Gripe mais perigosa  este ano para quem nasceu antes de 1957

Gripe mais perigosa este ano para quem nasceu antes de 1957


Filipe Froes, pneumologista e consultor da DGS, ajuda a perceber os últimos alertas. Vacinação é a arma mais eficaz 


A Direção-Geral da Saúde alertou esta semana que a gripe pode ser mais agressiva do que no inverno passado, sublinhando a importância da vacinação. O facto de os vírus do subtipo AH3 (entre eles, o AH3N2) parecerem predominantes este ano – não só em Portugal como na Europa – é o motivo da preocupação. Filipe Froes, pneumologista e consultor da DGS, tem acompanhado a evolução da epidemia e explica ao i que são mais perigosos sobretudo para quem já é fisicamente mais vulnerável.

“As pessoas que nasceram antes de 1957 têm menos defesas contra este subtipo, pois antes dessa data havia outros vírus dominantes. Estiveram expostas a menos estirpes”, diz Froes, explicando que, a cada época de gripe, as estirpes em circulação mudam, mas vamos adquirindo anticorpos que ajudam a construir as defesas ao longo da vida.

Por outro lado, este dado histórico significa que são as pessoas com mais de 60 anos as que têm menos defesas. E estas já são, por natureza, mais suscetíveis a ter mais complicações. “Têm uma menor reserva fisiológica. Uma pessoa com 60 anos não tem o coração de alguém de 30.”

A recomendação central é, por isso, a vacinação – gratuita nos centros de saúde para grupos de risco e disponível nas farmácias. “A boa notícia é que as estirpes em circulação coincidem com as da vacina”, frisa o pneumologista. A principal vantagem da vacina é prevenir os quadros mais graves, que incluem pneumonias. Reduz ainda o risco de descompensação de doentes crónicos. 

A atividade gripal começou a fazer-se sentir duas a três semanas mais cedo. Entre os dias 7 e 13, revelou o Instituto Ricardo Jorge, a taxa de incidência da síndrome gripal era o dobro da verificada na mesma semana do ano passado. Ainda assim, a intensidade da transmissão permanece baixa. Froes sublinha que é difícil fazer prognósticos: a atividade pode manter–se baixa mais umas semanas e o momento de início não ter significado, e os vírus dominantes podem alterar-se. 

Os dados da última época gripal em que os vírus AH3 foram dominantes ajudam, porém, a reforçar o alerta. Aconteceu no penúltimo inverno, na época de 2014/2015, em que acabaram por dominar os vírus influenza B, mas houve um período de cocirculação com o AH3. Houve mais 5591 mortes do que seria expetável nestes meses do ano, o segundo pior registo. Os peritos do Instituto Ricardo Jorge atribuíram 76% do excesso de mortalidade à gripe sazonal, e os restantes à vaga de frio. 

Pessoas com mais de 65 anos foram as mais afetadas. A maioria dos doentes que precisaram de cuidados intensivos tinham já uma doença crónica de base, o que reforça a importância da vacinação das pessoas neste grupo. “Temos uma vigilância cada vez mais robusta, o que nos permite ir fazendo alertas com dados obtidos quase em tempo real”, sublinha o médico.