam de novo ao governo, se necessário através de novas eleições legislativas. Por isso não preparou adequadamente as eleições autárquicas, que foi sempre desvalorizando e adiando. Ora, essas eleições eram absolutamente fundamentais para demonstrar a falta de legitimidade do actual governo, para o que seria necessária uma vitória esmagadora do centro-direita nas principais câmaras. Por isso essas eleições tinham que ser preparadas com tempo e eficácia.
Vendo isto, Assunção Cristas decidiu avançar logo, rompendo definitivamente com a hipótese de uma coligação de centro-direita, e abandonando Passos Coelho à sua sorte. Com isso o CDS, apesar de sozinho ter objectivos eleitorais modestos, foi ocupando o terreno com uma aposta forte, aos mesmo tempo que os partidos da esquerda também foram colocando as suas peças. Mas Passos Coelho continuou a desvalorizar as autárquicas, sempre à espera de um Godot que nunca veio, e à última hora só tinha para apresentar como candidatos às principais câmaras do país pessoas do seu círculo restrito. É manifesto que assim se dá uma imagem de isolamento e de falta de ambição, que é péssima em termos eleitorais.
Há muito tempo que este governo não tem uma oposição consistente. Agora também se adopta uma estratégia desastrosa para umas eleições que era absolutamente fundamental ganhar. Até quando continuaremos neste caminho?
Professor da Faculdade de Direito de Lisboa
Escreve à terça-feira