Luís Montenegro, o homem-orquestra do PSD


Desde 2011 que o líder parlamentar social-democrata tem carregado o piano, defendendo os governos de Passos antes e depois de caírem e dando agora a cara em todas as investidas antigeringonça


1) Notícias recentes indicam que Luís Montenegro deixa a liderança parlamentar do PSD em novembro, por ter atingido o limite de mandatos possíveis naquela função. Consequentemente, o PSD perde o dirigente que tem sido mais constante, mais interventor e mais referencial nos últimos anos, possuidor de um conjunto de características pessoais e políticas que o tornaram um político de dimensão nacional.

Pessoais, porque Montenegro transporta uma certa bonomia e ironia constantes que o tornam uma figura com boa aceitação popular e mediática, dotado de boa capacidade de argumentação, sem recorrer em excesso ao falso ar de zangado e indignado que outros usam no terreno parlamentar, mas que logo desaparece quando chegam ao café da Assembleia. Firmeza não tem necessariamente de ser acompanhada de barulho ou enxovalhos ao adversário político.

Políticas, porque Montenegro tem sido nos últimos anos, tanto quando o PSD e o CDS estavam no governo como, agora, na oposição, a personalidade que tem aguentado os muitos momentos complexos que os sociais-democratas têm passado, conseguindo superar as falhas de uma direção nacional muitas vezes inexistente, errática e desnorteada, como se vê no processo autárquico, onde se chega ao ponto ridículo de haver quem, investido em relevantes funções partidárias, já esteja disponível para aceitar a humilhação política de ir a reboque de Assunção Cristas para a Câmara de Lisboa.

Antes da geringonça, Montenegro era o primeiro protagonista da defesa de situações políticas e governativas difíceis, surrealistas ou graves. Atualmente lidera na prática a oposição, perante a sistemática ausência de intervenções no parlamento por parte de Passos Coelho que, normalmente, tem evitado o confronto com o dialético António Costa. 

Sendo uma figura mais próxima do norte e do litoral-centro do país político, onde tem bons amigos e apoios, Luís Montenegro conseguiu em Lisboa e na política egocêntrica da capital construir uma imagem positiva que credibiliza eventuais ambições políticas futuras. Por isso também, tem sido frequente a referência à hipótese de ser um potencial candidato à liderança do PSD, no dia em que Passos sair.

É uma hipótese efetivamente plausível. Montenegro poderia reunir condições internas no PSD, contando até seguramente com o apoio de parte da máquina, de barões e, eventualmente, do atual líder, a quem tem demonstrado uma lealdade rara, mesmo quando se percebe que não está propriamente a defender certas coisas com a convicção que teria se concordasse plenamente com elas. Mas isso é o quotidiano de todos os que intervêm na vida política, num certo patamar de responsabilidades. Em termos de postura e de lealdade, Montenegro remete para o tipo de personalidade de Fernando Nogueira, que foi longos anos o primeiro apoio de Cavaco Silva, só avançando para a liderança quando este a deixou. Tal como Nogueira, Montenegro mostra que não vive de fogachadas políticas, mas antes de empenho e trabalho permanente. Evidentemente que, na política, o futuro é coisa sobre a qual não se pode dar nada como certo e seguro.

Mesmo assim, para Montenegro, é possível que deixar a liderança parlamentar acabe por ser a oportunidade para se concentrar mais na sua ação política pessoal e menos na defesa do coletivo, deixando de carregar o piano, às vezes, praticamente sozinho, ou de ser o homem–orquestra que toca quase todos os instrumentos enquanto outros ficam a ver dos camarotes.

2) Como se previa, Henrique Granadeiro e Zeinal Bava (dois ex-génios da gestão) integraram o lote de duas dezenas de arguidos da Operação Marquês, onde pontificam José Sócrates e Ricardo Salgado (um ex-génio da política e um ex-mago das finanças). Espera-se que a decisão do procurador Rosário Teixeira e do juiz Carlos Alexandre não protele novamente o fecho do processo, o que seria mais uma machadada na justiça e no direito dos cidadãos de não andarem dezenas de anos sob investigações e julgamentos. Até porque a lentidão da justiça convém aos culpados e prejudica os inocentes, embora inocentes não devam abundar neste e noutros casos relacionados.

3) A nossa PSP merecia uma comissão de inquérito parlamentar, desde que esta se distinguisse das habituais por chegar a conclusões claras. De facto, é urgente saber como foi possível roubarem-se, do seu principal comando, 57 pistolas, carregadores e munições que entraram logo no mercado sinistro das armas, onde abundam terroristas e bandos violentos. De passagem também se podia investigar as razões do fecho da esquadra das Avenidas Novas, em Lisboa, que era uma presença tranquilizadora para a população. Agora, quem quiser ir à polícia na zona tem de ir à do tribunal, ao lado da prisão de Lisboa. Se for a pé, tem esplêndidas condições para ser assaltado e agredido, dados os espaços desertos e sinistros que tem de percorrer. E ninguém é demitido! Já agora, que destino vai ser dado à esquadra fechada? Mais um hostel?


Luís Montenegro, o homem-orquestra do PSD


Desde 2011 que o líder parlamentar social-democrata tem carregado o piano, defendendo os governos de Passos antes e depois de caírem e dando agora a cara em todas as investidas antigeringonça


1) Notícias recentes indicam que Luís Montenegro deixa a liderança parlamentar do PSD em novembro, por ter atingido o limite de mandatos possíveis naquela função. Consequentemente, o PSD perde o dirigente que tem sido mais constante, mais interventor e mais referencial nos últimos anos, possuidor de um conjunto de características pessoais e políticas que o tornaram um político de dimensão nacional.

Pessoais, porque Montenegro transporta uma certa bonomia e ironia constantes que o tornam uma figura com boa aceitação popular e mediática, dotado de boa capacidade de argumentação, sem recorrer em excesso ao falso ar de zangado e indignado que outros usam no terreno parlamentar, mas que logo desaparece quando chegam ao café da Assembleia. Firmeza não tem necessariamente de ser acompanhada de barulho ou enxovalhos ao adversário político.

Políticas, porque Montenegro tem sido nos últimos anos, tanto quando o PSD e o CDS estavam no governo como, agora, na oposição, a personalidade que tem aguentado os muitos momentos complexos que os sociais-democratas têm passado, conseguindo superar as falhas de uma direção nacional muitas vezes inexistente, errática e desnorteada, como se vê no processo autárquico, onde se chega ao ponto ridículo de haver quem, investido em relevantes funções partidárias, já esteja disponível para aceitar a humilhação política de ir a reboque de Assunção Cristas para a Câmara de Lisboa.

Antes da geringonça, Montenegro era o primeiro protagonista da defesa de situações políticas e governativas difíceis, surrealistas ou graves. Atualmente lidera na prática a oposição, perante a sistemática ausência de intervenções no parlamento por parte de Passos Coelho que, normalmente, tem evitado o confronto com o dialético António Costa. 

Sendo uma figura mais próxima do norte e do litoral-centro do país político, onde tem bons amigos e apoios, Luís Montenegro conseguiu em Lisboa e na política egocêntrica da capital construir uma imagem positiva que credibiliza eventuais ambições políticas futuras. Por isso também, tem sido frequente a referência à hipótese de ser um potencial candidato à liderança do PSD, no dia em que Passos sair.

É uma hipótese efetivamente plausível. Montenegro poderia reunir condições internas no PSD, contando até seguramente com o apoio de parte da máquina, de barões e, eventualmente, do atual líder, a quem tem demonstrado uma lealdade rara, mesmo quando se percebe que não está propriamente a defender certas coisas com a convicção que teria se concordasse plenamente com elas. Mas isso é o quotidiano de todos os que intervêm na vida política, num certo patamar de responsabilidades. Em termos de postura e de lealdade, Montenegro remete para o tipo de personalidade de Fernando Nogueira, que foi longos anos o primeiro apoio de Cavaco Silva, só avançando para a liderança quando este a deixou. Tal como Nogueira, Montenegro mostra que não vive de fogachadas políticas, mas antes de empenho e trabalho permanente. Evidentemente que, na política, o futuro é coisa sobre a qual não se pode dar nada como certo e seguro.

Mesmo assim, para Montenegro, é possível que deixar a liderança parlamentar acabe por ser a oportunidade para se concentrar mais na sua ação política pessoal e menos na defesa do coletivo, deixando de carregar o piano, às vezes, praticamente sozinho, ou de ser o homem–orquestra que toca quase todos os instrumentos enquanto outros ficam a ver dos camarotes.

2) Como se previa, Henrique Granadeiro e Zeinal Bava (dois ex-génios da gestão) integraram o lote de duas dezenas de arguidos da Operação Marquês, onde pontificam José Sócrates e Ricardo Salgado (um ex-génio da política e um ex-mago das finanças). Espera-se que a decisão do procurador Rosário Teixeira e do juiz Carlos Alexandre não protele novamente o fecho do processo, o que seria mais uma machadada na justiça e no direito dos cidadãos de não andarem dezenas de anos sob investigações e julgamentos. Até porque a lentidão da justiça convém aos culpados e prejudica os inocentes, embora inocentes não devam abundar neste e noutros casos relacionados.

3) A nossa PSP merecia uma comissão de inquérito parlamentar, desde que esta se distinguisse das habituais por chegar a conclusões claras. De facto, é urgente saber como foi possível roubarem-se, do seu principal comando, 57 pistolas, carregadores e munições que entraram logo no mercado sinistro das armas, onde abundam terroristas e bandos violentos. De passagem também se podia investigar as razões do fecho da esquadra das Avenidas Novas, em Lisboa, que era uma presença tranquilizadora para a população. Agora, quem quiser ir à polícia na zona tem de ir à do tribunal, ao lado da prisão de Lisboa. Se for a pé, tem esplêndidas condições para ser assaltado e agredido, dados os espaços desertos e sinistros que tem de percorrer. E ninguém é demitido! Já agora, que destino vai ser dado à esquadra fechada? Mais um hostel?