Marcelo, o Idóneo


Num Portugal cheio de casos de corrupção, negócios escuros, decisões políticas e económicas ruinosas ou dolosas, a idoneidade de Marcelo é um refúgio de confiança para os cidadãos.


Vendo bem, Marcelo ainda só cumpriu dez por cento do tempo dos anteriores Presidentes da República (PR) da democracia, mas encheu dez vezes mais o tempo e o ego dos seus concidadãos do que qualquer um dos seus antecessores.

No entanto, é verdade que Eanes, Soares, Sampaio e Cavaco tinham igualmente uma popularidade enorme ao fim de um ano em Belém. Há mesmo sondagens que indicam que Cavaco batia Marcelo, o que não admira, pois era a época em que ainda andava de braço dado com Sócrates, ao jeito da dupla Marcelo-Costa.

É verdade igualmente que um Presidente é ele e as suas circunstâncias. Ora, o primeiro ano de mandato de Marcelo, que amanhã se assinala, coincide com a existência de um governo esquisito e inesperado do ponto de vista político, mas que aplicou um programa diferente, sustentado por comunistas e bloquistas. António Costa mudou a agulha, devolveu algum dinheiro a certas pessoas, aproveitou o clima de expansão económica muito resultante do turismo e outras exportações, procurou apoiar as franjas mais frágeis da população e praticou sub-repticiamente uma austeridade pesada feita de impostos indiretos, fazendo com que quem menos pode menos compre, em vez de aplicar os cortes na fonte.

Face ao governo que encontrou, Marcelo não se pôs com dúvidas metafísicas e complexos direitistas. Fez o que a sua inteligência, habilidade política e experiência aconselhava: mobilizou a população, sentou-se no barco e desatou a remar furiosamente no mesmo sentido que Costa, estimulando a tripulação governamental, fazendo saber que tanto faz ser esta como outra qualquer porque, para ele, qualquer governo é do Presidente, na medida em que o Presidente é o Estado, ou seja, todos os portugueses, estejam cá ou lá fora.

Baseado numa agenda frenética, Marcelo desenvolveu ainda mais a sua relação extraordinária e desformalizada com os jornalistas e, sobretudo, com a população, com a qual comunica diretamente, tal como Mário Soares nos primeiros tempos de Belém. Já na política substancial, o PR tem mediado, estimulado, falado muito e, normalmente, bem, sem deixar de aconselhar, chamar a atenção e até divergir, mas aí geralmente de forma muito discreta ou até críptica quando usa a palavra. Mas, reconheça-se, também soube ser muito duro, como se viu no inédito comunicado que deixou Centeno de rastos.

Não sendo tão irritantemente otimista como António Costa (para usar a própria definição do PR sobre o primeiro-
-ministro), Marcelo sabia que tristezas não pagam dívidas e que, para sair da situação depressiva em que estávamos, só havia a solução de relançamento que Costa adotou e que já vinha sendo recomendada pela Europa e o FMI, uma vez constatado o fracasso das políticas à moda de Vítor Gaspar, que ia acabando com o pouco que restava de um país deixado em cacos pela inqualificável dupla Sócrates e Teixeira dos Santos (agora espantosamente à frente do BIC). Claro que não estamos livres de virem aí tempos mais difíceis por causa da economia ou da sombria evolução populista da Europa e de um mundo cujos três países mais importantes são liderados por um louco americano e ditadores sediados em Moscovo e Pequim. Se os tempos mudarem para pior, será de esperar que Marcelo adapte o seu papel, ajudando nas políticas internas e externas que se revelarem necessárias, mesmo as difíceis e impopulares.

Mas há uma característica relevante em Marcelo que é hoje a mais importante de todas. É que os portugueses o consideram um homem sério, honesto, sem mácula, sem negócios estranhos passados, sem ambiguidades financeiras e patrimoniais. Não negando ser amigo de quem é, Marcelo nunca foi atacado por nada que se possa aproximar de qualquer ato económico menos lícito ou sequer duvidoso. Ora, num país que está podre de corrupção, com banqueiros que roubaram os seus próprios bancos, com reguladores de vários setores que deixaram andar, com grandes executivos da PT suspeitos de venalidade, com antigos governantes envolvidos em teias mafiosas e outros queimados em lume brando por uma justiça às vezes persecutória, com ex-secretários de Estado e ministros que mentem sem pudor no parlamento, com autarcas a enriquecerem de forma estranha, com armas a desaparecerem da polícia, com negociatas em meios militares, com procuradores acusados de serem comprados e com uma teia de gente altamente colocada que vendia vistos de ouro a chineses ricos, é essencial ter um Presidente da República inquestionável quanto à sua idoneidade, para utilizar uma palavra da moda.

Essa idoneidade indiscutível dá a Marcelo uma acrescida autoridade moral que pode somar à sua enorme legitimidade política, um campo em que um ou outro deslize se admite por excesso de voluntarismo. Mas isso são “peanuts” ao pé de uma vida económica transparente e linear. É desse exemplo de seriedade que Portugal precisa mais do que nunca, pois tem pouca gente assim na política e em todas as áreas de responsabilidade social. No domínio da probidade, Marcelo Rebelo de Sousa é um castelo que ninguém pode assaltar. Valha-nos isso.

Jornalista


Marcelo, o Idóneo


Num Portugal cheio de casos de corrupção, negócios escuros, decisões políticas e económicas ruinosas ou dolosas, a idoneidade de Marcelo é um refúgio de confiança para os cidadãos.


Vendo bem, Marcelo ainda só cumpriu dez por cento do tempo dos anteriores Presidentes da República (PR) da democracia, mas encheu dez vezes mais o tempo e o ego dos seus concidadãos do que qualquer um dos seus antecessores.

No entanto, é verdade que Eanes, Soares, Sampaio e Cavaco tinham igualmente uma popularidade enorme ao fim de um ano em Belém. Há mesmo sondagens que indicam que Cavaco batia Marcelo, o que não admira, pois era a época em que ainda andava de braço dado com Sócrates, ao jeito da dupla Marcelo-Costa.

É verdade igualmente que um Presidente é ele e as suas circunstâncias. Ora, o primeiro ano de mandato de Marcelo, que amanhã se assinala, coincide com a existência de um governo esquisito e inesperado do ponto de vista político, mas que aplicou um programa diferente, sustentado por comunistas e bloquistas. António Costa mudou a agulha, devolveu algum dinheiro a certas pessoas, aproveitou o clima de expansão económica muito resultante do turismo e outras exportações, procurou apoiar as franjas mais frágeis da população e praticou sub-repticiamente uma austeridade pesada feita de impostos indiretos, fazendo com que quem menos pode menos compre, em vez de aplicar os cortes na fonte.

Face ao governo que encontrou, Marcelo não se pôs com dúvidas metafísicas e complexos direitistas. Fez o que a sua inteligência, habilidade política e experiência aconselhava: mobilizou a população, sentou-se no barco e desatou a remar furiosamente no mesmo sentido que Costa, estimulando a tripulação governamental, fazendo saber que tanto faz ser esta como outra qualquer porque, para ele, qualquer governo é do Presidente, na medida em que o Presidente é o Estado, ou seja, todos os portugueses, estejam cá ou lá fora.

Baseado numa agenda frenética, Marcelo desenvolveu ainda mais a sua relação extraordinária e desformalizada com os jornalistas e, sobretudo, com a população, com a qual comunica diretamente, tal como Mário Soares nos primeiros tempos de Belém. Já na política substancial, o PR tem mediado, estimulado, falado muito e, normalmente, bem, sem deixar de aconselhar, chamar a atenção e até divergir, mas aí geralmente de forma muito discreta ou até críptica quando usa a palavra. Mas, reconheça-se, também soube ser muito duro, como se viu no inédito comunicado que deixou Centeno de rastos.

Não sendo tão irritantemente otimista como António Costa (para usar a própria definição do PR sobre o primeiro-
-ministro), Marcelo sabia que tristezas não pagam dívidas e que, para sair da situação depressiva em que estávamos, só havia a solução de relançamento que Costa adotou e que já vinha sendo recomendada pela Europa e o FMI, uma vez constatado o fracasso das políticas à moda de Vítor Gaspar, que ia acabando com o pouco que restava de um país deixado em cacos pela inqualificável dupla Sócrates e Teixeira dos Santos (agora espantosamente à frente do BIC). Claro que não estamos livres de virem aí tempos mais difíceis por causa da economia ou da sombria evolução populista da Europa e de um mundo cujos três países mais importantes são liderados por um louco americano e ditadores sediados em Moscovo e Pequim. Se os tempos mudarem para pior, será de esperar que Marcelo adapte o seu papel, ajudando nas políticas internas e externas que se revelarem necessárias, mesmo as difíceis e impopulares.

Mas há uma característica relevante em Marcelo que é hoje a mais importante de todas. É que os portugueses o consideram um homem sério, honesto, sem mácula, sem negócios estranhos passados, sem ambiguidades financeiras e patrimoniais. Não negando ser amigo de quem é, Marcelo nunca foi atacado por nada que se possa aproximar de qualquer ato económico menos lícito ou sequer duvidoso. Ora, num país que está podre de corrupção, com banqueiros que roubaram os seus próprios bancos, com reguladores de vários setores que deixaram andar, com grandes executivos da PT suspeitos de venalidade, com antigos governantes envolvidos em teias mafiosas e outros queimados em lume brando por uma justiça às vezes persecutória, com ex-secretários de Estado e ministros que mentem sem pudor no parlamento, com autarcas a enriquecerem de forma estranha, com armas a desaparecerem da polícia, com negociatas em meios militares, com procuradores acusados de serem comprados e com uma teia de gente altamente colocada que vendia vistos de ouro a chineses ricos, é essencial ter um Presidente da República inquestionável quanto à sua idoneidade, para utilizar uma palavra da moda.

Essa idoneidade indiscutível dá a Marcelo uma acrescida autoridade moral que pode somar à sua enorme legitimidade política, um campo em que um ou outro deslize se admite por excesso de voluntarismo. Mas isso são “peanuts” ao pé de uma vida económica transparente e linear. É desse exemplo de seriedade que Portugal precisa mais do que nunca, pois tem pouca gente assim na política e em todas as áreas de responsabilidade social. No domínio da probidade, Marcelo Rebelo de Sousa é um castelo que ninguém pode assaltar. Valha-nos isso.

Jornalista