Para se perceber o resultado de uma decisão é preciso enumerar e entender as condições e as circunstâncias que produzem esse resultado. A frase, que é uma verdade de La Palisse de tão evidente e ridícula que é, não deixa de ter um certo sentido nesta questão autárquica, em particular, sobretudo, se atentarmos a um conjunto de evidências que invariavelmente caminhavam para o protagonismo de desfecho semelhante. E não escrevo isto com qualquer sentimento de menoridade, preconceito ou desilusão em relação à escolha que o meu partido fez para o difícil desafio autárquico em Lisboa. Antes pelo contrário, a candidatura de Teresa Leal Coelho é mote de orgulho, consideração e motivação para todos (ou quase todos) os militantes, simpatizantes e votantes do PSD. Por uma razão muito simples. Aceitou liderar um difícil desafio quando todos os outros, sondados e sondadores, preferiram o conforto das suas vidas pessoais e profissionais, a tática política expectante de um futuro partidário mais condizente com as suas vontades, ainda que imaginário, a deliberada dissociação oportunista muito própria de quem espreita na curva à espera de melhores dias e circunstâncias.
Já sabemos todos que Teresa Leal Coelho não foi a primeira opção, talvez nem a segunda, mas foi sobre ela que recaiu a escolha deste desafio. Mas não só. Foi ela quem o aceitou e isso diz muito sobre ela, mas diz mais ainda sobre o estado do PSD. Estado que a análise mais fácil e aprazível do momento político associa a uma responsabilidade direta de Passos Coelho, mas que a análise ponderada considerando todas as manifestações públicas da larga maioria de notáveis laranjas, desde que ele é presidente do PSD, recolhe opinião diferente.
Afinal de contas, foi Passos que afastou os notáveis do PSD, ou foram os notáveis de um certo PSD representativo dos interesses instalados, dos negócios com o centrão, que deliberadamente se afastaram de Passos, da sua governação e do caminho que defende para o nosso país?
É evidente que isso tem custos e consequências, mas são sempre daquelas que valem a pena correr. É inquestionável que Passos transformou o PSD que, em certa medida, o refundou e recentrou naquele que é o seu objetivo principal. Ou seja, contribuir para um modelo de desenvolvimento diferente, para a transformação do nosso país libertando-lhe as amarras de certos interesses que ao longo da nossa história democrática nos afunilaram e sufocaram numa sociedade desigual de elites políticas e económicas conspurcadas para quem o exercício do poder assentava fundamentalmente num exercício de auto-governação em detrimento de uma real governação coletiva.
Por isso dizer que Passos está reduzido aos seus mais próximos quando recorre a Teresa Leal Coelho para um combate difícil quando todos os outros fizeram questão de lhe voltar costas e ao partido que fez deles o que são é, ao contrario do que alguns nos pretendem fazer crer, o melhor dos elogios que lhe poderiam fazer. No dia em que Passos se rodear daqueles que não lhe são próximos e se rodear daqueles que durante anos pululam nas televisões e jornais com o objetivo de o fragilizar, é o dia em que Passos falhou. Consigo próprio, com aquilo a que se propôs e com todos aqueles que estiveram consigo desde o primeiro dia e que viram nele uma audácia de esperança e de mudança.
Ainda muito se fala de Sá Carneiro no PSD, mas com profundo desconhecimento sobre o seu percurso, sobre o seu pensamento e sobre o projeto que, já naquele tempo, tinha para o país. Talvez Passos, tal como ele tantas vezes, nunca esteve tão só, mas tão certo de quem tem razão.
Deputado.
Escreve à segunda-feira