Donald Trump. A imprensa reage ao “teatro do absurdo”

Donald Trump. A imprensa reage ao “teatro do absurdo”


A grande novidade é que não há novidade. Trump continua o mesmo, ameaçador, impreciso, pretensioso e um risco para os Estados Unidos e para o mundo, escrevem as grandes publicações. 


Esta quinta-feira, as grandes publicações internacionais resumiam o que se tornara evidente um dia antes na primeira conferência de imprensa de Donald Trump depois de ter sido eleito presidente dos Estados Unidos. Ou seja: que o magnata nova-iorquino não abandonou o seu estilo combativo e abertamente ameaçador, ou os solilóquios que o caracterizaram nos debates com Hillary Clinton, e que, em suma, o cargo não o pacificou. A imprensa que o próprio presidente eleito abomina, abomina ela própria a sua prestação, o seu “teatro do absurdo”, como escreve esta quinta-feira o correspondente da BBC nos Estados Unidos, Anthony Zurcher.

“Trump deu uma quantidade razoável de notícias na sua conferência de imprensa – sobre como vai lidar com o seu vasto império de negócios, as suas perspetivas sobre ataques informáticos russos e também as suas prioridades –, mas o teatro da conferência tornou-se um espetáculo em si mesmo”, lança Zurcher. “A pouco mais de uma semana da sua tomada de posse, Trump é ainda o mesmo homem que foi no trilho da campanha e no estúdio do seu reality show. O Donald Trump de quarta-feira é o Donald Trump que governará os Estados Unidos, e o teatro que foi esse acontecimento é algo que fará parte das vidas americanas nos próximos quatro anos.”

O “New York Times” abre o seu editorial desta quinta-feira concluindo o mesmo. “Se alguém ainda tinha esperança de que as incríveis responsabilidades e dignidade da presidência poderiam de alguma maneira temperar ou fazer de Donald Trump alguém mais humilde, esse alguém ficou chocado com a primeira conferência de imprensa do presidente eleito”, argumenta. “Bombástico, vão e em terreno escorregadio, Trump desempenhou a mesma personagem televisiva que ofereceu ao público ao longo de vários anos.”

“O milionário norte-americano fez o contrário do que se espera de alguém que está a poucos dias de ocupar uma posição tão relevante”, diz por sua vez o “El País”, também em editorial. “Grosseiro com os jornalistas, mal criado, pretensioso e ameaçador, Trump demonstrou que acredita estar ainda no interior de um dos reality shows que tanta fama lhe proporcionaram, mas que tão pouco têm que ver com a grande responsabilidade que agora enfrenta”, lê-se. “Quanto mais Trump se aproxima da Casa Branca, mais se justifica a preocupação pelo que se avizinha e se entendem menos as tentativas de apaziguamento de alguns governos, como o espanhol.”

O “Le Monde” escolhe esta quinta-feira escrever sobre o discurso de despedida de Obama, mesmo que, como quase todas as outras publicações, abra a sua primeira página com a conferência de imprensa de Trump, sublinhando que, pela primeira vez, o milionário disse estar de acordo com as próprias agências de espionagem, ao atribuir à Rússia a culpa pelas interferências informáticas na campanha. Mas falar do discurso de despedida de Obama em Chicago, na noite de terça-feira, é também falar de Donald Trump.

“O debate de ideias, diz Obama, não se pode desenrolar com saúde ‘se não estivermos prontos a admitir novos dados ou conceber que os nossos adversários também podem ter um ponto de vista justo’”, cita o diário francês. “Que um presidente americano tenha de afirmar estas evidências em 2017 é, em si mesmo, um motivo de inquietude.”