A novela da Caixa


O BE demonstra assim que, sempre que surgir alguma situação difícil, não hesitará em lançar às feras o governo do PS, estejaem causa Mário Centeno ou até o próprio António Costa


A péssima novela da Caixa acabou de ter mais um desenvolvimento folhetinesco, com a demissão do seu presidente e de seis administradores. Esta novela demonstra bem a péssima atuação deste governo. Em primeiro lugar, convidou administradores para assumir a gestão da CGD com base numa promessa ilegal, promessa essa que não cumpriu, apesar de ter alterado a lei para o efeito, pelos vistos com grande incompetência. A seguir, o país ficou a assistir ao folhetim da entrega ou não da declaração de rendimentos e património pela administração da CGD ao Tribunal Constitucional, garantindo toda a gente que a declaração iria ser entregue. Pois se até o Presidente da República se tinha dado ao trabalho de chamar o presidente da CGD a Belém, para o convencer pessoalmente a entregar o tal papel… Mas a novela sofre agora um twist, uma vez que a administração da CGD se demite porque foi aprovada no parlamento uma lei para os obrigar a entregar a tal declaração que ela própria já sabia ter de entregar.

A novela parece absurda, mas demonstra bem a fragilidade deste governo. Apesar de todos os festejos a proclamar a consistência do apoio do BE e do PCP à geringonça, e do total beneplácito do Presidente a esta solução, o que se verifica é que o BE não hesitou em roer a corda, votando ao lado do PSD e do CDS numa questão melindrosa para o governo. Isto mesmo depois de o PS ter exigido, quase em desespero, uma repetição da votação, a ver se o BE alterava o seu voto. O BE demonstra assim que, sempre que surgir alguma situação difícil, não hesitará em lançar às feras o governo do PS, esteja em causa Mário Centeno ou até o próprio António Costa. Resta só saber se Mário Centeno se vai manter no governo, depois de ter sido desautorizado desta forma, e especialmente se António Costa, com umas sondagens tão favoráveis, aceitará ser frito em lume brando pelo seu querido parceiro de coligação. Aguardemos pelas cenas dos próximos capítulos.

 

Professor da Faculdade de Direito de Lisboa

Escreve à terça-feira