1) A mais recente revelação da empolgante novela “Rio Admite Avançar” foi narrada em parangona do “Expresso” e certamente inaugurou uma nova época a que poderemos chamar “silly season” de S. Martinho antecipado. Já não há paciência para manchetes a anunciar os avanços e auscultações de Rio, a que se seguem, quase inevitavelmente, a sua ultrapassagem por outro político mais tático e determinado ou o avanço de alguém que patrioticamente decide substituir-se a Rio quando ele desiste. Já várias vezes o ex-presidente da Câmara do Porto se fez a descolagens que abortam na pista. Desta, as conversas ocorrem a mais de um ano de distância do primeiro momento em que pode surgir uma perturbação no PSD, ou seja, as autárquicas de 2017. No entanto, trata-se de eleições em que todos os partidos acabam por arranjar uma maneira de exibir contas vitoriosas, e os sociais-democratas não serão exceção. Além disso, Passos Coelho já foi dizendo que não está disponível para sair sem dar luta. Na entrevista que deu antes de seguir para a OCDE, Jorge Moreira da Silva, o ex-número dois de Passos, explicou isso mesmo na Antena 1. O mais provável é Passos ser uma espécie de Toyota da social-democracia e ter vindo para ficar, pelo menos até às próximas legislativas. Estas podem realizar-se só no fim dos quatro anos da legislatura, contrariando as teses que se ouviam generalizadamente há um ano. Pelo andar da geringonça, já não seria coisa de espantar.
2) Outra saga da época das castanhas tem a ver com as “castanhadas” que se trocam à volta do caso Caixa Geral de Depósitos. O governo decidiu retirar os gestores da CGD do contexto público, o que é um contrassenso num banco estatal. Assim, estes não tiveram de se incomodar a entregar declarações de rendimentos ao Tribunal Constitucional, podendo fazer caixinha do assunto. Mas logo houve quem descobrisse uma lei de 1983 que impõe que qualquer gestor ligado a empresa participada pelo Estado tem mesmo de fazer a tal declaração. É espantoso recorrer–se a legislação que tinha sentido num contexto em que não havia coisas como a informática, o IRS (era o imposto complementar), o IRC, a internet, o email, a era digital e a Web Summit. Passados estes anos, o que ainda continua a valer são umas singelas folhas A4 de formulário antigo, quando num ápice as Finanças e a justiça podem descobrir praticamente tudo sobre a vida económica de qualquer cidadão. Um hino à burocracia! Um aspeto que, entretanto, tem sido ignorado na questão dos rendimentos pode ter a ver também com a circunstância de a CGD ter na equipa de gestão dois estrangeiros que, eventualmente, não estarão disponíveis para uma sessão de striptease fiscal, retomando uma expressão feliz de Passos Coelho. Uma coisa parece certa: a trapalhada foi criada pelo governo e por Mário Centeno ao cederem às exigências da equipa de António Domingues e deve estar a custar um balúrdio à CGD e aos contribuintes.
3) Existe a forte probabilidade de Hillary Clinton ser efetivamente a primeira mulher eleita presidente dos EUA. As sondagens e, sobretudo, o senso comum indicam isso desde sempre. Há muito tempo que os desgraçados dos eleitores americanos não tinham de escolher entre dois candidatos tão pouco entusiasmantes. Sendo a expetativa baixíssima, existe sempre a possibilidade de o vencedor acabar por surpreender pela positiva, ultrapassando as expetativas baixas durante o mandato, numa trajetória inversa à de Obama. Mas uma coisa é certa em relação ao contexto mundial, que é, afinal, o que nos diz respeito: Clinton não é uma pomba branca da paz e Trump pode não ser o falcão que alguns apregoam.
4) Mossul, o grande bastião do Daesh, vai cair no meio de atrocidades dos radicais islâmicos, que se servem até de crianças como escudos. Que não haja piedade para aquela gente. E que o Ocidente esteja atento porque não será de excluir que seja exatamente aí que ocorram proximamente atentados terroristas de vingança.
Nota final: Inesperadamente morreu Jaime Fernandes, um enorme profissional da rádio, da televisão e da organização de espetáculos e eventos. Era atualmente provedor do telespetador da RTP e administrador do MEO Arena. Foi um vencedor sereno em tudo o que realizou ao longo de uma carreira de mais de 50 anos. Numa vida marcada também pela trágica perda de um filho, ajudou e lançou dezenas de profissionais do audiovisual e da música. Deixa um vazio imenso e um sem-número de amigos e admiradores. RIP, Jaimex.
Jornalista