França. Geringonça à vista nas eleições?

França. Geringonça à vista nas eleições?


Depois da desistência do centrista Bayrou para apoiar Macron, é a vez do candidato dos verdes desistir para apoiar Benoît Hamon. 


O  candidato socialista, Benoît Hamon, aceitou a proposta do candidato da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, para conversarem sobre as presidenciais francesas e a possível junção de forças da esquerda. Um outro candidato de esquerda, o ecologista Yannick Jadot, vai desistir da corrida 

O candidato presidencial do Partido Socialista Francês, Benoît Hamon, respondeu favoravelmente à proposta do candidato mais à esquerda, Jean-Luc Mélenchon, de discutirem em conjunto a situação política e as eleições de abril. O socialista sublinhou que é o que tem «melhores condições» de encarnar uma candidatura comum à esquerda.

O candidato apoiado pelo Partido Comunista Francês e pelos dissidentes de esquerda dos socialistas, que formou o movimento França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, cotado nas sondagens com 12% dos votos (Benoît está cotado com 16% nessas mesmas sondagens), declarou-se. na quinta-feira, «aberto à discussão» com Benoît Hamon. Em resposta, o socialista afirmou que estava disponível para o diálogo: «Eu disse-lhe que aceito de boa vontade a sua proposta e que proponho que possamos convidar também para esta conversa outros, como Yannick Jadot, para ver em que condições a esquerda se pode unir».  E acrescentou que se Melénchon e os comunistas estão dispostos a pensar uma candidatura comum, ele participará nas discussões «com muito prazer». 

A conversa entre os dois candidatos com mais intenções de votos na esquerda está prevista realizar-se este domingo. 

Recorde-se que embora os candidatos de esquerda somem quase 30% nas sondagens, a probabilidade de passarem à segunda volta, dada a pulverização de candidaturas, é reduzida. Caso houvesse uma candidatura comum estariam na segunda volta com Marine Le Pen. 

Por sua vez, o candidato ecologista anunciou na quinta-feira que renunciaria à sua candidatura em troca de uma aliança com Benoît Hamon. 

Apesar deste encontro previsto entre Benoît e Mélenchon é pouco provável que qualquer um dos candidatos aceite retirar a candidatura para o outro.   

O candidato do Partido Socialista já fez saber que «é o melhor colocado para representar a esquerda», e Mélenchon considera-se prejudicado pelas empresas de sondagens e está convencido que vai ganhar os debates televisivos. 

De qualquer forma, este processo de agregação de candidaturas não está só a acontecer à esquerda. O nome de François Bayrou nunca constou na lista dos principais favoritos para chegar à segunda volta das eleições presidenciais francesas, mas a sua desistência a favor de Emmanuel Macron até pode vir a ser decisiva para que o ex-ministro da Economia de François Hollande consiga reservar bilhete para o frente-a-frente com a candidata da extrema direita, Marine Le Pen, no início de maio. A partir da sede do movimento centrista MoDem, em Paris, o presidente da câmara de Pau decidiu afastar-se, esta semana, da corrida ao Eliseu, em nome da «responsabilidade».

«Decidi oferecer uma aliança a Emmanuel Macron», anunciou Bayrou, de 65 anos, citado pelo Guardian. «Talvez [a desistência] seja um sacrifício, mas existem momentos em que temos de estar à altura da gravidade das situações e refletir sobre como podemos sair delas. Não é altura para pensar em mim, mas no meu país», explicou, justificando a sua decisão com o «risco extremo» que a «multiplicação de propostas» está a criar em França, personificado pelo «enorme perigo» oriundo da Frente Nacional.

Garantida por praticamente todas as sondagens como vencedora da primeira volta, a realizar no final de abril, Le Pen (e a França) olha com interesse para o duelo entre o líder do movimento ‘En Marche!’ e o candidato do partido conservador Os Republicanos, François Fillon. Atualmente estão separados por uma diferença de 1 a 3 pontos percentuais, nas intenções de voto dos franceses, pelo que qualquer apoio será bem-vindo – como, de resto, se viu, através da mensagem publicada por Macron no Twitter, poucos minutos após o anúncio em Paris, na qual elogiava os «valores» e «ideias» de Bayrou – mesmo que isso possa vir a representar uma percentagem pouco significativa de votos.

É precisamente neste contexto e à luz do duelo Macron-Fillon,  que o abandono do autarca pode ganhar especial relevância. De acordo com as sondagens, apenas 6% dos eleitores estão inclinados a votar nele, mas ainda assim, nas eleições de 2012 Bayrou conseguiu 9% dos votos e cinco anos antes conseguiu 18%, pelo que a margem de potenciais apoiantes pode vir a ser interessante e, quem sabe, decisiva para Macron ultrapassar Fillon.

A corrida ao Eliseu tem sido marcada por embaraçosos escândalos, que envolvem alguns dos candidatos, pelo que a comunicação social francesa tem dedicado um largo tempo de antena cada vez que são conhecidos novos episódios. O caso ‘Penelopegate’ – que abalou a candidatura de Fillon, fruto da abertura de uma investigação ao ex-primeiro-ministro, pela alegada oferta de cargos fictícios à esposa, Penelope, e aos filhos, remunerados com dinheiros públicos -, por exemplo, levou o parlamento francês a publicar, esta quarta-feira, uma extensa lista como os nomes de todos os assistentes parlamentares. Para além  disso, foi anunciado o plano de criação de um comité que se dedicará a analisar e avaliar o trabalho realizado por esses mesmos funcionários.

A líder da Frente Nacional e candidata melhor cotada nas sondagens Marine Le Pen recusou-se a depor na justiça francesa sobre o caso do alegado desvio de dinheiro do seu partido no Parlamento Europeu

A líder da FN fez uso da sua imunidade parlamentar para não ser ouvida sobre o caso. Recorde-se que por duas vezes a polícia francesa procedeu a buscas nas sedes da FN. Em causa está o pagamento indevido a assistentes parlamentares deste partido de extrema-direita, que receberiam como trabalhando no Parlamento Europeu, mas que alegadamente não trabalhavam lá. As autoridades europeias investigam 11 casos, incluindo a chefe de gabinete de Marine Le Pen e um seu guarda-costas. As verbas envolvidas neste caso ultrapassam, para  a chefe de gabinete e o guarda-costas, os 400 mil euros. 

Convocada para quarta-feira, 22 de fevereiro, às 14 horas, na sede da Polícia Judiciária francesa de Nanterre, Marine Le Pen respondeu por correio tradicional que não compareceria a nenhuma convocatória da justiça francesa até se realizaram as eleições legislativas marcadas para os dias 11 e 18 de junho de 2017. O advogado da dirigente da FN, Rodolphe Bosselut, justificou essa decisão, ao  jornal Le Monde: «A justiça não é um poder, é uma autoridade. Não pode perturbar, devido a uma investigação que pode ser feita mais tarde e que podia ter sido levada a cabo antes da campanha eleitoral para as presidenciais, dado que está em causa um momento democrático fundamental no nosso país».