O futebol empolgante do início da temporada, num 4-3-3 assente maioritariamente nos desequilíbrios provocados por Otávio e Corona nas alas, rapidamente deu lugar a várias tentativas de evoluir para um 4-4-2 híbrido onde foram testados Depoitre e Adrián López ao lado de André Silva, até por lá se fixar Diogo Jota ao longo de meses a fio.
Otávio deambulou da ala esquerda para o meio – no sentido de melhorar o jogo interior – e do meio para o departamento médico, afastado por lesão prolongada. Chegara a hora de Brahimi, que entrou de rompante na equipa mas rapidamente partiu para a CAN, deixando novamente o conjunto órfão de um desequilibrador nato. Isto já com a janela do mercado de inverno escancarada… Foi aí, nesse contexto de mutação constante, que o FC Porto avançou para uma contratação cirúrgica que pode vir a ser recordada como o momento em que a Liga 2016/17 virou: Soares.
Apenas um jogador, apenas uma posição, mas uma tremenda revolução na matriz de jogo dos dragões. Menos posse de bola, menos remates, menos circulação na zona intermediária. Mais eficácia, mais agressividade sem bola, mais verticalidade nas transições ofensivas. E, de repente, eis o FC Porto a morder os calcanhares ao líder Benfica, a escassas semanas do clássico da Luz que pode decidir (quase) tudo antes da hora. É certo que Nuno ainda segue atrás, ainda não ganhou nada e ainda tem de mostrar fibra para aguentar a pressão das dez últimas jornadas. Mas como ignorar as suas palavras repetidas anteriormente até à exaustão, se fazem agora mais sentido do que nunca?
“O ADN constrói-se no dia-a-dia. (…) Queremos jogar à Porto. (…) Independentemente do sistema tático, há três pilares que são a nossa base: compromisso, cooperação e comunicação. Tudo isso faz a união. Se à união juntarmos a determinação, temos a atitude. (…) As nossas ideias são mais importantes do que o modelo de jogo.”
Pareciam meros chavões escritos para as conferências de imprensa, certo? Mas o tempo acabou por dar-lhe razão. Eis um FC Porto forte e pujante, com novas ideias de jogo, em plena luta pelo título como há muito não se via. Tem a palavra Rui Vitória e o seu Benfica, a quem compete aguentar esta inesperada pressão azul-e-branca. Esta reta final da Liga promete… e de que maneira!