“Pelo Tejo vai-se para o mundo…” Quem o escreveu foi Alberto Caeiro. Talvez não seja este o destino (literal) dos velejadores que se concentram até dia 9 de outubro na Doca de Pedrouços, em Lisboa, mas certamente que não estará muito longe do ideal proposto pelo heterónimo de Fernando Pessoa.
Os catamarãs GC32 já se fazem ver para os lados de Belém e podem surpreender pelas velocidades que conseguem atingir: superiores a 70 km/h. Por essa razão, nos próximos dias só se pede uma coisa: vento, muito vento. Uma condição essencial – se não a única – para o sucesso do Extreme Sailing Series. E na Madeira bem que faltou e, por isso, o vento nada levou…
Ao fim de dez anos de existência de Extreme Sailing Series, as novidades continuam a surgir. Uma das mais importantes competições de vela a nível mundial estreou-se esta quinta-feira nas águas do Tejo, um rio nunca dantes navegado na história do ESS. Mas as águas não são a única novidade que o evento oferece. À elite da vela junta-se uma tripulação 100% feminina a concorrer e, se a notícia, por si só, já era otimista, calma que ainda há mais e melhor. Mariana Lobato, velejadora portuguesa, está a bordo da embarcação comandada pela neozelandesa Sharon Ferris-Choat, onde Joana Pratas marca presença fora do mar. A ex-atleta olímpica faz parte da equipa com o objetivo de ajudar no conhecimento local.
Emotiva, confiante e orgulhosa, Ferris–Choat lembrou que o Thalassa Magenta Racing – nome da embarcação – reúne “algumas das melhores velejadoras do mundo numa máquina que voa”.
A 10.a edição do ESS, que conhece agora a sétima e penúltima etapa antes de seguir para a Austrália, fica marcada pelas estreias. Diogo Cayolla é o skipper da embarcação portuguesa – Sali Portugal Visit Madeira –, que conta ainda com Nuno Barreto, Frederico Melo, João Matos Rosa e Luís Brito. Depois de uma etapa complicada na Madeira, onde conseguiu um 5.o lugar, Cayolla chega a Lisboa “orgulhoso” e “confiante” nas próximas disputas em casa. Com seis regatas por dia (com uma duração de cerca de dez a 12 minutos), a tripulação de Cayolla chega à capital em sexto lugar na classificação geral, numa tabela liderada pela equipa Oman Air (68 pontos), seguida de Alinghi (65 pontos) e com a Red Bull a fechar o pódio (63 pontos) – uma competição que está ao rubro, com a etapa do Tejo a poder ser decisiva nas contas. Portugal (42 pontos) luta pelo lugar da Land Rover, quinta na tabela classificativa, com 45 pontos.
Diogo Cayolla acredita que a competição no Tejo possa ser diferente em relação à performance conseguida na ilha. Acredita que o vento e a maré “podem ser determinantes” para os “quatro fabulosos dias de regatas”.
Morgan Larson, da Oman Air, também comentou depois de “ancorar” na terra dos alfacinhas, mas preferiu centrar-se nas águas (vitoriosas) do passado. Com presença garantida no pódio em todas as etapas, e o pior resultado a registar- -se na Madeira (3.o), Morgan não tem dúvidas da força da sua equipa e considera que o último resultado “é a prova de como a Alinghi (2.o) e a Red Bull (3.o) sabem velejar”, apesar de admitir alguns erros por parte da sua equipa.
Recorde Com nove equipas em prova, bateu-se o recorde de inscrições desde o início da competição, em março, em Omã. A entrega de três wild-cards por parte da organização permitiu a entrada da tripulação feminina Thalassa Magenta, os norte-americanos do Vega Racing e os franceses Norauto.
Primeiro dia No final das cinco regatas no primeiro dia em águas portuguesas, a equipa francesa da Norauto foi o único wild-card a marcar presença no pódio. Com 53 pontos, é a segunda classificada à entrada da competição.
A embarcação de Cayolla conseguiu alcançar o quinto lugar, depois de ter sido a grande vencedora da quarta regata do dia, com 39 pontos, num circuito onde a Alinghi foi a vencedora, ao somar 55 pontos no total das cinco regatas.
Destaque para a tripulação feminina que, apesar do sétimo lugar, somou 29 pontos e ficou a apenas um da Vega Racing. Ferris-Choat afirmou ter sido “um grande dia para a equipa” em algo “que nunca tinham feito antes”. A equipa Land Rover, principal rival da SP Visit Portugal, foi atirada para o fundo da tabela, com 28 pontos.
A Oman Air, líder da geral, voltou a cumprir a tradição – não sair de entre os três melhores – e arrecadou o último lugar (3.o) do pódio, com 50 pontos.
O Tejo volta a ser palco de uma “batalha naval” esta sexta-feira, no segundo dia dos quatro de provas na Doca de Pedrouços.