Sócrates. À conquista das redes sociais?

Sócrates. À conquista das redes sociais?


Há dezenas de páginas nas redes sociais sobre José Sócrates ou com o nome deste. Pela sua libertação, pela sua candidatura à presidência, pela sua condenação. Algumas de paródia, outras de apoio. Mas uma, com menos de três meses, sempre escrita na primeira pessoa, ganha destaque. Sócrates envia textos para lá


Notas de imprensa, convites para o lançamento do novo livro, comunicados da defesa, desabafos, ligações para notícias e entrevistas relacionadas e até correspondência privada com Mário Soares.

Há uma página na rede social Facebook, em nome de José Sócrates, que tudo isso revela.

“José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa” já conta com mais de mil e quinhentos “likes”.

A página na rede social, que até há umas semanas tinha anexo um website amador e de apoio coletivo, entretanto retirado, foi criada em finais de 2016, estando agora a atingir maiores níveis de notariedade.

A descrição diz somente “Político” – o que dá a entender que o socialista não planeia abandonar o ofício tão cedo ou por implicações judiciais – seguindo prontamente uma citação do próprio. “São alegações infundadas, injustas e falsas, disse-o desde o primeiro instante” e uma promessa: “Pois aqui estou para reduzir a pó qualquer acusação que me façam”.

Os comentários dos apoiantes enchem as publicações com declarações de solidariedade como “ Força Sócrates!”, “Não podem apresentar provas de coisas que nunca aconteceram” ou “José Sócrates sempre”.

Ataques ao Governo de Costa 

A página publicou críticas a antigos ministros dos governos liderados por Sócrates, assim como a atuais ministros do executivo socialista de António Costa.

“Há anos que o dr. Campos e Cunha aproveita os quatro meses da sua passagem pelo governo para atacar os seus antigos colegas. Considero tal comportamento desprezível e sempre o ignorei por não querer quebrar a regra que sigo de não comentar a vida interna do governo a que presidi”, cita e adianta: “Como referi na nota de impressa”. Sempre na primeira pessoa, assumindo-se como José Sócrates.

Sobre F rancisca Van Dunem, a ministra da Justiça de António Costa, a página “José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa” chega a mesmo a acusá-la de cobardia.

“Arriscaria a chamar estas atitudes recorrentes de cobardia politica”, escreve-se na página a propósito de uma entrevista da ministra em que esta afirma não pretender “criar prazos fixos para a investigação” que visa o antigo secretário-geral do Partido Socialista.

“A excelentíssima sra. ministra da Justiça, vem neste dia aliar-se à posição política dominante: não mexer naquilo que possa mostrar as feridas da instituição e do regime. Como se passar entre pingas da chuva fosse o alto desígnio de governante ou de um magistrado”, é apontado ainda.

Dois dias após o falecimento de Mário Soares, a sete de janeiro deste ano, é deixada uma nota de pesar: “Mário Soares fez a sua carreira política com base na sua convicção e na coragem e no atrevimento. Quando muitos se deixavam condicionar pela incerteza ou pelo risco ou pela falta de coragem, ele levanta-se sempre para lutar. Ele deixou esse legado aos portugueses”.

“José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa” refere-se a Soares como “um grande amigo e uma grande referência”.

O defunto Presidente da República foi das primeiras personalidades do PS a visitar Sócrates no estabelecimento prisional de Évora.

Todas as mensagens

” O crescimento da página em termos de divulgação na rede social referida é notório, não só em partilhas como por referências do próprio autor. “Agradeço todas mensagens enviadas. Tentarei responder o mais depressa possível”, adianta.

Acerca da prisão preventiva, a que José Sócrates foi sujeito, é escrito: “Prende-se para melhor se investigar. Prende-se para humilhar, para vergar. Prende-se para extorquir, sabe-se lá que informação”. O excerto é transcrito de um texto enviado ao Diário de Notícias a 4 de dezembro de 2014.

A página torna a citar partes da correspondência pessoal que Sócrates terá trocado com amigos enquanto preso. Numa “carta a um grande amigo”, datada de 29 de abril de 2015, é transcrito um esclarecimento sobre o Grupo Lena.

“A afirmação de que teria havido um favorecimento do Grupo Lena é não apenas falsa, como absurda, incapaz de resistir ao confronto com os números – em termos relativos, o governo atual adjudicou a este grupo mais empreitadas de obras públicas do que o governo socialista (0,36%, em 2012, contra 0,25%, em 2010, mantendo-se semelhante essa comparação para os anos de 2013 e 2014)”, afirma-se.

Uma carta de Mário Soares a 18 de janeiro deste ano, é citada uma alegada carta de Mário Soares a Sócrates, muito elogiosa e que o defende contra um juiz “que o tem obrigado a ser tratado vergonhosamente”.

“A sua coragem e firmeza ética levam-me – e aos nossos imensos camaradas – a considerá-lo como uma grande figura do socialismo democrático, que sempre foi e é”, lê-se, de Soares para Sócrates. A ligação de Sócrates à página nunca foi desmentida pelos advogados de José Sócrates ou pelo próprio. Ao que o i sabe, mesmo não controlando toda produção da página, Sócrates envia textos seus para serem publicados, garantem próximos do ex-PM.