Benoît Hamon vai ser o candidato socialista à presidência francesa

Benoît Hamon vai ser o candidato socialista à presidência francesa


Socialista “utópico” derrota Valls na segunda volta das eleições primárias do Partido Socialista e acaba com as hipóteses do atual governo poder estar representado na corrida ao Eliseu.


Os resultados da primeira volta das eleições primárias do Partido Socialista francês, realizadas há cerca de uma semana, já o faziam prever, e este domingo, oficializou-se, enfim, uma das mais estrondosas derrotas de uma presidência em França, com a vitória de Benoît Hamon sobre Manuel Valls, o primeiro-ministro do mais impopular governo das últimas décadas.

Se na passada semana Hamon supreendeu e bateu Valls, com 35,2% dos votos, contra 31,5% – resultados que originaram a realização de uma segunda volta, disputada entre os dois, neste domingo – desta vez conseguiu uma vantagem mais dilatada, fruto do apoio declarado do terceiro candidato mais votado, na primeira ronda, Arnaud Montebourg. Com dois terços das cerca de 7 mil secções de voto contabilizadas, Hamon conseguiu 59% do total de votos, contra 41% do seu opositor, pelo que a vitória foi festejada bem cedo. “A esquerda levanta a cabeça!”, congratulou-se o ex-ministro da Educação e representante da ala esquerdista do Partido Socialista, citado pelo “El País”, após conhecidos os resultados.

Hamon fez questão de se distanciar claramente de Valls e do ainda presidente François Hollande e trouxe para as primárias socialistas uma discussão política pouco comum em França, pelo menos nos últimos tempos – já que a imigração, a multiculturalidade ou o papel da União Europeia são assuntos quase exclusivos da agenda política e que alimentam a extrema-direita de Marine Le Pen e o conservadorismo de François Fillon. O rendimento básico incondicional, as questões ecológicas ou os impostos crescentes sobre indústrias que troquem trabalho humano por máquinas, são alguns dos temas trazidos pelo candidato, catalogado pelos seus críticos como “utópico” e pelos seus apoiantes como o equivalente francês a Bernie Sanders ou Jeremy Corbyn.

O vencido da noite, Manuel Valls, lembrou que “as derrotas fazem parte da vida política e da democracia” e garantiu que não se arrepende da decisão de concorrer às eleições primárias. A sua derrota não deixa de ser uma surpresa, face ao ligeiramente favorito com que partiu para esta aventura presidencial, e marca o fim definitivo de um mandato socialista para esquecer. 

Hollande percebeu os sinais oriundos do eleitorado francês e cedo desistiu de concorrer a um segundo mandato, tornando-se no primeiro presidente da V República a renunciar a uma recandidatura ao Eliseu. Receoso de uma humilhação histórica e de mãos dadas com uns embaraçosos 7% nas intenções de voto dos franceses, deixou o caminho livre para o seu primeiro-ministro, Valls, que também não conseguiu descolar-se do rótulo de “impopular”, junto dos socialistas.

Quem aproveitou foi, então Hamon que, confirmado na corrida à presidência, terá agora pela frente Le Pen, Fillon, Emmanuel Macron e Jean-Luc Mélenchon.