“Nós conseguimos um acordo que permite ao PS formar governo, conseguir passar no parlamento o seu programa de governo e governar com estabilidade. Obviamente que isto vai exigir um esforço de concertação e esse esforço será constante. Trabalharemos com PCP, BE e Verdes durante os quatro anos para assegurarmos que esta solução durará, de facto, quatro anos e estamos convictos que assim será”, dizia Pedro Nuno Santos em entrevista ao “Observador” na celebração do primeiro mês do acordo entre socialistas, comunistas e bloquistas.
Acreditando que a premissa de Nuno Santos se mantém com evidência, é de certa maneira incompreensível todo este alarido da ala mais à esquerda no parlamento sobre a proposta do governo para a descida da TSU. Pois, por maioria de razão, ninguém objetivamente acredita que todas as negociações que serviram de base para o aumento do salário mínimo não tenham sido anteriormente discutidas e acertadas com os partidos que sustentam o governo.
Mas ainda que consideremos a hipótese de ter sido rejeitada formalmente por comunistas e bloquistas, e não apenas no espaço mediático – que é coisa bem diferente –, o avanço da medida revela- -nos uma ideia bastante pior, mas muito confirmadora da motivação inicial que sustentou a criação desta improvável aliança parlamentar: deixar, por um lado, a tripla aliança erguer-se e manifestar- -se com muito furor no campo das políticas fáceis e simpáticas, e, por outro, atirar para cima do PSD a responsabilidade da conivência e do sustento nas matérias mais difíceis. A TSU é exemplo disso.
Para o governo, e para os partidos que o apoiam, há um certo chico-espertismo no domínio da sua governação. Confundem a seriedade, as convicções, a determinação e até a governação de Passos Coelho com a sua ladina e com a sua mise en scène. Uns finórios.
Existem várias razões para Passos Coelho e o PSD se porem à margem de tudo isto. Políticas e objetivas. Políticas porque, como é evidente, não cabe a Passos nem ao PSD tornar-se uma espécie de andarilho do governo. Não há interesse nacional nenhum nisso, até porque o interesse nacional destes engenhosos farsantes reside, como afirmou nas entrelinhas Nuno Santos na entrevista que citei, no afastamento puro e simples de Passos Coelho e no impedimento cabal de exercer as funções que os portugueses lhe confiaram nas eleições de 2015. Assim como não há interesse nenhum objetivo, pois esta questão da TSU assenta em pressupostos muito diferentes daqueles a que Passos se propunha quando suscitou a questão.
Vejamos então. Em 2014, o corte de 0,75% na TSU obteve todo o seu financiamento nos impostos diretos, indiretos e taxas, ao contrário desta solução “geringonceira”, cujo desagravamento em 1,25% é financiado exclusivamente pela Segurança Social, descapitalizando-a e pondo em risco a sua subsistência. Em 2014, o desagravamento de Passos era temporário, menor e estava condicionado à produtividade das empresas, implicando uma promoção futura de aumentos salariais. A solução atual deste governo não só não promove o emprego mais qualificado e bem pago, pelo menos, como abre a porta aos patrões a manterem as classes de rendimentos dos seus trabalhadores.
Ora, a política, ainda que a doutrina vigente assim o entenda, não é um exercício exclusivo de geometria variável, e o líder do PSD não pode estar disponível para se prestar ao papel do idiota útil que, em nome de uma estabilidade que não se sabe bem qual é, contribui para que as divergências e as fraquezas desta governação apelidada de “patriótica e de esquerda” não sejam dadas a conhecer.
Se lhes correr tudo bem, cenário que os sinais vão paulatinamente afastando, a responsabilidade será só deles. Mas se lhes correr mal, deve ser a eles, e só a eles, que devem ser imputadas responsabilidades. Os chacais que se aguentem. Sobretudo os do PSD.
Escreve à segunda-feira