Não há manuais para construir cidades perfeitas. Mas conhecemos algumas fórmulas que ajudam a chegar mais perto desse ideal. Ontem, no lançamento da primeira pedra do novo campus da Nova School of Business and Economics, em Carcavelos, pela mão do Presidente da República, foi dado um sinal ao país sobre qual pode ser o modelo do futuro para as autarquias que querem ser competitivas no contexto da globalização. Esqueça a luta pelo capital ou pelos recursos: a grande batalha das cidades é pelo talento. Quem conseguir captar, fixar e de-senvolver conhecimento, competências e criatividade, na promoção de um ambiente de talento, estará muito mais próximo de ser bem-sucedido.
É isso que está em causa com a instalação da Nova SBE em Cascais. Um campus que alia um ensino de excelência a um estilo e uma qualidade de vida únicos, numa fusão sem paralelo nos programas universitários conhecidos na Europa. Um projeto de importância excecional não apenas para o concelho que tenho o privilégio de dirigir, mas também para Portugal.
Para quem não está familiarizado com a dimensão atual da Nova SBE, aqui fica um resumo com números impressionantes: com uma dezena de programas académicos, a Nova SBE entrou na elite das escolas de negócios internacionais, ocupando o 17.o lugar no mais recente ranking do “Financial Times”. No campus projetado para Carcavelos, num investimento superior a 50 milhões de euros que nasceu da filantropia de grandes empresas e particulares – uma novidade que se saúda em Portugal e que, assim se espera, talvez possa fazer o seu caminho –, a faculdade espera atrair entre 5000 a 7500 alunos, a maioria dos quais estrangeiros.
Os impactos de curto e longo prazo são tremendos.
No imediato, o mais visível será a instalação do campus e tudo o que a cidade universitária de Carcavelos vai gerar: a dinâmica do setor da habitação, dos serviços, dos transportes. Enfim, de tudo o que é indispensável à vida em comunidade e que, perante um pulo demográfico desta ordem, será certamente gerador de postos de trabalho.
No longo prazo, e sabendo-se que um projeto desta magnitude pode representar até 10% do PIB local, os efeitos serão mais difíceis de medir. Há, porém, algumas coisas que sabemos: (1) que este projeto será um acelerador da regeneração urbana de toda a região envolvente; (2) que a chegada de milhares de jovens será indutora da alteração da pirâmide demográfica do concelho, garantindo a sustentabilidade do nosso Estado social local; (3) que o ecossistema de conhecimento e empreendedorismo que ali nascerá, em parceria com grandes empresas, está ao serviço de uma nova economia que vai criar empregos que antes não existiam, ou mudar a natureza dos já existentes; (4) que a fixação do talento será correspondida pela fixação de empresas que ambicionam os melhores quadros para vencer a concorrência através da inovação e da gestão; (5) que Cascais se transformará num laboratório de novas políticas públicas que podem apontar novas soluções ao país; (6) a rede constituída por alunos e ex-alunos fará mais por Cascais e pelo país do que todos os programas turísticos promocionais que já tivemos.
E por falar em país, partindo de uma análise local para a global, a Nova SBE será a face de um Portugal moderno. De um país que entrou na elite do conhecimento e que faz do ensino superior um dos principais produtos de exportação. Já hoje, este setor vale 1400 milhões de euros, duas vezes o setor vitivinícola, números que dizem bem do valor que temos e do potencial que podemos ainda atingir enquanto país.
Como são hoje as cidades a pilotar os maiores processos de desenvolvimento – aliás, é isso que mostra o processo de instalação da Nova SBE, do qual a Câmara de Cascais é a única entidade pública diretamente financiadora –, estamos a fazer a nossa parte para atingir uma meta ambiciosa: ter 20 mil estudantes universitários instalados no concelho até 2020. Impossível? Não. Ambicioso? Sim.
Mas se Cascais foi, ao longo dos últimos cinco anos, capaz de se consolidar como segundo principal destino da AML acolhendo 25% dos turistas, acreditamos que, com um trabalho sério e com uma estratégia competente, atingiremos a meta dos 20 mil estudantes universitários em 2020, 25% do total atual da AML.
Como é que as cidades portuguesas podem puxar pela economia nacional? Como podem ser competitivas globalmente? Como podem atrair para as suas fronteiras cidadãos de todo o mundo?
Ontem começámos a dar a resposta a estas questões, lançando a primeira pedra da cidade do conhecimento, da cidade do futuro.
Escreve à quarta-feira