Mariah Carey. “Shit happens”

Mariah Carey. “Shit happens”


Ultimamente, para a cantora norte-americana, episódios como o falhanço no concerto de fim de ano parecem ser mais um hábito do que azares isolados.


Uma “verdadeira superstar”. Foi desta forma que Ryan Seacrest, o apresentador do programa que acompanha a contagem decrescente rumo a um novo ano, acompanhado por milhares na Times Square, em Nova Iorque, e por milhões em casa através da transmissão em direto da “ABC”, apresentou Mariah Carey. Mas o que se seguiu esteve longe de ser um momento digno de “verdadeira superstar”. Logo aos primeiros acordes de “Emotions”, ficou claro que algo não estava certo.

Tal como é habitual com muitos dos cantores da atualidade, a ideia seria que Mariah Carey simulasse cantar em sintonia com a música de fundo. Mas o lip sync da cantora de 46 anos estava tudo menos sincronizado. Ao segundo tema, “We Belong Together”, os problemas continuaram. Por esta altura, Mariah Carey desistiu de vez de tentar cantar, embarcando numa sofrível coreografia, enquanto fazia alguns comentários ao microfone, como “Vou deixar o público cantar”. No final deste tema, num momento ‘à diva’, disse à plateia: “Isto não melhorou”. E saiu do palco.

Horas mais tarde, Mariah Carey utilizou o Twitter para comentar o sucedido. Irónica, usou uma animação acompanhada pelo texto: “Shit happens. Have a happy and healthy new year everybody! Here’s to making more headlines in 2017” (”Estas merdas acontecem. Tenham um ano feliz e com saúde! Um brinde a mais manchetes em 2017”). A justificação não convenceu milhares de fãs, que criticaram a falta de profissionalismo da cantora. Houve mesmo quem comentasse que, a terminar um ano marcado por tantas mortes importantes na área da música, esta atuação foi a derradeira.

Perante a polémica, a agente de Mariah Carey atribuiu o fracasso à produtora do concerto. Stella Bulochnikov acusou a Dick Clark Productions de ter sabotado o espetáculo em busca de aumentar as audiências da emissão televisiva. “Sabiam que os auscultadores de ouvido não estavam a funcionar e a vossa equipa inteira de produção não se mexeu para a ajudar.

E a Mariah continuou a dizer isto em palco, mas continuaram a ignorá-la. Devia tê-la tirado do palco”, disse. No mesmo comunicado, Stella Bulochnikov acrescentou: “Dez minutos antes dissemos que os auscultadores não estavam a funcionar. Mudaram a bateria, mas deixaram de funcionar outra vez quatro minutos antes do espetáculo. Avisámos novamente, mas afirmaram que iriam funcionar quando estivesse ao vivo, o que acabou por não acontecer”. Num outro comunicado, a Dick Clark Productions considerou estas acusações “difamatórias e absurdas”.

Momentos excêntricos

Foi com apenas 20 anos que Mariah Carey conheceu o sucesso. O seu primeiro álbum, “Mariah Carey” (1990), permaneceu no topo da tabela Billboard 11 semanas, valeu-lhe nove discos de platina e nove milhões de cópias vendidas nos EUA. Fãs e crítica especializada renderam-se, quase de imediato, a uma voz com características únicas E o sucesso repetiu-se nos álbuns que se seguiram, nomeadamente “Emotions” (1991), “Music Box” (1993) “Daydream” (1995).

Com 14 álbuns de estúdio lançados – o último, “Me. I Am Mariah… The Elusive Chanteuse”, em 2014 – Mariah Carey é a terceira artista feminina mais vendida nos EUA, antecedida por Barbra Streisand e Madonna. No mundo soma vendas superiores a 250 milhões de exemplares. Mas o sucesso parece mais sedimentado nos álbuns da primeira fase da sua carreira, sendo os anos mais recentes marcados por momentos excêntricos – como a renovação de votos com Nick Cannon, de quem entretanto se divorciou, na Disney, num momento Cinderela – e por vários momentos embaraçosos no campo do playback, bem como algumas aparições públicas alcoolizada e ainda inúmeras discussões com Nicki Minaj, durante o programa “American Idol”.

Ainda que com uma carreira longe da glória passada, o ressurgimento anual de Mariah Carey é garantido, pelo menos no Natal, uma vez que o hit “All I Want For Christmas Is You” (1994) continua um incontornável desta época. Este ano que terminou, aliás, teve honras de episódio especial do “Carpool Karaoke”, de James Corben, em que a cantora apareceu a cantar o tema, com um decote ultra provocante – que de resto tem sido a sua imagem de marca nos anos mais recentes e que não a tem poupado de algumas piadas, como ainda há cerca de um mês, no “The Ellen Show”, em que Ellen DeGeneres falou dos “dois diamantes” de Mariah.

Uma semana depois, a 4 de dezembro, estreou “Mariah’s World”, no canal E!. A série documental – com laivos de reality show – dividida em oito partes, acompanha a vida da cantora, dentro e fora dos palcos, durante a Sweet Sweet Fantasy Tour, a sua nona tournée, que teve lugar entre março e novembro de 2016. Na apresentação do programa, Mariah Carey confessou estar entusiasmada por trazer os fãs para a sua vida. Já Jeff Olde, o vice-presidente do canal E!, sublinhou o facto de a cantora ser “uma das mais cativantes superstars da pop dos nossos tempos e uma das poucas artistas cujo primeiro nome, por si só, é instantaneamente reconhecido em todo o mundo.

Esta série apresenta um lado único, vulnerável e surpreendentemente bem-humorado que os fãs de Mariah nunca viram, ao mesmo tempo que dá a conhecer o seu estilo de vida repleto de verdadeiro glamour e luxo máximo.” Este estilo de vida, aliás, fica explícito logo nas primeiras imagens de “Maryah’s World”, quando a diva aparece num body preto em cetim e renda, deitada numa chaise longue em sua casa. “É este um traje normal para as pessoas usarem? Não sei, mas estou em casa e isto é o que uso”, diz, acrescentado que prefere fazer da vida uma festa divertida. Resta saber se a passagem de ano não terá sido o fim da festa para Mariah Carey.