No Hospital Garcia de Orta, os doentes infetados com bactérias multirresistentes como a E-coli e a Klebsiela estão misturados nas mesmas salas com os doentes que não estão infetados e inclusivamente com pacientes que foram submetidos a cirurgias, estando, por isso, ainda mais debilitados.
Segundo fontes médicas revelaram ao i, vários doentes que, de acordo com as normas internacionais, deveriam estar isolados estão atualmente em quartos de três camas apenas separados da cama do lado por uma cortina de pano. As visitas entram e saem sem estarem equipadas. Confrontado com este cenário, o bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, considerou tratar-se de uma situação “inaceitável” que precisa de ser esclarecida pelo hospital. Dados consultados pelo i, bem como contactos de alguns familiares de doentes, deixam claro que são várias as irregularidades no serviço Medicina IV (Ginecologia Oncológica) do hospital.
Contactada, a unidade admitiu a mistura de doentes, defendendo que os infetados que se encontram em enfermaria não carecem de isolamento. Disse ainda que estão a ser cumpridas “as normas de prevenção e controlo de infeção, quer por profissionais, quer por utentes (familiares e visitas)”. Mas não estão.
Não se usa proteção ao contrário do que diz hospital Ontem, à porta dos oito quartos do serviço (seis deles com três doentes cada) estava uma mesa de refeições com equipamentos de proteção individual. Era o primeiro sinal e talvez o único de que dentro de cada uma das divisões estava um infetado com uma bactéria multirresistente.
Confrontado, o hospital garantiu que tal equipamento é obrigatório para quem entra nas salas e que existe um controlo efetivo, mas as fotografias enviadas ao i por familiares mostram como quem visitou ontem os doentes do serviço não usou as máscaras nem as toucas que estão à porta dos quartos. E não o fizeram por desconhecimento, não por desobediência – a entrada é livre.
Especialistas consultados pelo i garantem que o isolamento para pessoas com infeções graves como estas pode passar por haver um distanciamento dos outros doentes de pelo menos uma cama de intervalo, ou mesmo não ter mais ninguém no quarto. No Garcia de Orta, nem uma coisa nem outra. A única barreira que separa infetados de não infetados é uma cortina.
Alguns dos que estão internados naquele serviço foram transferidos por não haver espaço nas unidades onde deveriam estar. Uns, por exemplo, foram operados por problemas de oftalmologia e ortopedia, que nada têm a ver com ginecologia mas, por falta de camas nesses serviços, foram colocados lado a lado com pessoas que estão infetadas com algumas das bactérias mais perigosas, como a E-coli Multirresistente (MR) e a Klebsiela (MR). Além disso, alertam fontes médicas, estas pessoas deverão regressar aos serviços onde deveriam estar assim que haja espaço e poderão transportar a bactéria – que é resistente aos antibióticos.
O i sabe que no hospital de Almada são vários os profissionais que já mostraram o seu descontentamento com esta situação e o i apurou que o caso preocupa até o serviço de controlo de infeções da unidade.
No esclarecimento enviado ao i ontem, fonte do hospital justificou que cada caso é analisado especificamente e que em nenhum deles “é posta em risco a infeção, nem de outros doentes, nem dos profissionais, nem dos familiares e outras visitas, uma vez que são cumpridas todas as práticas e recursos necessários de controlo e prevenção de infeção adequados”.
Num ano já morreram seis pessoas com a bactéria multirresistente Klebsiela pneumoniae em unidades hospitalares de Gaia e Coimbra.