É um dos primeiros discursos de Mário Soares de que há registo escrito. A comunicação intitulada “A Juventude Não Está Com o Estado Novo” foi feita no dia 30 de novembro de 1946, numa reunião do recém-criado Movimento de Unidade Democrática (MUD), na Voz do Operário, em Lisboa.
No arquivo da Fundação Mário Soares, é possível consultar o texto na íntegra.
“Os jovens de hoje são os homens de amanhã. Falar de juventude significa voltarmo-nos para o Futuro. E nós, democratas, não tememos o futuro – porque acreditamos no caminhar da história. Por isso nos voltamos para a juventude e nos permitimos a todas as esperanças, a todos os entusiasmos.
Sabemos que uma parte da juventude foi educada tendenciosamente, que a grande maioria não tem qualquer preparação, sabemos que as baixas condições de vida da juventude que trabalha, nos campos ou nas fábricas, são propícias a todas as formas de corrupção, a todos os vícios e desvarios.
Mas, apesar disso, confiamos. Confiamos na juventude – no seu amor apaixonado pela liberdade, no seu gosto pela independência, no seu entusiasmo. Frente a certos incitamentos, à delação e à desobediência, frente a certos apelos aos seus mais baixos instintos – ao egoísmo e à brutalidade – nós outros, democratas, levantamos a bandeira da solidariedade, do sacrifício a uma ideia, do desinteresse.
Pedimos à juventude para que nos resista no que temos de mau, desenvolvendo o seu espírito critico. Pedimos-lhe o amor pelas ideias claras, pedimos-lhe que nos ultrapasse: fazendo do nosso ponto de chegada o seu ponto de partida.
Queremos que a juventude saiba ser alegre – como lhe compete – e que tenha o gosto pela vida, mas exigimos-lhe que trabalhe, que se qualifique, que tenha sentido da dignidade pessoal, o sentimento da responsabilidade."
Mário Soares, 1946