Um outro bloco


É constituído por gente bem preparada, dinâmica, aberta mas tradicional nos princípios, e que não gosta de políticos.


É inorgânico, mas é um espaço existente na sociedade portuguesa que junta gente jovem, trabalhadora, instruída, com interesses próprios e que despreza políticos.

Nesta fatia da população, que vai facilmente dos quase 30 até aos 45, encontra–se gente oriunda de todas as classes sociais e tendências políticas de família. Há jovens empresários, quadros, trabalhadores individuais ou por conta de outrem. Há sobretudo gente dinâmica, bem preparada, com formação superior, que não se revê nas polémicas da política quotidiana, na procura sistemática de questões fraturantes, nem acredita na demagogia debitada torrencialmente por partidos e certos comentadores. Quando muito, este grupo interessa-se pela política de proximidade ou por questões planetárias como o ambiente e a sustentabilidade.

Neste universo encontram-se muitos jovens que não têm medo de arriscar, concorrendo, saindo do país para procurar a sua sobrevivência e realização profissional, integrando-se bem nos seus destinos. Se estão na Europa, voltam regularmente em escapadinhas para ver a família e carregar a pilha dos afetos. Muitos têm pós-graduações, mestrados e doutoramentos, ou responsabilidades em empresas nacionais e internacionais de alta exigência. Outros optam por carreiras universitárias ou de investigação, tanto cá como fora, nas quais dão cartas. Outros ainda têm profissões criativas, artísticas ou atividades ligadas ao mundo rural e ao mar que já muito contribuíram para mudar Portugal, como o surf.

Não acreditam nos media tradicionais. Divulgam-se e informam-se através das redes sociais só para terem uma ideia da atualidade, o que lhes traz um défice de conhecimento sobre os antecedentes de acontecimentos.

Normalmente oriundos das várias classes médias, estes jovens mantêm tradições. Em regra, afirmam-se crentes. Muitos são praticantes. Mas mesmo que o não sejam, educam os filhos nesses valores, seguindo padrões morais cristãos, respeitando cônjuges e tendo espírito de família. São tolerantes com outros hábitos e costumes, desde que assumidos sem exibicionismos.

São os filhos da geração que andava pelos 20 ou 30 anos no 25 de Abril e que viveu uma fase de profundas transformações, acabando por se arrumar, sem nunca perder o interesse pelo rumo das coisas, embora já sem se envolver.

Estes jovens de hoje têm estética, gostam de sítios bonitos – o que não quer dizer caros –, saem quando podem e contam com o suporte e apoio da geração anterior, que se vai retirando da vida ativa, ao longo da qual fez sacrifícios para lhes proporcionar o melhor em termos materiais e educacionais.

Como empresários ou quadros são normalmente ativos, dinâmicos, criadores de startups ou refundadores de negócios antigos. Quando as coisas não lhes correm bem, recomeçam em vez de chorar pelos cantos.

Eles são a Web Summit, eles são as empresas exportadoras de ideias, os novos conceitos, o estilismo, a base da movida de Lisboa e do Porto. Desprezam o modelo típico de desenvolvimento do turismo de massas, procurando espaços de repouso e de lazer de qualidade à medida da bolsa de cada um, mas fugindo das grandes concentrações. No entanto, muitos gostam de convívio e concertos, vibrando com o futebol.

Não têm nada a ver com o velho empresariado português, em cujos modelos de baixos salários e pedinchice estatal não se reveem. Em contrapartida, tendem a ser individualistas. Nem sempre entendem conceitos como o Serviço Nacional de Saúde, segurança social e a solidariedade intergeracional. Preferem modelos baseados em esquemas de seguros individuais para tudo e mais alguma coisa, acreditando ingenuamente que o sistema financeiro tem sempre soluções. No entanto, muitos ajudam os mais desfavorecidos através de movimentos solidários, de operações humanitárias e de recolhas para instituições, sem fazerem alarde disso.

Todo este universo não é homogéneo, comportando histórias de vida muito diversas. Mas não se duvide que este segmento populacional existe e é significativo.
É uma geração diferente da que se lhe segue e que ronda os 20 anos, surgindo esta mais desorientada até por ter crescido já em contexto de austeridade, confrontando-se com problemas sociais mais complexos.

Grande parte deste grupo dos “trinta-quarenta e picos” é potencialmente abstencionista por não se rever em nenhum modelo ou dirigente. Só um projeto simultaneamente solidário e individual a mobilizaria. Num certo sentido, os seus membros são a antítese dos bloquistas e dos comunistas da mesma idade e que se empenharam na política. Porém, o núcleo apolítico não hostiliza o outro porque aceita quem se mobilize por causas, ainda que delas discorde. O que despreza verdadeiramente são os carreiristas dos partidos, o que explica que nas respetivas juventudes haja geralmente fraca qualidade. Falta lá dentro o que sobra nesta geração que chega aos 40 trabalhando arduamente, sem se preocupar com a política, o que é pena. Seria bem melhor uma sociedade que contasse com seu interesse pelas grandes questões de Estado. Mas, na realidade, a culpa desse alheamento não é deles, mas dos tristes exemplos que certos políticos, supostos servidores do Estado, banqueiros e empresários têm sucessivamente protagonizado. Cabe, pois, aos responsáveis políticos mais respeitados fazer algo para que a sociedade possa ainda contar com o contributo deste grupo de grande qualidade.

Jornalista


Um outro bloco


É constituído por gente bem preparada, dinâmica, aberta mas tradicional nos princípios, e que não gosta de políticos.


É inorgânico, mas é um espaço existente na sociedade portuguesa que junta gente jovem, trabalhadora, instruída, com interesses próprios e que despreza políticos.

Nesta fatia da população, que vai facilmente dos quase 30 até aos 45, encontra–se gente oriunda de todas as classes sociais e tendências políticas de família. Há jovens empresários, quadros, trabalhadores individuais ou por conta de outrem. Há sobretudo gente dinâmica, bem preparada, com formação superior, que não se revê nas polémicas da política quotidiana, na procura sistemática de questões fraturantes, nem acredita na demagogia debitada torrencialmente por partidos e certos comentadores. Quando muito, este grupo interessa-se pela política de proximidade ou por questões planetárias como o ambiente e a sustentabilidade.

Neste universo encontram-se muitos jovens que não têm medo de arriscar, concorrendo, saindo do país para procurar a sua sobrevivência e realização profissional, integrando-se bem nos seus destinos. Se estão na Europa, voltam regularmente em escapadinhas para ver a família e carregar a pilha dos afetos. Muitos têm pós-graduações, mestrados e doutoramentos, ou responsabilidades em empresas nacionais e internacionais de alta exigência. Outros optam por carreiras universitárias ou de investigação, tanto cá como fora, nas quais dão cartas. Outros ainda têm profissões criativas, artísticas ou atividades ligadas ao mundo rural e ao mar que já muito contribuíram para mudar Portugal, como o surf.

Não acreditam nos media tradicionais. Divulgam-se e informam-se através das redes sociais só para terem uma ideia da atualidade, o que lhes traz um défice de conhecimento sobre os antecedentes de acontecimentos.

Normalmente oriundos das várias classes médias, estes jovens mantêm tradições. Em regra, afirmam-se crentes. Muitos são praticantes. Mas mesmo que o não sejam, educam os filhos nesses valores, seguindo padrões morais cristãos, respeitando cônjuges e tendo espírito de família. São tolerantes com outros hábitos e costumes, desde que assumidos sem exibicionismos.

São os filhos da geração que andava pelos 20 ou 30 anos no 25 de Abril e que viveu uma fase de profundas transformações, acabando por se arrumar, sem nunca perder o interesse pelo rumo das coisas, embora já sem se envolver.

Estes jovens de hoje têm estética, gostam de sítios bonitos – o que não quer dizer caros –, saem quando podem e contam com o suporte e apoio da geração anterior, que se vai retirando da vida ativa, ao longo da qual fez sacrifícios para lhes proporcionar o melhor em termos materiais e educacionais.

Como empresários ou quadros são normalmente ativos, dinâmicos, criadores de startups ou refundadores de negócios antigos. Quando as coisas não lhes correm bem, recomeçam em vez de chorar pelos cantos.

Eles são a Web Summit, eles são as empresas exportadoras de ideias, os novos conceitos, o estilismo, a base da movida de Lisboa e do Porto. Desprezam o modelo típico de desenvolvimento do turismo de massas, procurando espaços de repouso e de lazer de qualidade à medida da bolsa de cada um, mas fugindo das grandes concentrações. No entanto, muitos gostam de convívio e concertos, vibrando com o futebol.

Não têm nada a ver com o velho empresariado português, em cujos modelos de baixos salários e pedinchice estatal não se reveem. Em contrapartida, tendem a ser individualistas. Nem sempre entendem conceitos como o Serviço Nacional de Saúde, segurança social e a solidariedade intergeracional. Preferem modelos baseados em esquemas de seguros individuais para tudo e mais alguma coisa, acreditando ingenuamente que o sistema financeiro tem sempre soluções. No entanto, muitos ajudam os mais desfavorecidos através de movimentos solidários, de operações humanitárias e de recolhas para instituições, sem fazerem alarde disso.

Todo este universo não é homogéneo, comportando histórias de vida muito diversas. Mas não se duvide que este segmento populacional existe e é significativo.
É uma geração diferente da que se lhe segue e que ronda os 20 anos, surgindo esta mais desorientada até por ter crescido já em contexto de austeridade, confrontando-se com problemas sociais mais complexos.

Grande parte deste grupo dos “trinta-quarenta e picos” é potencialmente abstencionista por não se rever em nenhum modelo ou dirigente. Só um projeto simultaneamente solidário e individual a mobilizaria. Num certo sentido, os seus membros são a antítese dos bloquistas e dos comunistas da mesma idade e que se empenharam na política. Porém, o núcleo apolítico não hostiliza o outro porque aceita quem se mobilize por causas, ainda que delas discorde. O que despreza verdadeiramente são os carreiristas dos partidos, o que explica que nas respetivas juventudes haja geralmente fraca qualidade. Falta lá dentro o que sobra nesta geração que chega aos 40 trabalhando arduamente, sem se preocupar com a política, o que é pena. Seria bem melhor uma sociedade que contasse com seu interesse pelas grandes questões de Estado. Mas, na realidade, a culpa desse alheamento não é deles, mas dos tristes exemplos que certos políticos, supostos servidores do Estado, banqueiros e empresários têm sucessivamente protagonizado. Cabe, pois, aos responsáveis políticos mais respeitados fazer algo para que a sociedade possa ainda contar com o contributo deste grupo de grande qualidade.

Jornalista