Educação. A esgrima dos resultados

Educação. A esgrima dos resultados


Estudos e rankings geraram a uma batalha entre ex-ministros da Educação que puxam a si os louros dos resultados. O atual já respondeu.


Estudos, análises e rankings. São vários os resultados positivos na Educação divulgados nas últimas semanas que não tardaram a gerar uma luta entre ex-ministros da pasta e partidos para reclamar os louros.

E estes são os temas que vão marcar a audição do ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, que vai hoje ao parlamento pela primeira vez após a divulgação dos estudos internacionais mais importantes na Educação, o PISA (Programme for International Student Assessment) e o TIMSS (Trends in International Mathematics and Science Study). Politólogos ouvidos pelo i, referem que os sucessos nestes estudos ocuparão grande parte da audição, lembrando que a Educação é um tema “apetecível” para os partidos, porque “toca em todas as pessoas”.

Após a troca de galhardetes dos últimos dias entre ex-governantes, o atual ministro da Educação deu este fim de semana a sua primeira entrevista – passado mais de um ano de mandato – para responder ao seu antecessor, Nuno Crato.

“Não tenho nenhum ímpeto de deixar uma marca identitária na Educação para que no dia de amanhã haja um período que possa ser associado ao meu nome”, diz Tiago Brandão Rodrigues ao Expresso.

À margem de tudo isto, continuam as escolas para quem não há dúvidas: os resultados e a “evolução positiva” é, sim, fruto do “trabalho dos professores”.

“Ninguém pode dizer que as melhorias resultam de políticas de um ministro em específico”, diz o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE). Manuel Pereira salienta que “nos últimos anos o ministério só atrapalha” e, “não obstante, as escolas fizeram um bom trabalho e têm feito um percurso sólido e seguro”.

Opinião partilhada pelo presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos de Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima, para quem estes resultados não são reflexo “de nenhuma estratégia” das várias tutelas que passaram pela 5 de Outubro.

Para José Eduardo Lemos, diretor do agrupamento Eça de Queirós e atual presidente do Conselho de Escolas, a evolução nos resultados da Educação é o espelho dos discursos políticos dos ex-ministros David Justino, Maria de Lurdes Rodrigues e Nuno Crato. “Estes governos valorizaram, no seu discurso político, os resultados escolares”. No entanto, José Eduardo Lemos não está otimista quanto ao futuro: “Temo que a atual evolução se vá perder. Esta equipa não dá valor à avaliação externa. E sem exames não há obstáculos para que os alunos se superem e não há exigência”.

Ex-Ministros chamam a si os louros

A par das escolas, tanto o ex-ministro do PSD/CDS, Nuno Crato, como a ex-ministra do PS, Maria de Lurdes Rodrigues, reclamam os resultados como sendo fruto das suas políticas.

Para Nuno Crato a subida record no desempenho dos alunos avaliados, na Matemática, Leitura e Ciências entre 2011 e 2015, no TIMMS e no PISA é, também, resultado “do trabalho diário dos professores e dos alunos portugueses”. No entanto, o ex-ministro lembrou este mês ao i que “houve políticas educativas, de vários ministros, que o permitiram e incentivaram”. Algumas das medidas enumeradas por Nuno Crato são as provas nacionais no 4.º ano, os exames nacionais do 6.º e do 9.º anos acompanhados por metas curriculares “mais bem organizadas, com mais coerência e rigor”. Tudo isto, acredita Crato – que elogia Manuela Ferreira Leite, Marçal Grilo e David Justino –, promoveu “novos incentivos ao progresso”.

Fora deste leque de elogios de Nuno Crato, está a ex-ministra de José Sócrates, Maria de Lurdes Rodrigues. E, também a ex-ministra prefere elogiar outras medidas adotadas. É o caso do Plano de Ação para a Matemática, desenhado durante a sua tutela, entre 2005 e 2009, e que teve como foco a formação de professores do 1.º ciclo. A ex-ministra disse ao “Público” que houve nessa altura uma “uma mudança de quem ensina” permitindo melhorar “a qualidade das aprendizagens e disponibilizando meios às escolas para melhorarem”.

Esta esgrima de argumentos entre Lurdes Rodrigues e Crato traduz “um indicador preocupante da política de educação”, avisa Viriato Soromenho Marques. Ao i, o professor universitário, defende que, na Educação, as “políticas deviam ser aplicadas ao longo de vários mandatos”. Para Viriato Soromenho Marques, esta “luta de ministros mostra bem que isso não acontece”.

Também o politólogo António Costa Pinto diz que com a divulgação dos resultados dos estudos houve “uma tentativa concertada de capitalização política de algo positivo”. 

Estudos não fragilizam ministro

Para as escolas – que acham que nenhum governante foi determinante para o sucesso alcançado ­– o atual ministro, Tiago Brandão Rodrigues, fica fora mesmo da equação.

“Este ministro não tem um discurso estruturado. É alguém que o PS colocou no ministério como pacificador e para executar as medidas definidas por alguém do PS que não se quer queimar como ministro”, diz ao i o especialista em Educação, Paulo Guinote. O professor diz ainda que o ministro “não tem um discurso fresco e está no ministério para seguir um guião”.

Mas, nem por isso Guinote acredita que os resultados dos estudos a que se somam os rankings das escolas – que continuam a colocar as escolas privadas nas primeiras posições – venham fragilizar Tiago Brandão Rodrigues. A mesma posição têm vários politólogos, que defendem ainda não ter havido tempo para ver resultados das políticas do atual ministro. “Há muitas modificações em curso e que ainda não tiveram os seus efeitos. Há que avaliar no seu devido tempo”, defende o professor de Filosofia Política na Universidade do Minho, João Cardoso Rosas.

Opinião partilhada por António Costa Pinto para quem a estratégia da oposição para fragilizar o ministro não passa pelo ataque através dos estudos. Passa, sim, por “colocar o ministro mais à esquerda do próprio PS, na órbita do PCP e dos sindicatos”.  

O primeiro-ministro é que já sentiu necessidade de sair em defesa do seu ministro da Educação, lembrando que nos rankings “não se podem comparar escolas públicas com privadas”.