Paulo Vistas: ‘Oeiras não é mais um dormitório do arrabalde da grande capital’ [vídeo]

Paulo Vistas: ‘Oeiras não é mais um dormitório do arrabalde da grande capital’ [vídeo]


O presidente da Câmara de Oeiras inaugurou sábado o terceiro troço do passeio marítimo do concelho, que faz a ligação entre a baía dos Golfinhos e a praia da Cruz Quebrada, com direito a uma corrida ‘original’ – um projeto que visa dinamizar a zona ribeirinha e promover a prática de exercício físico entre os munícipes,…


O próximo objetivo, explica Paulo Vistas, é ligar a frente ribeirinha ao interior do município através de cursos de água. A primeira fase do projeto já está em andamento com o Eixo Verde e Azul, que irá ligar o Palácio de Queluz ao Jamor.

Projetos não faltam ao autarca, que nunca escondeu o desejo de ficar durante vários anos nos comandos de Oeiras.

Paulo Vistas mostra-se confiante no projeto político e não se deixa assustar por possíveis candidatos como Isaltino Morais e Joaquim Raposo, dois dinossauros políticos. A sua luta é com o futuro, garante. Resta saber se será assombrado por um passado de peso.

Sábado foi inaugurado o terceiro troço do passeio marítimo de Oeiras. O que distingue este troço dos outros?

Esta obra diz respeito a um projeto maior que visa ligar uma ponta à outra do concelho em toda a frente ribeirinha, com um equipamento onde as pessoas possam caminhar e desfrutar. Este será o terceiro troço que vamos inaugurar – teve um custo de três milhões de euros. Tem cerca de dois quilómetros e tem a particularidade de contemplar a circulação quer de bicicletas quer de peões. Com as duas faixas, uma para as bicicletas, outra para peões, evita-se um dos problemas que tivemos nos troços anteriores: o conflito entre o ciclista e o peão, que nem sempre era de fácil resolução.

O que levou a câmara a investir nesta zona ribeirinha?

Demos sequência a uma política ao nível do ambiente, da saúde e do bem-estar. Costumo dizer que este é o equipamento desportivo mais utilizado em Oeiras. Permitiu alterar radicalmente os hábitos de vida dos munícipes e até de alguma população de concelhos vizinhos. Hoje assistimos a pessoas de diferentes idades com hábitos regulares de prática de exercício fisco, seja através da caminhada, da corrida, da bicicleta, dos patins ou do skate. Esta prática tem um impacto muito grande na qualidade de vida do cidadão, e um efeito preventivo das doenças do século como a diabetes, a hipertensão e as doenças do coração.

A autarquia tem algum tipo de atividades planeadas para este novo troço?

Tirando a inauguração, não temos atividades regulares. Todo o passeio é de utilização informal de modo que as pessoas se sirvam dele como bem entenderem. Paralelamente temos vários programas para incentivar o cidadão a mexer-se cada vez mais. Temos, por exemplo, o 55+, um programa direcionado aos seniores que contempla várias atividades como a hidroginástica, a caminhada, e que, dentro da sua programação, irá integrar este troço do passeio marítimo.

É um local de fácil acesso?

Sim. A estação de comboios de Caxias é ao lado e há também um parque automóvel na estação onde se pode estacionar. Depois basta atravessar um passadiço aéreo e a passadeira que existe na Marginal.

É a terceira fase de um projeto que já tem dois troços inaugurados, mas eles não estão ligados entre si.

Não, falta um último troço. Já estamos a trabalhar no projeto que vai ligar a zona do Forte de São Bruno até Paço de Arcos e até à futura marina que pretendemos construir em Paço de Arcos. Esse é o último troço, a par da infraestrutura que será feita sobre o rio Jamor. Concluídas estas duas obras, concretizamos o objetivo maior de ligar os dez quilómetros de frente ribeirinha de uma ponta à outra do concelho.

Em que fase está esse projeto?

Ainda está em estudo porque não queremos reduzir o areal da praia de Caxias, que tem uma grande adesão de banhistas na época estival. Portanto, estamos a tentar encontrar uma solução técnica para que este troço não entre em conflito com o areal.

Tem alguma previsão de quando poderão dar início ao projeto?

Penso que no final de 2018 estaremos em condições de termos o projeto de execução para depois lançar o concurso para a obra. Diria que três anos, no máximo, até estar concluído. Isto permitirá também ligar às infraestruturas existentes do lado de Cascais e de Lisboa. Os três concelhos têm um contínuo urbano, portanto faz todo o sentido que se pense na integração urbanística entre todos.

Tem conversado com os outros presidentes de câmara?

Sim, temos falado e todos temos presente o potencial estratégico que tem a frente ribeirinha destes três concelhos. Além disso – e tendo presente que, daqui a uns anos, o objetivo de ligar a frente ribeirinha de Oeiras estará concluído –, já estamos a trabalhar numa ligação entre o interior do concelho e o passeio marítimo através das ribeiras.

Como assim?

São cinco cursos de água – quatro ribeiras e um rio – que correm de forma perpendicular à orla ribeirinha. Têm uma grande biodiversidade e não apresentam qualquer tipo de poluição. São espaços de grande beleza e queremos levar a cabo um projeto, a médio e longo prazo, para que as pessoas possam circular nas margens dessas linhas de água, de forma pedonal ou ciclável.

Como estão a pensar fazer isso?

O objetivo é intervir o mínimo possível através de construção civil e criar um modo de mobilidade suave. Não tenho dúvidas que, no futuro, Oeiras tem todas as condições para ligar através dessas ribeiras o interior do concelho ao litoral, provendo a coesão territorial do concelho.

O projeto já está em andamento?

Sim. Estamos a falar num projeto pensado para 15 anos, com um investimento total de 50 milhões de euros. Há pontos em que pretendemos fazer ligações transversais a essas ribeiras através de infraestruturas como parques, passeios, caminhos, entre outras. Não é apenas um projeto ainda em sonho, já está a ser concretizado em alguns locais.

Como por exemplo?

O Eixo Verde e Azul, por exemplo. A ideia é ligar o Palácio de Queluz à foz do rio Jamor. Temos um protocolo assinado entre a Câmara de Sintra, a Câmara da Amadora, a Câmara de Oeiras e a Parques de Sintra – Montes da Lua. O projeto está feito e há várias obras que estão já inscritas para serem comparticipadas por fundos comunitários. Há uma semana e meia, tive a oportunidade de reunir com o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, que é quem tutela a zona do Jamor – o primeiro troço onde queremos avançar. Tivemos luz verde e espero que em breve possamos lançar o concurso para a obra.

Todas estas obras são investimentos financeiros muito grandes para a câmara. Valem a pena? As pessoas efetivamente dão uso a estas infraestruturas?

Claro. 50 milhões de euros é um grande investimento se olharmos isoladamente, mas não se olharmos para a valorização do território, para a preservação ambiental, para a criação de modos suaves de mobilidade e para o reforço da identidade das pessoas do concelho. E olhando também para capacidade financeira deste município. Nestes últimos quatro anos conseguimos uma grande almofada financeira. Oeiras teve a capacidade não de contrair dívida, mas de liquidar dívida. Dizemos de forma consciente que 50 milhões de euros em 15 anos é um investimento perfeitamente acessível.

Serão totalmente comparticipados pela autarquia?

Não. Desse investimento grande parte pode ser comparticipado por fundos comunitários. A obra do Eixo Verde e Azul, por exemplo, 50 % é comparticipado por fundos estruturais de um quadro comunitário de apoio.

O novo campus da Nova School of Business em Carcavelos terá alguma influência no concelho de Oeiras?

Oeiras já tem uma dinâmica ao nível do ensino superior. Tem vários polos como a Faculdade de Motricidade Humana, a Escola Náutica, o Instituto Superior Técnico, entre outros. A Nova School of Business, embora não sendo em Oeiras, vai exercer uma influência muito grande, uma vez que está encostada à fronteira do concelho. A nossa ideia – e estamos a trabalhar nisso – é deixar cair o projeto imobiliário da Fundação de Oeiras e abrir um grande espaço, com residências para universitários e com serviços complementares como campos desportivos, supermercados, lavandarias, galerias de arte, bares, restaurantes, etc.

Em que fase está esse projeto?

A Nova e o arquiteto escolhido já estão a trabalhar no projeto. O número de estudantes – na sua maioria estrangeiros — que universidade vai trazer para esta região será de tal maneira elevado que vai pressionar o concelho a comportar-se de modo a que eles se sintam bem.

Durante o seu mandato também ficou concluída a última intervenção no Parque dos Poetas.

Sim, em 2015 concluiu-se a última fase, que vai do Templo da Poesia até à primeira estrada que cruza o parque. O investimento total do Parque dos Poetas cifrou-se nos 30 milhões de euros. Foi a conclusão de um grande parque urbano, mas também de um museu que reúne os principais artistas plásticos deste país. Cada um fez uma escultura representativa da poesia dos principais poetas da lusofonia. Além da questão paisagística, do ponto de vista cultural é talvez a maior concentração de arte num parque urbano na Europa.

É uma obra de âmbito nacional e Oeiras quis estar na vanguarda. O grande objetivo é que o município seja cada vez mais competitivo na capacidade de atrair empresas e pessoas. E quando falamos em atrair empresas e pessoas, não nos podemos fixar apenas na questão da habitação ou dos parques de escritórios. É também preciso ter equipamentos sociais, de ensino, desportivos, de lazer. E o Parque dos Poetas faz parte desse conjunto de equipamentos.

Houve muitas empresas que se mudaram para Oeiras. A câmara quer continuar a investir nas empresas ou focar-se mais na população do município?

A população de Oeiras trabalha cada vez mais nessas empresas. Essas empresas foram geradoras de população para Oeiras e queremos continuar a ser atrativos não só para essas empresas, mas também para as pessoas que lá trabalham de modo a que estas se fixem no município.

Como tencionam fazer isso?

Para que isso aconteça, o concelho tem de ser um espaço onde haja vida e onde as pessoas se sintam bem. Hoje em dia Oeiras não é mais um dormitório do arrabalde da grande capital. É um município com vida própria, gerador de riqueza, de conhecimento, de valor e cada vez mais preocupado em construir um futuro.

Como é que se constrói esse futuro?

Esse futuro passa também pela requalificação e pela reabilitação urbana. Por isso fizemos um esforço na aquisição de imóveis e a sua reabilitação nos centros históricos, que depois disponibilizámos para habitação jovem.

Somos também um concelho tecnológico. 80% da base tecnológica deste país está implantada aqui, com empresas, universidades, institutos de investigação. O que queremos é que Oeiras seja um município 4.0, onde a tecnologia seja utilizada e esteja acessível a todos.

Outras das opções foi investir na saúde.

Sim. Um dos anseios da população era a construção de centros de saúde em Algés, em Carnaxide e em Barcarena. É certo que a construção de centros de saúde não é uma competência das autarquias, mas sim da Administração Central. Ainda assim, decidimos avançar com as obras independentemente de quem é a competência. Já tinha havido vários protocolos assinados em anteriores governos com o Ministério da Saúde, mas nunca se concretizou.

O centro de saúde de Carnaxide funcionava em instalações desapropriadas para os profissionais e para os utentes. Já está em funcionamento desde 2016 e custou cerca de dois milhões de euros. Foi em parte comparticipado pela Administração Central, mas a autarquia entrou com os terrenos, com o projeto e com a fiscalização.

Os centros de saúde de Algés e Barcarena ainda estão em construção?

Sim. O de Algés representou um investimento de quatro milhões – totalmente suportado pelo orçamento municipal – e será inaugurado no dia 21 de março. O centro de saúde de Barcarena está em obras e será inaugurado em setembro, nas vésperas das eleições. Terá um custo de um milhão de euros, sendo comparticipado a 100% pela Administração Central e a autarquia entra com o projeto, a obra e a fiscalização. Isto tudo foi possível fazer graças a uma lógica de continuidade. Não foi chegar e quebrar com o que vinha de trás.

Dar continuidade a projetos que vinham de outros mandatos?

Sim, mas também desenvolvemos outros. Alguns que conseguimos concluir e outros que irão ser concluídos nos próximos mandatos. Nós não planeamos em função do ciclo eleitoral. Uma câmara que planeia a quatro anos limita-se a navegar à vista. Planeamos sempre a médio e longo prazo e é por isso que o projeto das ribeiras foi pensado a 15 anos. Sempre respeitámos a nossa herança e preocupámo-nos em acrescentar para que as gerações futuras recebam essa herança com energia e vontade de fazer mais, tal como nós recebemos.

Mas está na esperança de receber essa herança?

Sim, nunca escondi isso. Vou a votos de quatro em quatro anos, mas não sou um candidato a quatro anos. Disse isso em 2013. O meu projeto político é sempre a médio e longo prazo.

Já anunciou a sua candidatura à Câmara de Oeiras como independente, mas com o movimento criado para Isaltino Morais.

O movimento foi criado por mim, por Isaltino Morais, por muitas pessoas.

Mas tinha o nome do ex-autarca…

Claro que o rosto era Isaltino Morais. Orgulho-me muito do passado, nunca o reneguei. Fiz parte desse passado, foi uma boa herança, uma herança pesada…

Mas mudaram o nome…

Nada mudou. Oeiras Mais À Frente é o nome da associação. Uma coisa é o movimento, outra coisa é a associação. A associação existe além das eleições, mas, de acordo com a lei, não pode candidatar-se a eleições, portanto quem se candidata é um movimento que sai do seio da associação. Movimento esse que é constituído através da recolha de assinaturas e que depois são presentes em tribunal. Claro que Isaltino Morais foi o rosto desse movimento e dessa associação. Por isso é que digo que não acredito que ele seja candidato.

Porquê?

Não faz sentido ser candidato contra o seu projeto político.

Mas ele ainda não disse que não.

Não faz sentido ser candidato contra as suas pessoas, os que sempre o apoiaram. São as pessoas que compõem a associação Oeiras Mais À Frente e que irão dar corpo a um futuro movimento que se vai candidatar em 2017. Eu não renego o passado, mas a minha luta é com o futuro.

Pode haver um ‘futuro Isaltino Morais’…

A minha luta é com o futuro e  sinto que vou ganhar esse futuro. E vou ganhar porque este projeto político já demonstrou que é o projeto que serve os oeirenses.

Isaltino Morais ainda não decidiu se será candidato, mas também temos outra possibilidade: o ex-autarca da Amadora, Joaquim Raposo. Estamos a falar de dois dinossauros políticos.

Hoje os dinossauros estão extintos. Falar de dinossauros é falar do passado, eu quero falar de futuro.

Ou seja, voltar a eleger Isaltino Morais seria um retrocesso?

Eu não estou preocupado com a decisão dos eleitores. Estou preocupado em transmitir aquilo que quero para o futuro, o meu programa eleitoral para os próximos quatro, oito anos – no caso do projeto das ribeiras é mais amplo, é para daqui a 15 anos. O que me preocupa é que as pessoas possam verdadeiramente assimilar essa mensagem política e depois votarem em consciência.

Tem falado com Isaltino Morais? Mantém um relacionamento?

Sim, quando o vejo falo-lhe. A vida de presidente não é uma vida que tenha grande disponibilidade.

Conversou com ele antes de anunciar a sua candidatura? Ou depois?

Em breve anunciarei a minha candidatura. Fui mandatado pela associação para encabeçar uma candidatura não só como cabeça-de-lista à Câmara, mas também para liderar o processo de candidaturas às uniões de freguesia bem como à Assembleia Municipal. Eu não tenho contas a ajustar com ninguém. Quero realmente fazer uma boa campanha. Acho que uma boa campanha só se pode fazer com bons candidatos e espero sinceramente que os partidos – e os cidadãos, se for o caso – possam apresentar bons candidatos, com boas ideias e com vontade.

Quando será apresentada formalmente a sua candidatura?

Durante o mês de fevereiro.

Será uma candidatura com o apoio de algum partido?

Todos os partidos que queiram apoiar esta candidatura serão bem-vindos. A associação Oeiras Mais À Frente tem pessoas da esquerda à direita, militantes e não militantes. É o terceiro mandato em que realmente conseguimos provar que os partidos são fundamentais à democracia, mas há mais vida além dos partidos.

Já teve alguma conversa com alguns partidos?

Nós fazemos o nosso caminho, mas esse caminho não fecha a porta a ninguém.

Carlos Carreiras, o coordenador do programa autárquico do PSD, falou que um dos objetivos seria apoiar alguns independentes que se afastaram do partido. É o seu caso? Já teve conversas com o PSD?

Aqui não se trata de Carlos Carreiras chamar-me ao PSD. Se o PSD quiser vir connosco, é bem-vindo. A porta deste candidato e deste movimento está aberta a Carlos Carreiras ou aos Carlos Carreiras dos outros partidos, se o entenderem e se quiserem.

E já houve essas conversas?

Já houve algumas conversas com alguns partidos. O que tive oportunidade de transmitir foi exatamente isso. Espero que vários partidos ainda se possam associar a esta candidatura.

Estamos no final de janeiro. Se a candidatura vai ser apresentada em fevereiro, já deve ter alguma ideia…

Não é preciso esse apoio para o anúncio da candidatura. Cada partido tem os seus timings, penso que eles irão decidir na altura própria. Nem todos os apoios têm de vir ao mesmo tempo, vêm de acordo com aquilo que é a programação interna de cada um deles. Nós já demos provas de que sabemos governar com todos.