Rescisões no Público geram onda de indignação na internet

Rescisões no Público geram onda de indignação na internet


Publicações dos jornalistas dispensados surgem depois de David Dinis, diretor do diário, ter dito que o jornalismo não vive uma crise


O jornal “Público” viu sair, nos últimos dias, três dos seus jornalistas e cronistas mais antigos. As demissões têm vindo a público através do Facebook, rede social usada pelas pessoas visadas para comunicar a sua saída do diário.

O primeiro a comunicar a sua saída, há cerca de duas semanas, foi José Vítor Malheiros, jornalista que ajudou a fundar o jornal. “Para satisfazer a curiosidade dos leitores e para evitar um mal–entendido (…), devo esclarecer que a minha saída não se deve de forma alguma a uma decisão pessoal”, escreveu na sua página no Facebook, onde fez questão de referir que a decisão de pôr fim a este espaço de opinião foi tomada pelo atual diretor do jornal, David Dinis, tendo sido justificada “por razões financeiras”, acrescenta o jornalista.

Ontem, um dia depois de ter terminado o 4.o Congresso de Jornalistas, o Facebook “revelou” a saída de outros dois profissionais: Alexandra Lucas Coelho e Paulo Moura. A publicação da primeira gerou uma onda de indignação nas redes sociais, com muitas pessoas a partilharem o seu testemunho. “O recém-empossado diretor do Público, David Dinis, propôs reduzir a minha crónica semanal a mensal e cortar para metade a remuneração de cada crónica. Recusei por considerar que essa proposta esvazia o diálogo com o leitor e reduz a remuneração a algo indigno. Nenhuma outra proposta foi feita. Cumprirei, pois, o contrato que tenho até 31 de Março, e a partir daí encerra-se a minha relação de 19 anos com este jornal”, escreveu no seu mural Alexandra Lucas Coelho. “Registo ainda o facto de os três [José Vítor Malheiros, Paulo Moura e a própria] estarmos claramente à esquerda do que é o posicionamento do recém-empossado diretor”, acrescentou a jornalista. 

Ao mesmo tempo, Paulo Moura usava o seu perfil na rede social para revelar a sua saída do jornal onde trabalha desde a sua fundação. “A minha colaboração com o Público termina este mês, por iniciativa da atual direção, de David Dinis.  (…) Continuarei a fazer reportagem, a escrever e a publicar onde quer que o Jornalismo seja valorizado”, escreveu.

No rescaldo do congresso, David Dinis participou no programa “Expresso da Meia Noite”, na SIC Notícias, onde defendeu que o jornalismo não está em crise. 

No seu editorial de ontem, dia em que os jornalistas anunciaram a sua saída do diário, reiterou a ideia: “Hoje, temos mais pessoas a ler-nos do que alguma vez imaginámos; hoje temos muitas formas de apresentar a informação; hoje temos uma proximidade enorme do leitor – mesmo com quem esteja mais longe do que antes; e hoje conseguimos, como nunca, perceber o que ele nos pede, o que precisa de saber e até onde quis ler cada um dos nossos textos”, justificou.

A opinião de David Dinis, que já foi diretor do “Observador” e da TSF, tem sido contestada pela classe. O i tentou obter uma reação do diretor do “Público”,  sem sucesso.