Passem os anos que passarem, haja os exemplos que houver, há uma coisa que não muda: a ideia peregrina dos treinadores portugueses em povoar o meio-campo de jogadores de tração defensiva nos jogos mais complicados – nomeadamente nas competições europeias, particularmente na Liga dos Campeões. É uma irresistível atração que puxa para o ajuntamento central – e que, regra geral, resulta em desastre. Assim que souberam a constituição inicial, nenhum adepto encarnado conseguiu disfarçar o franzir do sobrolho e os suores frios. E com razão.
Qual fezada à Andrade, que a dada altura da sua permanência no Benfica só era chamado ao onze nos jogos grandes para marcar ora Deco, ora João Vieira Pinto – e que invariavelmente acabava expulso –, Rui Vitória entendeu por bem reforçar o meio-campo com André Almeida ao lado de Samaris, adiantando Pizzi para fazer a ponte entre os “trincos” e o ponta de lança Mitroglou. Uma surpresa, amplificada ainda mais com a ida do campeão europeu Rafa, contratação sonante – e milionária – do Benfica para esta época… para a bancada. Ao lado, já agora, de outro reforço para o meio-campo: o brasileiro Filipe Augusto.
No onze, surgia ainda Cervi, à esquerda, depois de Zivkovic ter sido o titular frente ao Feirense e Carrillo ter ocupado aquele posto na primeira mão perante os alemães. Esperava-se velocidade e fantasia suficientes para equilibrar a falta de “caparro” do argentino.
uns erros pagam-se, outros não O início parecia a continuação do jogo da primeira mão – e foi assim até ao Dortmund chegar ao golo. Também não demorou muito: corria o minuto 3 e já Aubameyang se começava a redimir do chorrilho de falhanços na Luz, com um cabeceamento fulminante que desta vez não deu hipóteses a Ederson, na sequência de um canto. Logo a seguir, mais duas ameaças alemãs, com Dembélé e Bartra a assustar.
A partir dos 20 minutos, porém, a coisa equilibrou. Mesmo com mais gente de tração atrás, o Benfica soltou-se muito mais do que havia feito na primeira mão, passou mais tempo no meio-campo contrário e criou até ocasiões de verdadeiro perigo, como aos 25’, quando um cruzamento atrasado de Nélson Semedo – que ficou a dormir no golo de Aubameyang – encontrou um Cervi sozinho na área. Tivesse o argentino rematado “à homem”… e a conversa seria outra.
Na primeira parte, ainda houve dois cabeceamentos perigosos, um de cada lado (Luisão e Pulisic), e uma expulsão perdoada a Dembélé, que arriscou muito – mesmo muito – em dois lances quase seguidos com Eliseu.
Começa a segunda… e o canto do cisne para o Benfica: uma enorme oportunidade para Cervi, que esquecido na zona frontal da área contrária, desta vez fuzilou. Agora, o problema foi a direção: o carrinho de Piszczek, a emendar a rosca inicial, impediu o golo.
E o Benfica acabou aqui. De rajada, Ederson fez mais duas defesas monumentais – embora com o jogo já parado por fora de jogo. Eram os avisos para o que aí viria: Pulisic, primeiro, e Aubameyang depois (duas vezes, embora em fora de jogo na segunda) aproveitaram o vazio existente entre os defesas encarnados – e o pobre Ederson não pode chegar para tudo.
Na antevisão, lembrávamos que havia história para todos os gostos. Desta feita, a supremacia alemã falou mais alto: o Dortmund continua a somar apenas vitórias em receções a conjuntos portugueses – são agora seis em seis. E o Benfica, que nunca tinha caído nos oitavos, percebeu que há mesmo uma primeira vez para tudo.