Augusto Santos Silva apanhado a comparar a concertação social a uma “feira de gado”

Augusto Santos Silva apanhado a comparar a concertação social a uma “feira de gado”


Câmaras e microfones apanharam o ministro Santos Silva a comparar uma reunião da concertação social com uma “feira de gado”


Havia boa disposição no jantar de Natal do grupo parlamentar do Partido Socialista. António Costa brindou ao acordo “conseguido por Vieira da Silva” horas antes. O líder da bancada Carlos César e o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, também ergueram as respetivas taças em celebração por aquilo que ainda nesse dia ficara fechado em sede de concertação social.

Marcelo Rebelo de Sousa viera, também nessa noite, louvar o pacto como positivo e sem consequências “para a paz social”. “Temos de pensar nos milhares e milhares de pequenos e médios empregadores por este país fora que teriam com a subida do salário mínimo problemas complicados em termos da gestão das suas empresas”, afirmara o Presidente da República, desejando um feliz Natal aos portugueses.

De volta à ceia socialista, ouviu-se: “Fechamos este ano com chave de ouro” e sorriu o primeiro-ministro, acerca do “sucesso” que o ministro do Trabalho, José António Vieira da Silva, conseguira na reunião com os parceiros sociais que acabara de terminar.

Mas embora o discurso de António Costa fosse assumidamente “sem notícia”, havia membros do executivo socialista mais entusiasmados que os restantes convidados à mesa.

Ó Zé António, és o maior Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros e braço-direito da chefia de governo, era mesmo dos mais eufóricos. Esquecendo as câmaras e os microfones, que estavam ligados na sala, o responsável pela diplomacia portuguesa atirou, em jeito de à parte: ““Ali o Vieira da Silva conseguiu mais um acordo! Ó Zé António, és o maior! Grande negociante… Era como uma feira de gado! Foram todos menos a CGTP? Parabéns…”.

Victor Moura-Pinto repescou a gaffe na sua rubrica na TVI e houve quem torcesse o nariz.

“Uma declaração patética que não surpreende face às habituais piadas de António Costa. Só surpreende pela não indignação dos histéricos do regime”, reagiu ao i o deputado Duarte Marques, do PSD.

Os parceiros sociais também não lançaram as melhores reações.

Ao i, João Machado, o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), revelou não achar as declarações de Santos Silva como algo “apropriado”. “Reconheço que o trabalho do ministro [Vieira da Silva] foi difícil e a sua posição foi importante, mas não me identifico com estas declarações [de Santos Silva]”.

À vontade não é… Da parte da UGT, José Abrão assumiu: “Para nós, a concertação social é um espaço sério de negociação que deve ser preservado, como seria na sede do Ministério das Finanças”.

No entanto, a comparação entre a concertação social e uma “feira de gado” “vale o que vale”. Do ponto de vista do dirigente da UGT, “são dois ministros com provas dadas num ambiente de à vontade”.

Diplomacia… Ainda ao i,  António Saraiva, o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) comentou somente: “Para um ministro dos Negócios Estrangeiros, usou pouca diplomacia”. 

À hora do fecho desta edição, o gabinete do ministro dos Negócios Estrangeiros não respondeu à polémica natalícia com que Augusto Santos Silva foi prendado. O essencial, do acordo, lembrou o presidente da CAP, “é ter sido fechado”.