“Sem migrações, as sociedades europeias não são sustentáveis”

“Sem migrações, as sociedades europeias não são sustentáveis”


António Guterres admitiu que a globalização deixou “muita gente para trás”


“Sem migrações, as sociedades europeias não serão sustentáveis.” A afirmação foi feita por António Guterres numa intervenção durante o Vision Europe Summit, que decorre na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. O secretário-geral da ONU eleito realçou que “a migração é parte da solução”.

“Portugal tem um índice de fertilidade de 1,3. A maioria dos países da Europa tem um índice de fertilidade claramente abaixo dos 1,5. O que significa que, sem migrações, as sociedades europeias não são sustentáveis”, disse. Guterres lamentou que desde 2015 se assista a “uma dramática deterioração do sistema de proteção de refugiados” e à prevalência da “agenda da soberania nacional” sobre “a agenda dos direitos humanos”.

Guterres alertou que “nenhum país conseguirá resolver sozinho o desafio das migrações”, devendo os grupos regionais, como a Europa, “assumir coletivamente” as suas responsabilidades. “As políticas de cooperação para o desenvolvimento têm de ter em conta o impacto na mobilidade humana e têm-no ignorado.”

GLOBALIZAÇÃO

O ex-primeiro- -ministro recordou que quando chegou ao governo, em 1995, existia “um otimismo enorme de que a globalização e o progresso tecnológico podiam de-senvolver a economia e trazer prosperidade, e que isso iria incluir toda a gente – toda a gente ia beneficiar disso, a globalização iria ser a solução para os problemas. Claro que ajudou, o mundo mudou para melhor em muitos aspetos, mas muita gente ficou para trás”.

Para António Guterres, “a globalização não foi tão bem-sucedida como tínhamos pensado, muitas pessoas não ficaram contentes e acharam que muitos governos falharam. Por isso é que as forças antissistema tendem a ganhar eleições”.

medo e insegurança

Os refugiados, explicou António Guterres, foram as principais “vítimas desta evolução das opiniões públicas”, porque “criaram medos, inseguranças e tornaram-se ameaças para muitas comunidades”. Perante este sentimento das pessoas, “os líderes políticos e de organizações internacionais têm de dar respostas concretas aos sentimentos de comunidades e populações”.

Para Guterres, as migrações são necessárias, mas é preciso saber lidar com esta realidade. É necessário que os Estados, as autoridades regionais, as autarquias e a sociedade civil tomem medidas para que os refugiados “sintam que pertencem a uma comunidade, que não estão à margem”, disse.